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HistóriaAlemanha

Martinho Lutero, o monge que revolucionou o mundo

Klaus Krämer
31 de outubro de 2016

Com a publicação de suas 95 teses em 31 de outubro de 1517, o teólogo desencadeou a Reforma Protestante. Em busca de um Deus misericordioso, Lutero estudou a Bíblia e estabeleceu uma nova visão teológica.

Lutero e suas teses, em pintura de Ferdinand Pauwels, de 1872
Lutero e suas teses, em pintura de Ferdinand Pauwels, de 1872Foto: picture-alliance/akg-images

Martinho Lutero queria apenas discutir os problemas na Igreja Católica, mas o que aconteceu na cidade alemã de Wittenberg em 31 de outubro de 1517 mudaria para sempre a Alemanha, a Europa e o mundo cristão. Para entender a agitação que Lutero desencadeou com suas 95 teses, é preciso voltar à época em que ele viveu.

No final da Idade Média e início da Idade Moderna, a fé cristã era dominada pelo monopólio da Igreja Católica. O dogma e as regras da Igreja ditavam a vida das pessoas, e Deus era visto como uma figura julgadora e rigorosa, que nunca deixava um erro impune.

Acontecimentos que não conseguiam ser explicados – como tragédias pessoais, colheitas ruins ou mesmo guerras e crises – eram vistos como consequências de pactos com o diabo. Aqueles que supostamente teriam feito tais acordos costumavam ser queimados na fogueira.

O raio determinante

Lutero nasceu na cidade alemã de Eisleben, em 1483, como filho de um mineiro. Em 1501, ele começou seus estudos na Universidade de Erfurt. Quatro anos mais tarde, ele completou um mestrado e, em seguida, começou a estudar Direito.

A casa onde Lutero nasceu, em Eisleben, na AlemanhaFoto: picture-alliance/dpa/P. Endig

Então, um acontecimento mudou a vida de Lutero: em 2 de julho de 1505, durante uma grande tempestade, ele foi atingido por um raio. Diante da perspectiva da morte, ele temia ter que, despreparado, ficar diante de Deus. Então, ele clamou à Santa Ana, a padroeira dos mineiros, e prometeu se tornar um monge caso sobrevivesse.

Doze dias depois, Lutero bateu à porta do Mosteiro dos Agostinianos Eremitas, em Erfurt, e pediu para ser aceito na ordem.

Os primeiros anos como monge

Movido pela busca por um Deus misericordioso e pelo medo de não ter vida após a morte, Lutero viu uma oportunidade de ter uma existência plena no mosteiro. 

Desde o início, o jovem monge era visivelmente obediente. Ele orava até seis horas por dia, jejuava e praticava autorreflexão, mortificação e confissão. Mais tarde, Lutero disse: "Se alguma vez alguém conseguiu entrar no céu por ser um monge, eu quis fazer isso também."

Depois de 20 meses no mosteiro, Lutero foi ordenado sacerdote em 1507. O ensino teológico estava no centro de seus estudos, e ele se dedicou a ele com zelo.

Venda de indulgências

Em 1510, Lutero foi enviado a Roma pela ordem agostiniana para tratar de negócios – uma viagem que marcou a sua vida. A Cúria enfrentava graves problemas financeiros devido à custosa construção da Basílica de São Pedro.

Lutero viveu e estudou no Mosteiro dos Agostinianos Eremitas, em Erfurt, de 1505 a 1511Foto: picture-alliance/dpa/M. Schutt

Para arrecadar dinheiro, os líderes da Igreja introduziram a prática da venda de indulgências, alegando que as pessoas poderiam alcançar o perdão por seus pecados fazendo boas ações ou pagando à Igreja.

Os valores foram estabelecidos de acordo com a renda dos fiéis, e mesmo aqueles que já haviam morrido poderiam supostamente ser resgatados do purgatório se seus parentes desembolsassem algumas moedas. Não demoraria muito para que Lutero lançasse uma visão crítica sobre a prática que havia testemunhado.

A busca pela aceitação de Deus

Em 1512, Lutero – já muito respeitado por seus colegas e superiores – concluiu um doutorado em Teologia e se tornou professor na Universidade de Wittenberg.

No entanto, ele ainda buscava um Deus misericordioso e continuou a se perguntar: o que devo fazer para ser aprovado por Deus? Nenhum dos rituais ou regras da Igreja foi capaz de responder a essa pergunta.

Lutero continuou a ler fervorosamente a Bíblia e ficou particularmente comovido com a carta do Apóstolo Paulo à antiga igreja romana, onde leu sobre a justificação pelo sangue de Jesus Cristo. O teólogo compreendeu gradualmente o que se tornaria o núcleo da Reforma Luterana: Deus não é apenas um juiz justo e severo, mas também um pai que ama as pessoas que criou e enviou seu filho ao mundo para pagar o preço do pecado que o estava separando das pessoas.

Como Lutero descobriu na Bíblia, qualquer um que acredita em Deus e em seu filho Jesus Cristo recebe a dádiva da justificação perante o Todo-Poderoso. O monge finalmente encontrou a resposta para a sua pergunta.

Os quatro pilares da fé de Lutero

Por meio de seu estudo da Bíblia, Lutero desenvolveu quatro princípios teológicos fundamentais. O primeiro é a Sagrada Escritura. Ele viu a Bíblia como a única referência da verdade, enquanto a Igreja na época também se baseava em textos adicionais escritos pelo papa e pelo sínodo.

O segundo princípio é o de que a salvação só vem por meio da graça de Deus e não por boas ações. Essa crença tornava a venda de indulgências obsoleta.

Em terceiro lugar, Lutero concluiu que Jesus Cristo, através de sua morte na cruz, pagou a pena por todos os pecados e é a única ponte entre os homens e Deus.

E, finalmente, o quarto princípio: Lutero acreditava que as pessoas são salvas somente pela fé. "A vida cristã é inteiramente baseada na fé", afirmou. "Pela fé, Cristo vive em nós. Pela fé em Cristo, a justiça de Cristo se torna a nossa justiça, e o que é dele passa a ser nosso."

Essas crenças revolucionaram a relação entre os seres humanos e Deus. Percebendo que seriam aceitas por Deus somente graças à própria fé, as pessoas poderiam se aproximar dele diretamente, sem um sacerdote como intermediário.

Até hoje, as 95 teses estão perpetuadas em bronze na porta da igreja em WittenbergFoto: picture alliance/dpa

Consequentemente, a Igreja perdeu poder com os ensinamentos de Lutero, e as hierarquias dela começaram a ruir. Embora seu trabalho tenha sido revolucionário, Lutero acreditava que estava simplesmente restabelecendo princípios velhos e esquecidos, e não manifestando crenças novas e indesejáveis.

Como professor de Teologia, Lutero transmitiu sua visão teológica a seus estudantes e a pregou em missas. No começo, ele passou despercebido. Mas ele estava determinado a corrigir a teologia não bíblica da Igreja e iniciar um retorno à origem da fé cristã. Acima de tudo, ele queria colocar fim à venda de indulgências, que se tornara uma prática comum na Alemanha.

As 95 teses de Lutero

Em outubro de 1517, Lutero organizou um debate sobre a prática de vender indulgências. Ninguém compareceu, e, então, ele resolveu enviar suas teses diretamente a Alberto de Brandenburgo, arcebispo de Mainz.

Ao mesmo tempo, ele fixou as 95 teses no portão da igreja de Todos os Santos em Wittenberg, que serviu como uma espécie de outdoor na época. O movimento desencadeou um debate que abalou os alicerces da Igreja. Com a ajuda de uma imprensa ainda relativamente nova, Lutero foi capaz de espalhar sua mensagem de forma rápida.

Em 2017, o dia 31 de outubro marcará o 500º aniversário da Reforma Protestante. A partir desta segunda-feira (31/10), uma série de eventos e exposições lembrará o ato revolucionário e o nascimento do protestantismo.

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