Megaleilão do pré-sal arrecada menos do que o previsto
6 de novembro de 2019
Petrobras arremata por 69,9 bilhões de reais duas das quatro áreas oferecidas, e o restante fica sem oferta. Governo esperava receber 106,5 bilhões de reais. Nenhuma grande petroleira estrangeira participou do certame.
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O aguardado megaleilão do pré-sal não cumpriu as expectativas do governo. Sem concorrência, o certame desta quarta-feira (06/11) acabou sendo dominado pela Petrobras, que arrematou pelo preço mínimo duas das quatro áreas oferecidas pelo governo federal. As outras não tiveram interessados. No final, a arrecadação foi de 69,9 bilhões de reais, abaixo da previsão inicial de 106,5 bilhões.
Nenhuma grande petroleira estrangeira participou ativamente da disputa, que acabou sendo dominada pela Petrobras. A estatal comprou duas áreas sem enfrentar concorrência.
Apesar de as expectativas não terem sido cumpridas, os 69,9 bilhões de reais ainda são o maior valor já arrecadado no mundo em um leilão do setor petrolífero, em termos de bônus de assinatura fixa (o valor que as empresas se comprometem a pagar à União pela exploração dos campos).
No leilão foram ofertados os campos de Búzios, Itapu, Atapu e Sépia. Um consórcio formado pela Petrobras e pelas chinesas CNODC Brasil e CNODC Petroleum arrematou Búzios, considerado o bloco mais atraente. A Petrobras respondeu por 90% da oferta pelo campo, que chegou a 68,19 bilhões de reais. As chinesas entraram com participação de 5% cada.
A petroleira brasileira ainda arrematou sozinha Itapu, por 1,76 bilhão de reais. Os campos restantes, que tinham bônus de assinatura de mais de 36 bilhões de reais, não receberam ofertas.
Nos leilões de pré-sal, o bônus de assinatura é fixo, e a disputa entre as empresas se dá pelo critério de oferta de petróleo ao governo durante a vigência dos contratos, o chamado lucro-óleo. No caso de Búzios, a porcentagem da oferta vencedora liderada pela Petrobras foi de 23,24%, e em Itapu, de 18,15% – nos dois casos, o lance mínimo.
Segundo o jornal Estado de S. Paulo, a ausência de grandes multinacionais na disputa foi encarada com surpresa pelo mercado e pelo governo. Das 14 empresas habilitadas a participar, apenas sete apareceram.
A falta de interessados em duas áreas acabou reduzindo pela metade valores que o governo se comprometeu a dividir com estados e municípios. Dos quase 70 bilhões de reais a serem divididos, 23 bilhões ficarão com a União. Estados terão que repartir 5,3 bilhões de reais, mesmo valor que será dividido entre municípios. O Rio de Janeiro, em cujo litoral estão localizadas as reservas, ficará com 1,1 bilhão de reais.
A maior fatia, 34,2 bilhões de reais, ficará com a própria Petrobras, como parte de um ressarcimento no âmbito de uma revisão do contrato de exploração da área. Originalmente, os blocos haviam sido cedidos pela União à Petrobras em 2010, em um regime chamado como cessão onerosa.
À época, a Petrobras recebeu o direito de explorar 5 bilhões de barris nas áreas, mas ao longo do tempo, ao explorar a região, a estatal percebeu que o reservatório de petróleo era maior do que o previsto inicialmente. Foi esse volume excedente, que pode chegar a 15 bilhões de barris, que foi a leilão nesta quarta-feira.
Após a divulgação do resultado, o presidente da Câmara Federal, Rodrigo Maia (DEM-RJ), disse que o leilão gerou "frustração". "É informação negativa sem dúvida nenhuma. A nossa expectativa era que o setor privado tivesse maior interesse. Agora vamos ver com os analistas do setor por que o setor privado fugiu do leilão", disse Maia.
Segundo especialistas ouvidos pela imprensa brasileira, o preço fixado pelo governo foi considerado alto demais pelas petroleiras estrangeiras por causa do bônus adicional exigido para ressarcir a Petrobras. Como os blocos oferecidos já haviam sido explorados pela estatal brasileira, as empresas teriam ainda de pagar a ela parte do investimento já realizado.
Oficialmente, o governo tentou minimizar a ausência de grandes empresas estrangeiras e disse que os resultados ficaram dentro do esperado. "Hoje foi um dia marcante, simbólico, de muito sucesso", disse o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque. Segundo Albuquerque, as duas áreas que ficaram sem interessados (Sépia e Atapu) serão oferecidas novamente em 2020.
Da euforia à crise: a trajetória do pré-sal em 16 manchetes
Os altos e baixos da exploração do pré-sal, uma das maiores riquezas naturais do Brasil, noticiados pela mídia. Da descoberta promissora ao enfranquecimento da Petrobras.
Foto: picture alliance/AP Photo
A descoberta do pré-sal
A confirmação de grandes reservas de petróleo na camada pré-sal, em 2007, foi motivo de euforia para o governo. A então ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, disse que o Brasil entraria para a elite do setor petrolífero, tornando-se exportador. No campo Tupi, localizado na Bacia de Santos, litoral fluminense, a Petrobras estimava um volume de até 8 bilhões de barris de óleo e gás natural.
Foto: Folha de S.Paulo
Projeção de lucros
“A Petrobras é a mãe da industrialização desse país”, disse o então presidente Lula, na primeira extração simbólica de petróleo da camada pré-sal em plataforma da Petrobras. Na época, Lula estimava um investimento de 2 trilhões de reais na economia até 2017.
Foto: UOL
Primeira plataforma de exploração
Em outubro de 2010, o então presidente Lula inaugura a primeira plataforma de exploração de petróleo da camada pré-sal no campo Tupi. O discurso do governo ainda era de euforia e de desenvolvimento da economia a partir daquela nova produção. “O Brasil jogou fora o século 20. O século 21 será inexorável”, afirmou Lula.
Foto: UOL
Lucro recorde na produção
No ano seguinte (2011), a Petrobras anunciou lucro líquido recorde na receita de 2010: mais de 35 bilhões de reais. O aumento e a diversificação da produção da petrolífera, impulsionada pelo pré-sal, geraram na época os resultados mais positivos dos últimos anos.
Foto: Portal G1
As cidades do pré-sal
A economia das cidades litorâneas da região onde a Petrobras investiu na exploração do pré-sal passou por um boom. Investimentos ligados ao setor do petróleo atraíram empreendimentos e geraram empregos. Na cidade de Santos, litoral paulista, o segmento imobiliário foi um dos beneficiados na época.
Foto: Portal G1
Royalties do petróleo
Após estabelecer em 2012 a divisão dos royalties do pré-sal entre os governos federal, estadual e municipal, a então presidente Dilma sancionou, em 2013, lei que destina 100% dos royalties obtidos pela Unão à educação (75%) e saúde (25%). A sanção ocorreu após as manifestações de junho daquele ano, quando brasileiros foram às ruas pedindo melhorias nos serviços públicos.
Foto: Estadão
Leilão do pré-sal abaixo das expectativas
Em outubro de 2013, acontece o primeiro leilão para a concessão de áreas para exploração de petróleo e gás natural no pré-sal sob o regime de partilha de produção, no qual a Petrobras teria participação mínima de 30%. O leilão teve apenas uma proposta sob o valor mínimo exigido pelo governo. Especialistas diziam que a Petrobras deveria assumir a exploração sozinha, para evitar perdas.
Foto: UOL
Ameaça aos investimentos no pré-sal
Em 2014, a crise internacional no setor petrolífero começou a afetar os investimentos que a Petrobras fazia na exploração do pré-sal. A queda do preço do barril de petróleo no mercado dificultou os lucros da companhia. Crise seria aprofundada meses depois.
Foto: Veja
Os royalties e a crise do petróleo
Devido à crise no setor do petróleo e à queda no preço do barril do óleo, a arrecadação do governo por meio dos royalties do pré-sal registrou uma baixa de 35% em abril de 2015. Estados e municípios também foram prejudicados com repasse abaixo do esperado.
Foto: Veja
Gigantes na exploração do pré-sal
Em meio à crise internacional e à crise institucional da Petrobras – devido às investigações da operação Lava Jato –, a Shell torna-se a maior sócia da exploração do pré-sal no Brasil.
Foto: Portal Terra
Corrupção afeta lucros da Petrobras
O balanço de 2014 da companhia apontou um rombo de 22 bilhões de reais devido aos crimes de corrupção revelados pela Lava Jato e à reavaliação de ativos da empresa. As perdas naquele ano sinalizaram mais dificuldades na produção do pré-sal, já prejudicadas pelo preço do petróleo no mercado internacional.
Foto: Folha de S.Paulo
Menor autonomia brasileira
Em fevereiro de 2016, o Senado aprovou alterações no regime de partilha na exploração do pré-sal no Brasil. A Petrobras deixa de ser a operadora única, abrindo espaço para empresas estrangeiras participarem de futuros leilões das áreas petrolíferas. Assim, não é mais obrigatória a participação mínima de 30% da estatal brasileira nos consórcios de exploração do pré-sal.
Foto: Folha de S.Paulo
Prejuízo recorde
Mais de 34 bilhões de reais. Este foi o prejuízo da Petrobras no ano de 2015, segundo balanço divulgado em março de 2016. A empresa justificou o rombo com a crise do setor do petróleo, a crise econômica brasileira e a perda de credibilidade da empresa no mercado, abalada pelas denúncias e investigações da Lava Jato.
Foto: Portal G1
Depois da tempestade vem a bonança
Após três trimestres consecutivos no vermelho, o balanço da Petrobras voltou a ser positivo no segundo trimestre de 2016. A empresa registrou nesse período lucro líquido de 370 milhões de reais. Segundo a estatal, o resultado se deve à redução de despesas, ao aumento de 7% da produção total de petróleo e gás natural, e à redução de custos da produção, entre outros fatores.
Foto: Portal G1
Petroleiras estrangeiras de olho no pré-sal
Após mudanças no regime de exploração do pré-sal, aprovadas pelo Senado, companhias petrolíferas já pressionam o governo para alterações regulatórias. Leilões estão previstos para 2017, mas a Petrobras não deverá participar de nenhum. A empresa deverá se concentrar na redução de dívidas e na exploração dos campos de Libra e Lula, disse uma fonte ao jornal "O Globo".
Foto: O Globo
Novo prejuízo em 2016
Após três trimestres consecutivos no vermelho, o balanço da Petrobras voltou a ser positivo no segundo trimestre de 2016. A empresa registrou nesse período lucro líquido de 370 milhões de reais. Segundo a estatal, resultado se deve à redução de despesas, aumento de 7% da produção total de petróleo e gás natural, redução de custos da produção, entre outros fatores.