Patinadora olímpica apelou diretamente ao chefe do COI, Thomas Bach, para manter os atletas russos fora das Olimpíadas. À DW, Oksana Baiul-Farina explica sua decisão.
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"Caro Thomas", começa a patinadora olímpica ucraniana Oksana Baiul-Farina em um vídeo direcionado ao presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI), Thomas Bach. Na postagem feita em sua própria conta no Instagram, a medalhista fala olhando diretamente para a câmera.
"Nós, ucranianos, não a começamos", diz Baiul-Farina, balançando a cabeça num sinal de negativa.
"É por isso que não queremos que atletas neutros, atletas da Rússia, participem dos Jogos Olímpicos de 2024."
O peso da medalha de ouro
Para gravar seu apelo a Bach, Baiul-Farina vestiu a jaqueta azul e amarela da equipe olímpica ucraniana de 1994, ano de seu triunfo nas Olimpíadas realizadas em Lillehammer, na Noruega.
Baiul-Farina tinha 16 anos na época. Sua mãe havia morrido três anos antes, o que significa que, como menor de idade, ela suportou praticamente sozinha todas as pressões do mundo das competições de elite internacionais. E isso pouco depois de a Ucrânia conquistar a independência da União Soviética em 1991, com um comitê olímpico, portanto, recém em sua infância.
Hoje ela é considerada a "Rainha Oksana" por muitos, a maior patinadora artística da Ucrânia e uma das melhores atletas de todos os tempos.
"Minha medalha de ouro pesa tanto hoje", disse ela à DW. "Toda vez que falo sobre a Ucrânia, especialmente agora, meu marido me pede para ser forte para poder falar pelo povo. A verdade é que agora ele está sofrendo."
Baiul-Farina, que atualmente reside nos Estados Unidos, viu seu país natal sofrer milhares de ataques de mísseis russos, matando dezenas de milhares e fazendo com que milhões fugissem de suas casas.
"Então quando penso na medalha, prometi a mim mesma que não vou chorar. Vou ser forte e falar sobre como me sinto", disse ela. "O povo ucraniano pode sentir vontade de desistir, mas não deve. Ele precisa continuar lutando."
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COI mudou diretriz adotada logo após invasão russa
Como ex-campeã olímpica e alguém que conquistou corações de todas as idades com sua performance na juventude, Baiul-Farina sabe que suas palavras carregam peso. Mas ela admite que tentar mudar agora a opinião do presidente do COI, Thomas Bach, é um tiro no escuro.
No mês passado, Bach e o Conselho Executivo do Comitê Olímpico Internacional votaram para recomendar às federações esportivas individuais que permitam um retorno gradual de atletas russos e belorrussos como neutros à competição internacional. O próprio Bach disse que a participação de atletas russos e belorrussos em tais competições "funciona", apesar da invasão russa.
Trata-se de uma reviravolta em relação à recomendação do COI feita logo após a invasão russa, quando esses atletas passaram a ser banidos. Na época, a maioria das federações esportivas seguiram a recomendação, da mesma forma que muitas estão agora se alinhando com a nova diretriz. Bach e o COI já manifestaram a intenção de tomar uma decisão sobre a participação de atletas especificamente para as Olimpíadas de Paris de 2024 em um momento posterior.
"Se eu fosse Thomas Bach, esperaria até o fim da guerra, porque é muito cedo para dizer a todos que eles podem decidir por si mesmos", disse Baiul-Farina. "Se o que ele disse está certo e todos [todas as federações esportivas] podem decidir por si mesmos, então por que precisamos de Thomas?"
Patinação
Baiul-Farina mantém contato com a Federação Ucraniana de Patinação Artística e se ofereceu para ajudar a trazer patinadores para treinar nos Estados Unidos. Todos disseram, porém, que decidiram ficar para treinar em rinques de patinação na Ucrânia, ainda que suas rotinas sejam ocasionalmente interrompidas por sirenes de ataque aéreo.
Num exercício de imaginação, ela pensa em como seria competir num evento que aceita a participação dos russos enquanto seu país está em guerra.
"Digo, imagina ficar no mesmo vestiário? Oh, meu Deus, eu não consigo."
Grandes medalhistas olímpicos
Alguns já morreram, outros não competem mais. As modalidades dos atletas de maior sucesso nos Jogos Olímpicos são natação e hipismo.
Foto: dapd
Michael Phelps
Ele é o maior: não só por sua altura (1,92 m), mas também pelas medalhas olímpicas conquistadas. Em quatroOlimpíadas, o nadador americano ganhou 28 medalhas, sendo 23 delas de ouro. Em 2012, ele havia encerrado a carreira, mas não aguentou e voltou a competir dois anos depois. No Rio, garantiu cinco ouros e uma prata.
Foto: Getty Images/T. Pennington
Larissa Latynina
Seu sonho era se tornar bailarina, mas por sorte ela mudou de ideia, já que o balé não é disciplina olímpica. Entre 1956 e 1964, a então ginasta soviética subiu 18 vezes ao pódio, para receber nove medalhas de ouro. Depois de encerrar a carreira como atleta, ela se dedicou ao treinamento das equipes de ginástica olímpica da então União Soviética.
Foto: Imago
Paavo Nurmi
De 1920 a 1928, o finlandês conquistou 12 medalhas olímpicas, das quais nove de ouro. Nurmi estabeleceu 24 recordes mundiais, dos 1.500 metros até a corrida de uma hora. Em 1931, ele fez propaganda para o medicamento Rejuven, que hoje seria considerado anabolizante. Em 1932, ele recebeu uma proibição vitalícia de competir, sob a acusação de lesar as regulamentações de amadorismo.
Foto: picture-alliance/Imagno/Austrian Archives
Mark Spitz
Nos Jogos de 1972, em Munique, o nadador americano ganhou sete medalhas de ouro. Na Olimpíada anterior, no México, ele havia conquistado prata e bronze. Aos 22 anos de idade, ele encerrou a carreira para comercializar sua popularidade. Em 1992, aos 41 anos, ele tentou se qualificar para os Jogos de Barcelona, mas fracassou.
Foto: Imago
Carl Lewis
O americano dominou o salto em distância e os 100 metros rasos nas décadas de 1980 e 1990. Em 1999, ele inclusive foi eleito "atleta do século". Com nove medalhas de ouro e uma de prata, ele é um dos atletas mais bem sucedidos da história olímpica. Em 2003, Lewis admitiu ter usado substâncias proibidas durante a carreira no atletismo.
Foto: picture-alliance/dpa/S.Simon
Birgit Fischer
A canoísta é a alemã mais bem sucedida em Olimpíadas. Ainda nos tempos da Alemanha Oriental e mais tarde pela Ocidental, ela conquistou 12 medalhas (oito de ouro e quatro de prata). Ela participou de seis Jogos, sendo que em 1984 não pôde ir a Los Angeles por causa do boicote da Europa Oriental. Sua supremacia por tanto tempo lhe valeu um registro no livro Guinnes de recordes.
Foto: picture-alliance/dpa/S.Simon
Reiner Klimke
O cavaleiro Reiner Klimke é o segundo maior medalhista olímpico alemão. Nos Jogos de 1964 a 1988, ele conquistou seis medalhas de ouro e duas de bronze no adestramento. Klimke fez doutorado em Direito e foi um dos poucos atletas alemães ativos na política. Até hoje, é um dos mais bem sucedidos atletas olímpicos em sua modalidade.
Foto: picture-alliance/dpa
Kristin Otto
A nadadora participou apenas uma vez de Jogos Olímpicos, em 1988 em Seul, quando arrebarou nada menos que seis medalhas de ouro para a então Alemanha Oriental. Em 1999 e 2000, a equipe de natação alemã-oriental e seu treinador foram condenados por prática de doping anos a fio. Kristin, hoje jornalista esportiva, afirma que durante sua carreira nunca soube que era vítima de doping sistemático.
Foto: picture-alliance/dpa/L.Perenyi
Isabell Werth
Em Tóquio, a alemã participou pela sexta vez de uma Olimpíada. Ela coleciona sete medalhas olímpicas de ouro e quatro de prata. Em 2009, uma substância proibida encontrada em seu cavalo lhe valeu uma suspensão de seis meses. Em 2013, novas acusações de doping contra ela não foram comprovadas.
Foto: picture-alliance/dpa/F. Gentsch
Torben Grael e Robert Scheidt
Eles são os brasileiros com o maior número de medalhas olímpicas (cinco cada). Grael conquistou ouro em Atenas (2004) e em Atlanta (1996), bronze em Seul (1988) e em Sydney (2000) e prata em Los Angeles (1984). Já Scheidt (na foto) ganhou ouro em Atlanta (1996) e em Atenas (2004), prata em Sidney (2000) e em Pequim (2008) e bronze em Londres (2012).