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May diz que Brexit chegou a impasse e exige respeito da UE

21 de setembro de 2018

Primeira-ministra cobra contrapropostas depois de seu plano para saída do Reino Unido da UE ter sido rejeitado pelos parceiros europeus. Imprensa britânica fala em humilhação na cúpula de Salzburgo.

Theresa May
May: "Não é aceitável simplesmente rejeitar as propostas do outro lado sem uma explicação detalhada"Foto: Getty Images/J. Taylor

A primeira-ministra britânica, Theresa May, afirmou nesta sexta-feira (21/09) que as negociações para a saída do Reino Unido da União Europeia (UE) estão num impasse e disse que os europeus deveriam apresentar propostas alternativas depois de descartar as que ela levou à cúpula realizada em Salzburgo nesta quarta e quinta-feiras.

"Não é aceitável simplesmente rejeitar as propostas do outro lado sem uma explicação detalhada e sem contrapropostas", afirmou a premiê, num discurso transmitido pela televisão. "Eu não vou reverter o resultado do referendo nem quebrar meu país", disse, em tom desafiador. Ela acrescentou que a UE deve tratar o Reino Unido "com respeito" durante as negociações.

May afirmou que as duas propostas feitas pela União Europeia – uma implicaria a permanência na união aduaneira e outra seria um acordo de comércio livre padrão, que consideraria a Irlanda do Norte como parte do mercado comum europeu – são inaceitáveis, pois a primeira "ridiculariza" a ideia central do Brexit e a segunda separa economicamente a Irlanda do Norte das demais regiões do Reino Unido.

A primeira, argumentou, significaria que o Reino Unido teria de cumprir "todas as regras da UE, a imigração descontrolada da UE continuaria" e Londres não poderia fazer acordos comerciais com outros países. "Isso seria ridicularizar o referendo que tivemos há dois anos", disse. 

A segunda opção implicaria não só controles alfandegários na fronteira entre as duas Irlandas, como também entre a Irlanda do Norte e a Grã-Bretanha, o que ela considera inaceitável. "Qualquer coisa que não respeite o referendo ou que efetivamente divida o nosso país em dois seria um mau acordo, e eu sempre disse que nenhum acordo é melhor que um mau acordo", afirmou.

A premiê disse que não aceitará qualquer proposta que trate a Irlanda do Norte de forma diferenciada e acrescentou que nenhum primeiro-ministro britânico jamais aceitará isso. "Se a UE acredita no contrário, eles estão cometendo um erro fundamental."

A imprensa britânica qualificou de humilhação a rejeição da estratégia de May para o Brexit, durante a cúpula da União Europeia em Salzburgo, na Áustria. Os demais líderes da UE afirmaram que vão renovar os esforços para tentar chegar a um acordo em outubro, mas alertaram que se não houver concessões em questões envolvendo o comércio bilateral e a fronteira com a Irlanda, já estariam preparados para lidar com um no deal com os britânicos.

O presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, afirmou categoricamente, ao rejeitar o plano britânico, que algumas partes da estratégia de May – conhecida como o plano Chequers – simplesmente não vão funcionar. O presidente francês, Emmanuel Macron, chegou a chamar os políticos pró-Brexit de mentirosos que ludibriaram a população do país sobre as consequências de deixar a UE.

May, porém, afirmou que seu plano é a única alternativa na mesa de negociações e disse que seu país se prepara para abandonar a UE sem um acordo caso Chequers não seja aprovado.

Os impasses frustraram as esperanças britânicas de obter avanços nas negociações com os parceiros europeus, a apenas seis meses do fim do prazo para a saída do país do bloco, no dia 29 de março.

O plano Chequers – que recebeu o nome da residência de May no interior do Reino Unido, onde a estratégia foi forjada, em julho – tem como objetivo manter o país no mercado comum de bens, mas não no de serviços, de modo a garantir o livre comércio com a União Europa e a abertura da fronteira entre a Irlanda do Norte, que integra o Reino Unido, e a República da Irlanda, país-membro da UE.

Com a saída do Reino Unido, a fronteira entre as Irlandas passaria a ser um dos limites entre o país e a UE. Londres e Bruxelas querem evitar uma estrutura física de fronteiras, a chamada "fronteira rígida", mas discordam sobre a forma como isso deverá ocorrer. Em Salzburgo, May disse que seu país deverá apresentar em breve novas propostas sobre como controlar a circulação de bens entre os dois lados.

"Não estamos em guerra com o Reino Unido", disse o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, em entrevista ao jornal austríaco Die Presse. "Temos de ser cuidadosos, como dois porcos-espinhos que se amam", afirmou. "Quando dois porcos-espinhos se abraçam, tem de cuidar para que ninguém saia arranhado." Ele disse que a situação envolvendo a fronteira entre as Irlandas é muito difícil, mas que há avanços em ambos os lados.

"Está claro que não se pode sair da UE e ao mesmo tempo manter os privilégios do mercado comum. Brexit significa Brexit", afirmou Juncker, citando a frase proferida por May ao assumir o governo britânico, pouco depois do referendo que resultou na saída do país do bloco europeu.

As autoridades europeias, que desde o início demonstraram ceticismo quanto à estratégica britânica, afirmam que o governo britânico não pode escolher, dentro de seus próprios critérios, quais elementos da parceria com a UE deseja manter sem aceitar os devidos custos e responsabilidades.

Mesmo assim, os diplomatas e políticos britânicos se surpreenderam com a rejeição de Tusk e alertaram que não haverá acordo a não ser que a UE suavize suas posições na questão da fronteira entre as Irlandas.

"No momento, o que a UE pede em relação à Irlanda do Norte é simplesmente impossível para qualquer governo britânico", afirmou o ministro britânico dos Transportes, Chris Grayling. "Estão falando grosso, mas no final chegaremos a um acerto. Estou confiante que atingiremos um acordo", afirmou.

A imprensa britânica destacou o fracasso de May em Salzburgo, com os jornais The Guardian e The Times dizendo que foi uma humilhação para a chefe de governo. "Seu Brexit está quebrado", afirmou em manchete o Daily Mirror. Já o tabloide The Sun, que apoia o Brexit, alardeou que os "gangsteres da UE fizeram uma emboscada para May".

O plano Chequers também enfrenta forte oposição de figuras pró-Brexit dentro do próprio Partido Conservador, como o ex-ministro do Exterior Boris Johnson.

Os dissidentes planejam pressionar a primeira-ministra durante a convenção do partido no final de setembro para abandonar sua estratégia, ou então enfrentar questionamentos à sua liderança, o que ameaçaria sua permanência no cargo.

O plano também não agrada os políticos britânicos pró-UE, que são contra a retirada do vasto setor de serviços do país do mercado único.

RC/ap/rtr/afp/lusa

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