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EsporteUcrânia

Medalhista ucraniana quer veto a russos nos Jogos de 2024

20 de abril de 2023

Patinadora olímpica apelou diretamente ao chefe do COI, Thomas Bach, para manter os atletas russos fora das Olimpíadas. À DW, Oksana Baiul-Farina explica sua decisão.

A patinadora  olímpica ucraniana Oksana Baiul no pódio dos Jogos de 1994, em Lillehammer, na Noruega, após receber medalha de ouro.
Aos 16 anos, Oksana Baiul se tornou a primeira campeã olímpica de uma Ucrânia independente nos Jogos de 1994 em Lillehammer, na NoruegaFoto: Bildbyran/IMAGO

"Caro Thomas", começa a patinadora olímpica ucraniana Oksana Baiul-Farina em um vídeo direcionado ao presidente do Comitê Olímpico Internacional (COI), Thomas Bach. Na postagem feita em sua própria conta no Instagram, a medalhista fala olhando diretamente para a câmera.

"Agora há uma guerra generalizada acontecendo na Ucrânia," continua, falando sempre devagar, quase que num sussurro.

"Nós, ucranianos, não a começamos", diz Baiul-Farina, balançando a cabeça num sinal de negativa.

"É por isso que não queremos que atletas neutros, atletas da Rússia, participem dos Jogos Olímpicos de 2024."

O peso da medalha de ouro

Para gravar seu apelo a Bach, Baiul-Farina vestiu a jaqueta azul e amarela da equipe olímpica ucraniana de 1994, ano de seu triunfo nas Olimpíadas realizadas em Lillehammer, na Noruega.

Baiul-Farina tinha 16 anos na época. Sua mãe havia morrido três anos antes, o que significa que, como menor de idade, ela suportou praticamente sozinha todas as pressões do mundo das competições de elite internacionais. E isso pouco depois de a Ucrânia conquistar a independência da União Soviética em 1991, com um comitê olímpico, portanto, recém em sua infância.

Hoje ela é considerada a "Rainha Oksana" por muitos, a maior patinadora artística da Ucrânia e uma das melhores atletas de todos os tempos.

"Minha medalha de ouro pesa tanto hoje", disse ela à DW. "Toda vez que falo sobre a Ucrânia, especialmente agora, meu marido me pede para ser forte para poder falar pelo povo. A verdade é que agora ele está sofrendo."

Baiul-Farina, que atualmente reside nos Estados Unidos, viu seu país natal sofrer milhares de ataques de mísseis russos, matando dezenas de milhares e fazendo com que milhões fugissem de suas casas.

Sua cidade natal ucraniana, Dnipro, foi palco de inúmeros investidas, incluindo um ataque devastador a um prédio residencial em janeiro, que deixou pelo menos 45 mortos, seis deles crianças.

Moradores do Dnipro assistem enquanto equipes de resgate lutam para salvar vidas depois que um bloco de apartamentos foi atingido por um míssil russoFoto: Ukrinform/dpa/picture alliance

"Então quando penso na medalha, prometi a mim mesma que não vou chorar. Vou ser forte e falar sobre como me sinto", disse ela. "O povo ucraniano pode sentir vontade de desistir, mas não deve. Ele precisa continuar lutando."

COI mudou diretriz adotada logo após invasão russa

Como ex-campeã olímpica e alguém que conquistou corações de todas as idades com sua performance na juventude, Baiul-Farina sabe que suas palavras carregam peso. Mas ela admite que tentar mudar agora a opinião do presidente do COI, Thomas Bach, é um tiro no escuro.

No mês passado, Bach e o Conselho Executivo do Comitê Olímpico Internacional votaram para recomendar às federações esportivas individuais que permitam um retorno gradual de atletas russos e belorrussos como neutros à competição internacional. O próprio Bach disse que a participação de atletas russos e belorrussos em tais competições "funciona", apesar da invasão russa.

Trata-se de uma reviravolta em relação à recomendação do COI feita logo após a invasão russa, quando esses atletas passaram a ser banidos. Na época, a maioria das federações esportivas seguiram a recomendação, da mesma forma que muitas estão agora se alinhando com a nova diretriz. Bach e o COI já manifestaram a intenção de tomar uma decisão sobre a participação de atletas especificamente para as Olimpíadas de Paris de 2024 em um momento posterior.

A medalhista de ouro da patinação artística olímpica de 1994, Oksana Baiul-Farina, com sua filha, em um comício em Las Vegas pela paz na Ucrânia.Foto: Brett Forrest/ZUMA Wire/IMAGO

"Se eu fosse Thomas Bach, esperaria até o fim da guerra, porque é muito cedo para dizer a todos que eles podem decidir por si mesmos", disse Baiul-Farina. "Se o que ele disse está certo e todos [todas as federações esportivas] podem decidir por si mesmos, então por que precisamos de Thomas?"

Patinação

Baiul-Farina mantém contato com a Federação Ucraniana de Patinação Artística e se ofereceu para ajudar a trazer patinadores para treinar nos Estados Unidos. Todos disseram, porém, que decidiram ficar para treinar em rinques de patinação na Ucrânia, ainda que suas rotinas sejam ocasionalmente interrompidas por sirenes de ataque aéreo.

As recomendações do COI permitiriam que atletas russos, como a patinadora artística Kamila Valieva, competissem como "neutros" em eventos internacionais.Foto: Natalia Kolesnikova/AFP

Num exercício de imaginação, ela pensa em como seria competir num evento que aceita a participação dos russos enquanto seu país está em guerra.

"Digo, imagina ficar no mesmo vestiário? Oh, meu Deus, eu não consigo."

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