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Megatemplo consolida posição da Universal no "mercado das religiões"

Fernando Caulyt / Marina Estarque31 de julho de 2014

Construção de quase 700 milhões de reais reforça presença da igreja de Edir Macedo na forte disputa entre as religiões, num momento em que pequenas unidades de periferia puxam o crescimento das neopentecostais.

Feito para impressionar: Templo de Salomão tem 74 mil metros quadrados de área construídaFoto: Reuters

Dezenas de igrejas fazem parte da paisagem do bairro do Brás, em São Paulo. Poucas centenas de metros de uma das principais avenidas, a Celso Garcia, concentram dezenas delas, de pentecostais a tradicionais, de pequenas a prédios.

Entre todas, uma passou a se impor na região: o novo templo da Igreja Universal do Reino de Deus, inaugurado nesta quinta-feira (31/07). A construção custou 685 milhões de reais, pode receber até 10 mil visitantes e deve consolidar a posição da Universal no concorrido mercado das religiões brasileiras.

"A inauguração do megatemplo representa uma consolidação da Universal, mas não do neopentecostalismo como um todo", opina Edin Abumanssur, professor de sociologia da religião da PUC-SP. "Esse megatemplo é uma forma de marcar e consolidar uma posição na disputa do mercado das religiões. A abertura do templo na maior metrópole brasileira significa que a Universal tem condições de se perpetuar no tempo."

De acordo com o IBGE, o segmento religioso dos evangélicos foi o que mais cresceu no Brasil entre 2000 e 2010. Foi de 15,4% da população brasileira para 22,2%, um aumento de 16 milhões no número de adeptos, totalizando hoje 42,3 milhões. Como comparação, o percentual de católicos diminuiu de 73,6% para 64,6%.

Construção tem altura de um prédio de 18 andares e comporta até 10 mil pessoas sentadasFoto: picture-alliance/dpa

Mensagem para os pobres

Em 2010, entre os adeptos de igrejas evangélicas de origem pentecostal, a Universal (1,87 milhão) era a terceira, atrás apenas da Assembleia de Deus (12,3 milhões) e da Congregação Cristã do Brasil (2,2 milhões).

Parte do crescimento dessas igrejas é atribuída à nova realidade econômica e à maior atuação junto às populações de baixa renda e baixa escolaridade. A Universal, por exemplo, tem uma mensagem que é bem recebida por esse público

Ela inclui a cura pela fé, que responde a uma demanda específica da população mais pobre; a teologia da prosperidade, em que a Igreja incentiva que as pessoas procurem empregos e criem redes de contato para saírem da exclusão social; além do uso dinâmico de meios de comunicação e de ferramentas de internet.

"Quase toda cidade brasileira, na região central, possui uma igreja católica. Mas nas periferias, principalmente das grandes cidades, a Igreja Católica não conseguiu se expandir e chegar perto dessas populações mais pobres. Quem faz isso são as igrejas evangélicas, especialmente as pentecostais", explica Eustáquio Diniz, demógrafo da Escola Nacional de Ciências Estatísticas do IBGE.

O grande número de adeptos se deve à proliferação de pequenas unidades autônomas, geralmente localizadas em bairros de periferia e frequentadas por cerca de 50. No Censo de 2010, foram cerca de 5,2 milhões de fiéis que se encaixaram na classificação "outras igrejas evangélicas de origem pentecostal" e mais 9,2 milhões que entraram na rubrica "evangélica não determinada".

"São comunidades que não têm condições de sustentar um pastor em tempo integral", explica Abumanssur. "Geralmente o pastor é um trabalhador, por exemplo funcionário público ou taxista, que, no domingo à noite, abre um templo. Muitas vezes funciona na garagem da casa dele", completa o especialista da PUC-SP.

A Universal, em particular, perdeu adeptos entre 2000 e 2010 – passou de 2,1 para 1,87 milhão. Mas não dá mostras de enfraquecimento: na década passada, a igreja ampliou seus espaços na política institucional, e a TV Record, de sua propriedade, se consolidou como o segundo canal de televisão aberta do país em audiência.

Passou, ainda, a estar presente em mais de cem países. Nos EUA, onde iniciou seu processo de internacionalização, chega a ter mais de 190 templos. Já na África do Sul, são mais de 380. Existem ainda unidades no Japão, em Moçambique, na Letônia, na Rússia, na Grécia e na China.

Ao custo de 685 milhões de reais, templo tem até oliveiras importadas do UruguaiFoto: picture-alliance/dpa

Ostentação

Em seus 74 mil metros quadrados de área construída e capacidade de abrigar confortavelmente 10 mil fiéis sentados, o megatemplo demorou quatro anos para ser construído. A edificação é cerca de três vezes maior do que o Santuário Nacional de Aparecida – que perde, assim, o posto de maior espaço religioso do país.

A inauguração deverá contar com a presença da presidente Dilma Rousseff; do seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva; do governador Geraldo Alckmin e do prefeito Fernando Haddad. Jornalistas não poderão entrar durante a inauguração e vão acompanhar a cerimônia do lado de fora. O único discurso ficará a cargo do bispo Edir Macedo, fundador da Igreja Universal, há 37 anos.

A construção, que tem altura equivalente a 18 andares, apresenta detalhes impressionantes. A iluminação da fachada, no valor de 22 milhões de reais, promete imitar o entardecer em Jerusalém. Cerca de 40 mil metros quadrados de pedras foram importados de Hebron, em Israel, por 30 milhões de reais, para revestir as paredes do megatemplo. Dois telões trazidos da Bélgica, próximos ao altar, facilitarão a visão dos fiéis.

O acabamento inclui cadeiras importadas da Espanha, com o custo, cada uma, de 2,2 mil reais; mármore rosa italiano; e um jardim de oliveiras importadas do Uruguai para relembrar o Monte das Oliveiras, onde Jesus passou a sua última noite na Terra antes de ser crucificado. Uma esteira rolante vai receber o dízimo dos fiéis e levará o dinheiro do altar para uma sala-cofre.

A obra marca uma nova fase da Universal e tenta, segundo especialistas, tornar a igreja ainda mais visível no espaço social. "Os templos da Universal estavam sendo esvaziados pela concorrência, que copiava seus métodos de trabalho. Agora, ela troca a capilaridade de seus pequenos e médios templos por grandes e vistosas catedrais", diz Leonildo Silveira Campos, professor de ciências da religião da Universidade Metodista de São Paulo

As paredes laterais internas do megatemplo vão ser decoradas por menorás, os candelabros de sete braços comuns em sinagogas. Um memorial ao lado do templo vai explicar a história das 12 tribos de Israel, contada no Velho Testamento. Em dois subsolos, serão disponibilizadas cerca de 2 mil vagas para carros, ônibus e motos.

O complexo contará com escolas bíblicas com capacidade para comportar aproximadamente 1,3 mil crianças, estúdios de televisão e rádio, auditório, além de hospedagem para pastores. Para atrair fiéis de outras Igrejas, a Universal não vai usar seu nome nem a inscrição "Jesus Cristo é o Senhor" – comum em seus edifícios – no megatemplo.

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