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Maternidade aos 50: riscos e tratamentos

5 de janeiro de 2017

Cada vez mais mulheres acima dos 50 anos de idade optam por fertilização. Diabetes e hipertensão estão entre os principais riscos da gravidez tardia, mas podem ser controlados com tratamento adequado.

Mulher grávida
Gravidez tardia tem sido uma tendência mundial, mas probabilidade de ser espontânea acima dos 50 anos é muito baixaFoto: Imago/ZumaPress

Uma gravidez aos 50 anos deixou de ser notícia improvável, ainda que a gestação tardia tenha riscos maiores para a mulher. O Conselho Federal de Medicina (CFM) recomenda a gestação, com reprodução assistida, até os 50 anos. Apenas em 2015 o Conselho aprovou uma resolução (2.121/2015) que dá autonomia à mulher, acima dessa idade, para se submeter a tratamentos de fertilização desde que ela assuma os riscos juntamente com seu médico.

Pelas regras anteriores, a mulher que quisesse utilizar métodos de fertilização precisaria obter a autorização do Conselho, o que hoje não é mais necessário. O Congresso Nacional nunca aprovou uma legislação que regulamente as técnicas de reprodução assistida no país. A mesma resolução do CFM determina que a idade máxima para doação de óvulos é de 35 anos, e de espermatozoides, de 50 anos.

Estudos médicos mostram que a fertilização natural após os 40 anos é rara, mas não impossível. "Ainda que as mulheres hoje estejam cada vez mais saudáveis e cuidando melhor de si mesmas, a melhoria da saúde na vida adulta não contraria o declínio natural da fertilidade relacionado com a idade. É importante compreender que a fertilidade diminui à medida que a mulher envelhece devido à redução regular do número de ovos que permanecem nos seus ovários", esclarece a Sociedade Americana de Medicina Reprodutiva.

Segundo a obstetra e ginecologista Tania Schupp Machado*, especialista em gravidez tardia, "a chance de uma mulher de 40 anos engravidar espontaneamente em um ciclo menstrual é de 8%, enquanto que em uma jovem de 25 anos é 25%". Acima dos 50 anos, a gravidez espontânea é raríssima, pontua a médica, que já acompanhou uma paciente que engravidou naturalmente aos 56 anos.

No caso de uma gestação espontânea após os 40 anos, o principal problema é a qualidade dos óvulos da mulher. "O que não conseguimos controlar é a maior incidência de alterações cromossômicas fetais, tipo síndrome de Down (trissomia do cromossomo 21), que com 40 anos é de um caso para cada 100 gestantes. Com 45 anos, essa incidência é de um caso para cada 20 gestantes de mesma idade", explica Schupp.

Os outros principais riscos de uma gravidez tardia são a maior incidência de diabetes gestacional e a hipertensão. Essas doenças, porém, observa a obstetra, são de fácil diagnóstico durante o pré-natal. Com o tratamento adequado, a mãe e o bebê estarão saudáveis.

Chance de aborto

Quando uma mulher após 45 anos engravida com seus próprios óvulos, a chance de aborto natural aumenta em 80%, afirma Avelino Amaral, especialista em reprodução assistida e membro da Câmara Técnica de Reprodução Assistida do CFM. É por isso, segundo ele, que muitas mulheres optam pela fertilização in vitro. Nesse processo, o útero da mulher é preparado com o uso de hormônios naturais, geralmente por 12 semanas, mas os óvulos utilizados são de outra mulher, com idade inferior a 35 anos.

A cantora Janet Jackson teve seu primeiro filho aos 50 anosFoto: picture-alliance/AP/Invision/C. Pizzello

"A menstruação é a preparação do útero para a mulher engravidar. A mulher na menopausa perde essas condições", afirma Amaral. Ele descarta que, nesses casos, o uso de hormônios possa ter relação com a incidência de câncer de mama. "A gravidez tardia não está associada a maior incidência de cânceres. O câncer de mama é mais incidente em mulheres que nunca amamentaram", acrescenta Schupp.

Ainda que a mulher opte pela fertilização, observa Amaral, os riscos da gravidez em idade avançada serão os mesmos: prematuridade, bebê com baixo peso, diabetes gestacional e hipertensão. Os custos de um tratamento de fertilização podem oscilar de 15 mil reais a 25 mil reais.

De acordo com o médico Newton Busso, também especialista em reprodução assistida, "as chances de sucesso não dependem só da quantidade de óvulos, mas também da qualidade, que piora com a idade". A gestação em idade avançada, acrescenta ele, é sempre uma preocupação, o que exige avaliação médica prévia para identificação de prováveis fatores de risco à saúde da gestante e da criança.

Tendência mundial

Cada vez mais as mulheres optam por adiar a gravidez, tendência observada mundialmente. No Brasil, 31% das mulheres gestantes têm acima de 30 anos, segundo dados coletados pelo Ministério da Saúde em 2013. No início da década,  esse percentual era de apenas 22,5%.

O envelhecimento na estrutura etária das gestantes é um fenômeno acompanhado do aumento da expectativa de vida (75,4 anos) e da redução das taxas de fecundidade (1,75 filho por mulher), de acordo com o último levantamento populacional feito pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

No Canadá, estatísticas oficiais do governo divulgadas em 2016 apontavam que, pela primeira vez em décadas, o nascimento de crianças em partos com mulheres acima de 40 anos (3,5% do total de nascimentos no país) superou os partos de mulheres abaixo dos 20 anos de idade (3,1% dos partos). Em 1993, 60% dos nascimentos no Canadá eram de crianças com mães até 30 anos. Esse percentual caiu para  45,6% duas décadas depois.

As alemãs, por outro lado, preferem cada vez mais uma vida sem filhos. Estatísticas governamentais de 2012 revelaram que uma em cada cinco mulheres alemãs entre 40 e 44 nunca deu à luz.  

Às mulheres que pretendem adiar a gestação para dar prioridade à carreira ou aos estudos, Schupp dá um conselho: "Procure seu ginecologista ou um especialista em reprodução humana para ver como está sua saúde e avaliar se é aconselhável deixar seus óvulos congelados para o momento em que quiser engravidar."

*Tania Schupp Machado – CRM 81750

 

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