Antes de encontro com Trump, premiê britânica reconhece necessidade de trabalhar junto à Rússia, mas diz que aproximação deve ser feita com cuidado. Líder destaca responsabilidade americana no cenário internacional.
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A primeira-ministra do Reino Unido, Theresa May, classificou nesta quinta-feira (26/01) o novo presidente dos EUA, Donald Trump, de amigo e aliado, mas o alertou para que não vire as costas para instituições globais e valores políticos de longa data. Ela também pediu cautela em relação ao presidente russo, Vladimir Putin.
Em sua primeira visita aos Estados Unidos como premiê, May disse que o início do mandato de Trump é uma "nova era de renovação americana". Ela voou para a Filadélfia um dia antes de se reunir com Trump na Casa Branca. Este será o primeiro encontro do presidente americano com um líder estrangeiro desde que assumiu o cargo, na última sexta-feira.
A primeira-ministra britânica reconheceu a necessidade de se trabalhar junto à Rússia para encerrar a guerra na Síria, mas afirmou que a aproximação entre o Ocidente e o presidente russo, Vladimir Putin, deve ser "engajada, mas cautelosa", recebendo aplausos de legisladores republicanos.
May também falou sobre a "influência maligna" do Irã, mas elogiou o acordo internacional que limitou o programa nuclear do país. Ela reconheceu os temores em relação à ascensão da China, afirmando, porém, que o crescimento de economias asiáticas é "enormemente bem-vindo". O medo de um "eclipse do Ocidente" não vai se materializar se os EUA e o Reino Unido se unirem, disse.
"Liderar juntos"
Ao discursar para legisladores do Partido Republicano, May reiterou que os EUA e o Reino Unido têm uma "relação especial". Ela afirmou que com a saída dos britânicos da União Europeia (UE), ambos os países podem "liderar juntos novamente" no mundo, assim como fizeram ao estabelecer a ONU, a Otan e outras organizações internacionais.
Apesar de reconhecer a necessidade de reformas nessas instituições, criticadas por Trump, May afirmou que elas são vitais para encorajar a cooperação em relação a ameaças globais, como o terrorismo e as mudanças climáticas.
"Nós, nossos dois países juntos, temos uma responsabilidade conjunta de liderar. Porque quando alguns avançam no momento em que recuamos, isso é ruim para os EUA, para o Reino Unido e para o mundo", declarou.
May deve aproveitar a visita aos Estados Unidos para dar início a negociações sobre um acordo de livre-comércio entre os dois países, de olho no período pós-Brexit. A saída da UE deve significar que o Reino Unido também abrirá mão do mercado comum europeu e de seus 500 milhões de consumidores.
A premiê britânica elogiou ainda a dedicação de Trump à luta contra o extremismo islâmico, mas rejeitou a proposta do presidente de banir imigrantes muçulmanos, classificando a ideia de "divisiva, estúpida e equivocada". "Deveríamos sempre ser cautelosos para distinguir entre essa ideologia extrema e repleta de ódio e a pacífica religião do islã", disse.
Durante o voo rumo aos EUA, May também condenou o uso de tortura, defendida na véspera por Trump para combater o terrorismo.
LPF/ap/afp/efe
Qual o poder do presidente dos EUA?
Chefe de governo e de Estado da maior potência econômica e militar do planeta é frequentemente considerado a pessoa mais poderosa do mundo, mas nem por isso seu poder é ilimitado.
Foto: Klaus Aßmann
Assim diz a Constituição
O presidente é eleito por quatro anos e pode ser reeleito apenas uma vez. Ele é chefe de Estado e de governo. É tarefa dele fazer com que as leis aprovadas pelo Congresso sejam executadas. Cerca de 4 milhões de pessoas trabalham para o Poder Executivo. O presidente pode, como principal diplomata, receber embaixadores e, assim, reconhecer Estados.
Foto: Klaus Aßmann
Balanço entre os poderes
Cada um dos três poderes pode intervir no outro, o que limita de poder de todos. O presidente pode indultar pessoas e nomear juízes federais, mas apenas com a concordância do Senado. O presidente nomeia também, entre outros, seus ministros e embaixadores – se os senadores derem o aval. Esse é um dos meios que o Legislativo tem para controlar o Executivo.
Foto: Klaus Aßmann
Discurso sobre o Estado da União
O presidente tem que informar o Congresso sobre o destino do país, e ele faz isso em seu "discurso sobre o Estado da União". Apesar de não ter o poder de apresentar propostas de leis ao Congresso, ele pode expor suas prioridades no seu discurso. Assim, pode fazer pressão sobre o Congresso. Mas não mais do que isso.
Foto: Klaus Aßmann
Ele pode simplesmente dizer "não"
Se o presidente enviar de volta ao Congresso um projeto de lei sem sua assinatura, significa que ele usou seu poder de veto. E esse veto somente poderá ser revogado por uma maioria de dois terços nas duas câmaras. De acordo com o Senado, dos cerca de 1.500 vetos na história dos EUA, somente 111 foram derrubados.
Foto: Klaus Aßmann
Zona nebulosa na definição de poder
A Constituição e decisões da Suprema Corte não deixam bem claro quanto poder o presidente tem de fato. Uma brecha permite um segundo tipo de veto, o chamado "pocket veto". Sob certas circunstâncias, o presidente pode colocar uma proposta legislativa "no seu bolso", ou seja, ela não vale. O Congresso não pode derrubar esse veto. Essa manobra foi usada mais de mil vezes.
Foto: Klaus Aßmann
Decretos que são válidos como leis
O presidente pode determinar como os funcionários do governo cumprirão seus deveres. Esses decretos presidenciais têm força de lei e não necessitam de aprovação parlamentar. Ainda assim, o presidente não pode fazer o que bem entender. A Justiça pode declarar um decreto inválido, ou o Congresso pode aprovar uma lei contrária. E, ainda, o próximo presidente pode simplesmente revogar um decreto.
Foto: Klaus Aßmann
Contornar o Congresso
O presidente pode negociar acordos com outros governos, mas o Senado deve aprová-los com uma maioria de dois terços. Para contornar isso, em vez de tratados, os presidentes podem fazer uso de "acordos executivos", que não precisam ser aprovados pelo Congresso. Eles são válidos enquanto o Congresso não vetá-los ou aprovar legislação que torne o acordo inválido.
Foto: Klaus Aßmann
Comandante em chefe
O presidente é o comandante em chefe das tropas, mas é o Congresso que tem o poder de declarar guerra. Não está claro, porém, se um presidente pode enviar tropas para uma região em conflito. Na Guerra do Vietnã, o Congresso entendeu que um limite havia sido ultrapassado e interveio por lei. Ou seja, o presidente só pode assumir competências enquanto o Congresso não agir.
Foto: Klaus Aßmann
Impeachment
Se um presidente abusar do poder do cargo ou cometer um crime, a Câmara dos Representantes pode iniciar um processo de impeachment. Mas há um instrumento muito mais poderoso para parar qualquer iniciativa presidencial: o Congresso tem a competência de aprovar o orçamento e pode simplesmente fechar a torneira de dinheiro do presidente.