Meirelles e Jucá, homens fortes da equipe econômica de Temer
Fernando Caulyt13 de maio de 2016
Ministro da Fazenda encontra cenário inflacionário parecido com o de 2003, quando assumiu o BC, mas perspectiva para o PIB é bem pior. Titular do Planejamento tem bom trânsito no Congresso, mas é alvo da Justiça.
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A missão da equipe econômica do governo Michel Temer não é das mais fáceis. Os novos ministros da Fazenda, Henrique Meirelles, e do Planejamento, Romero Jucá, terão grandes desafios pela frente para recuperar a confiança de mercado e investidores e tentar colocar a economia do país nos eixos, fazendo o país voltar a crescer.
Meirelles tem posições mais ortodoxas e tradicionais que seu antecessor, Nelson Barbosa, e apoia um Estado menos intervencionista na economia e mais aberto para o comércio com outros países. Ele retorna à Brasília depois de ter comandado o Banco Central (BC) nos dois mandatos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, entre 2003 e 2010.
À frente do BC, Meirelles, que já tinha feito carreira em diversas instituições financeiras internacionais e chegou a ser presidente do BankBoston, teve êxito na tarefa de dar credibilidade ao governo junto ao mercado num momento crítico, quando investidores reagiram mal à eleição de Lula, em 2002.
Para virar ministro, Meirelles abriu mão de assumir uma cadeira na Câmara dos Deputados. Ele havia sido eleito deputado federal por Goiás pelo PSDB. Acabou se desfiliando do partido.
Em 2004, Meirelles se tornou o primeiro presidente do BC a ter status de ministro de Estado. Naquele ano foi aberto um inquérito por sonegação fiscal no período em que ele estava no BankBoston. Em 2007, o processo foi arquivado após o Supremo Tribunal Federal (STF) negar a quebra de sigilo das contas bancárias usadas por ele. Meirelles sempre negou as acusações.
Hoje e ontem: cenários parecidos
O cenário que Meirelles encara hoje não difere muito do de 2003. Durante o governo Lula, o novo ministro enfrentou uma inflação em alta que fechou, em 2002, em 12,53%. No seu primeiro ano, conseguiu reduzi-la para 9,3%. Já em 2010, entregou a inflação em 5,9% – abaixo do teto da meta, mas acima do centro, que é de 4,5%.
A taxa básica de juros, Selic, fechou o ano de 2002 em 25% ao ano. Na primeira reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) da sua gestão, em janeiro de 2003, ela subiu para 25,50% e, nas seguintes, foi elevada para 26,50%. Mas, ao final de 2010, Meirelles deixou o BC – após oito anos, se tornando o presidente mais longevo da instituição – com a taxa em 10,75% ao ano.
Trecho da entrevista de Henrique Meirelles
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As reservas internacionais também tiveram um salto com Meirelles na presidência do BC: de aproximadamente 38 bilhões de dólares em 2003 para cerca de 288 bilhões de dólares no final de 2010. Ele defendia o controle da inflação e o acúmulo de reservas internacionais, e este último aspecto ajudou o país a receber o grau de investimento de agências de classificação de risco. Isso ajudou o Brasil a passar pela crise financeira de 2008 sem grandes percalços.
O panorama que Meirelles, Jucá e o novo presidente do BC – que ainda não foi definido por Temer, já que o atual chefe, Alexandre Tombini, permanecerá no cargo em um período de transição até que outro seja indicado e passe por uma sabatina no Senado – encontram agora não é tão diferente do início de 2003: a inflação acumulada dos últimos 12 meses, em março, é de 9,39%, e a taxa Selic está em 14,25%.
Mas o cenário de crescimento econômico está pior. Durante Lula, o Produto Interno Bruto (PIB) chegou a crescer 7,5% em 2010. Com Dilma, encolheu 3,8% em 2015 – a maior recessão já registrada desde 1990, sendo que a perspectiva para 2016 prevê novo recuo de 3,8%. Entre os outros desafios estão a dívida pública em crescimento e a perda do grau de investimento. Meirelles deverá ter três prioridades: limitar os gastos públicos e equilibrar as contas públicas, e reformar a Previdência e o sistema tributário.
Meirelles nasceu em Anápolis (GO) em 1945, formou-se em engenharia civil na USP e estudou administração na Universidade de Harvard, nos EUA. Ele é considerado vaidoso e exigente no trabalho. Atualmente preside o conselho de administração da J&F, dona do Banco Original, da JBS e da Vigor, e é membro do conselho de administração da Azul Linhas Aéreas.
Jucá: investigado pela Lava Jato e Zelotes
O novo ministro do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão, Romero Jucá, é um político pernambucano do PMDB que fez sua carreira política em Roraima. Em 1986 foi presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai), e foi nomeado em 1988 pelo então presidente José Sarney e aprovado pelo Senado para ser governador do então território de Roraima (1988-1990). Depois, elegeu-se senador por três vezes consecutivas pelo estado (a partir de 1995).
Jucá cursou economia e pós-graduação em engenharia econômica pela Universidade Católica de Pernambuco, onde começou sua carreira política como diretor da Secretaria de Educação. Já em 1984, foi secretário de Coordenação da Prefeitura do Recife e chegou a trabalhar como professor universitário, gerente e diretor de órgãos públicos e privados. Em 1985 presidiu a Fundação Projeto Rondon e, no mesmo ano, foi secretário-executivo da Comissão Interministerial de Educação e Desenvolvimento Regional.
Jucá foi líder no Senado dos governos de Fernando Henrique Cardoso, Lula e Dilma. Desde 5 de abril é o presidente do PMDB – após Temer se licenciar da função – e foi um dos defensores da saída do partido da base aliada da presidente afastada. Ele foi relator-geral do Orçamento da União em 2005 e 2013 e atualmente é vice-presidente do Senado e relator da comissão mista que debate a regulamentação de dispositivos da Constituição Federal.
O senador é um dos políticos citados na Operação Lava Jato e está na lista de investigados enviada pela Procuradoria-Geral da República ao Supremo Tribunal Federal no início de 2015. No final de abril deste ano, a ministra Cármen Lúcia, relatora da Operação Zelotes, abriu um inquérito para investigar a suspeita de envolvimento do presidente do Senado, Renan Calheiros, e de Jucá na venda de emendas e medidas provisórias.
Por conta da experiência política e trânsito no Congresso, Jucá deverá ajudar o presidente interino a aprovar projetos e reformas na Câmara e no Senado. Mas, as investigações por possíveis crimes nas Operações Lava Jato e Zelotes poderão causar desgastes ao novo ministro do Planejamento.
Os ministros do governo Temer
Gabinete do presidente interino tem nomes conhecidos da política, vários alvos da Justiça e nenhuma mulher. Confira uma minibiografia de cada um deles.
Foto: Geraldo Magela/Agencia Senado
Gilberto Kassab
Ministro das Cidades até abril de 2016 e prefeito de São Paulo por dois períodos, Gilberto Kassab foi escolhido para comandar o Ministério de Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações. O fundador do Partido Social Democrático (PSD) é réu em processo de improbidade administrativa e foi condenado em 2014 por não pagar precatórios judiciais previstos em leis, mas recorre da decisão.
Foto: Marcelo Camargo/Agencia Brasil
Raul Jungmann
O deputado federal Raul Jungmann (PPS-PE) é o novo ministro da Defesa. Durante o governo Fernando Henrique Cardoso, foi o principal responsável por questões fundiárias, presidindo o Incra e comandando o Ministério de Desenvolvimento Agrário. Jungmann é alvo de ações movidas pelo Ministério Público por improbidade administrativa e por dano ao erário na época que chefiava o Incra.
Foto: Edilson Rodrigues/Agencia Senado
Geddel Vieira Lima
Figura próxima de Temer, Geddel Vieira é o novo ministro-chefe da Secretaria de Governo. Em sua carreira política, foi deputado federal por cinco mandatos consecutivos, além de ministro da Integração Nacional no segundo mandato de Lula. O peemedebista é investigado na Operação Lava Jato e, em 2014, foi condenado por realizar propaganda eleitoral irregular.
Foto: Valter Campanato/Agencia Brasil
Bruno Araújo
Sem experiência ministerial, o deputado federal Bruno Araújo (PSDB-PE) foi escolhido para comandar o Ministério das Cidades. Responsável por proferir o voto que selou a votação do impeachment na Câmara, o parlamentar teve seu nome citado na lista da Odebrecht, apreendida pela Polícia Federal, que mostra centenas de políticos que receberam doações da empreiteira.
Foto: Gustavo Lima/Camara dos Deputados
Blairo Maggi
Ex-governador do Mato Grosso, o senador Blairo Maggi (PR-MT) assume o Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Dono do grupo que é um dos principais exportadores de soja do país, é considerado por ambientalistas um dos grandes promotores do desmatamento. Maggi é alvo de inquérito que apura lavagem de dinheiro e também de ações do Ministério Público por improbidade administrativa.
Foto: Geraldo Magela/Agencia Senado
Henrique Meirelles
O novo ministro da Fazenda foi eleito deputado federal pelo PSDB em 2002, mas abriu mão de assumir a cadeira quando foi chamado pelo então presidente Lula para presidir o Banco Central – ele permaneceu no cargo entre 2003 e 2011. Atualmente, Meirelles vinha presidindo o Conselho de Administração da holding J&F, que controla a empresa de alimentos JBS.
Foto: Antonio Cruz/ABr
Mendonça Filho
O deputado federal assume o Ministério da Educação e Cultura. Ex-governador de Pernambuco – depois da renúncia do titular Jarbas Vasconcelos –, Mendonça Filho (DEM-PE) é parte em processos relacionados a contas eleitorais de seu partido e está entre as centenas de políticos citados na lista da Odebrecht, apreendida pela Lava Jato.
Foto: Gustavo Lima/Camara dos Deputados
Eliseu Padilha
Novo ministro-chefe da Casa Civil, Eliseu Padilha comandou o Ministério dos Transportes no governo FHC e a Aviação Civil durante a gestão Dilma. Pediu demissão um dia antes de o deputado Eduardo Cunha aceitar o pedido de impeachment da presidente petista. Indiciado por formação de quadrilha em 2011, Padilha foi recentemente citado na delação de Delcídio do Amaral.
Foto: Wilson Dias/Agencia Brasil
Osmar Terra
Sem experiência ministerial, Osmar Terra é deputado federal (PMDB-RS) e agora assume o Ministério do Desenvolvimento Social e Agrário, responsável pelo Bolsa Família. Também citado na lista da Odebrecht, o político teve suas contas contestadas pelo TCE quando chefiava a Secretaria Estadual da Saúde do Rio Grande do Sul.
Foto: Viola Jr/Camara dos Deputados
Leonardo Picciani
Também sem experiência ministerial, o deputado federal Leonardo Picciani (PMDB-RJ) foi escolhido para comandar o Ministério do Esporte. Aos 36 anos, ele está em seu quarto mandato na Câmara e ocupa o posto de líder da bancada do PMDB da Casa. Picciani é alvo de representação (sob segredo de Justiça) por captação e gastos ilícitos na campanha de 2014, com pedido de cassação de diploma.
Foto: Agência Brasil/J. Cruz
Ricardo Barros
Novo ministro da Saúde, o deputado federal Ricardo Barros (PP-PR) não tem experiência comandando ministérios, mas foi secretário de Indústria e Comércio e Assuntos do Mercosul no Paraná. Também citado na lista da Odebrecht, Barros foi condenado por fraude em venda de equipamentos e por danos causados aos cofres públicos referentes ao período em que foi prefeito de Maringá.
Foto: Antonio Cruz/Agencia Brasil
José Sarney Filho
Filho do ex-presidente José Sarney, o deputado federal (PV-MA) assume o Ministério do Meio Ambiente. No governo tucano, foi ministro da mesma pasta entre 1999 e 2002. No passado, Sarney Filho chegou a ser condenado ao pagamento de uma multa em representação movida pelo Ministério Público Eleitoral por prática de conduta vedada.
Foto: Agência Brasil/M. Camargo
Henrique Alves
Figura muito próxima a Temer, Henrique Alves foi escolhido para o Ministério do Turismo. Foi ministro da pasta durante o governo Dilma, mas renunciou ao cargo duas semanas antes da aprovação do processo de impeachment pelo Senado. Alves foi deputado federal pelo Rio Grande do Norte por 11 mandatos consecutivos, chegando à presidência da Câmara. Ele é investigado pela Operação Lava Jato.
Foto: Tomaz Silva/Agencia Brasil
José Serra
Novo ministro da Relações Exteriores, o senador José Serra (PSDB-SP) comandou o Ministério da Saúde no governo FHC e foi prefeito e governador de São Paulo, sendo derrotado nas eleições presidenciais de 2002 e 2010. É alvo de ação civil pública por improbidade administrativa de quando era ministro tucano, e teve seu nome associado ao escândalo das licitações no transporte público paulista.
Foto: Moreira Mariz/Agencia Senado
Ronaldo Nogueira
Com breve carreira política, o deputado federal Ronaldo Nogueira (PTB-RS) foi escolhido por Temer para chefiar o Ministério do Trabalho. Administrador por formação, ele exercia seu primeiro mandato na Câmara quando foi convidado pelo vice-presidente. Nogueira teve reprovadas as contas referentes à campanha eleitoral de 2014.
Foto: Lucio Bernardo Junior/Câmara dos Deputados
Alexandre de Moraes
O advogado e consultor jurídico Alexandre de Moraes, ligado ao PSDB, ocupava a Secretaria de Segurança Pública de São Paulo quando foi escolhido para assumir o Ministério da Justiça e Cidadania. Teve carreira de destaque no Ministério Público paulista, tendo chegado ao posto de procurador-geral da Justiça. Moraes atuou como advogado do deputado Eduardo Cunha.
Foto: Elza Fiuza/Agencia Brasil
Maurício Quintella Lessa
Quem assume o Ministério dos Transportes, Portos e Aviação Civil é o deputado federal Mauricio Quintella (PR-AL), ex-líder do partido na Câmara. O político foi condenado em 2014 por ter participado, enquanto secretário de Educação de Alagoas, de um esquema que desviou dinheiro destinado ao pagamento de merenda escolar. Quintella foi multado pela Justiça em 4,2 milhões de reais.
Foto: Agência Brasil/J. Cruz
Fabiano Augusto Martins Silveira
O advogado foi escolhido para comandar o Ministério da Fiscalização, Transparência e Controle, recém-criado por Temer para substituir a Controladoria-Geral da União. Fabiano Augusto Martins Silveira é doutor em Direito e conselheiro no Conselho Nacional de Justiça (CNJ) pelo segundo mandato, além de consultor legislativo do Senado Federal desde 2002.
Foto: Geraldo Magela/Agencia Senado
Fábio Osório Medina
O substituto de José Eduardo Cardozo no comando da Advocacia-Geral da União é Fábio Osório Medina. Advogado e professor, ele é ex-promotor de Justiça do Rio Grande do Sul e especializado em leis sobre combate à corrupção. No início de maio, Medina foi um dos convidados pela oposição para falar em sessão da comissão especial do impeachment no Senado.
Foto: Marcelo Camargo/Agencia Brasil
Sérgio Etchegoyen
O novo ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional de Temer é chefe do Estado-Maior do Exército (EME) desde março de 2015. Assinou, junto a outros familiares, uma carta em que critica a Comissão Nacional da Verdade – o pai de Etchegoyen foi denunciado por graves violações aos direitos humanos durante o regime militar brasileiro.
Foto: cc-by-Neal Snyder/US Army
Marcos Pereira
Bispo da Igreja Universal do Reino de Deus e ex-executivo da rede Record de Televisão, Marcos Pereira é o novo ministro da Indústria, Comércio e Serviços. Cotado para a Ciência e Tecnologia, o evangélico enfrentou forte resistência entre acadêmicos. O presidente do Partido Republicano Brasileiro (PRB) é advogado e foi sócio de escritórios de contabilidade e advocacia.
Foto: Imago
Fernando Coelho Filho
Deputado federal há três mandatos com apenas 32 anos, o novo ministro de Minas e Energia Fernando Coelho Filho (PSB-PE) é herdeiro político do senador Fernando Bezerra Coelho, seu pai, que ocupou a pasta de Integração Nacional no governo Dilma e está sob investigação na operação Lava Jato. Foi o mais jovem parlamentar eleito no Brasil, com apenas 22 anos.
Foto: Agencia Brasil/M. Camargo
Helder Barbalho
À frente da cobiçada pasta de vasto orçamento e impacto na região Nordeste está outro herdeiro político, filho de Jader e Elcione Barbalho. O novo ministro da Integração Nacional Helder Barbalho (PMDB-PA) comandou a Secretaria de Portos do governo Dilma até abril. Também foi secretário da Pesca e Aquicultura. Na saída, afirmou acreditar na inocência da presidente.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Lacerda
Dyogo Oliveira
O economista ocupou vários cargos no Ministério da Fazenda, desde 2006, até chegar a secretário-executivo. Mais tarde, assumiu a posição equivalente no Planejamento. Ele se manteve no cargo durante o governo interino. É citado em investigações da Operação Zelotes e teve seus sigilos bancário e fiscal entre 2008 e 2015 quebrados a pedido do Ministério Público Federal.
Foto: Agência Brasil/J. Cruz
Marcelo Calero
O posto foi recriado seis dias após ser extinto no primeiro dia do governo interino. Marcelo Calero é formado em direito, trabalhou na Petrobras, em empresas privadas e no setor de energia do Itamaraty. Candidatou-se a deputado federal pelo PSDB-RJ em 2010, mas não foi eleito. Foi secretário municipal de Cultura do Rio de Janeiro de 2013 até assumir o ministério.
Foto: Agência Brasil/ V. Campanato
Romero Jucá
Foi ministro do Planejamento, Desenvolvimento e Gestão por 11 dias no governo interino. Senador do PMDB, ele teve uma conversa gravada, em que defendia uma mudança de governo para "estancar a sangria" de políticos citados na Lava Jato. Foi líder dos governos FHC, Lula e Dilma no Congresso e é investigado por formação de quadrilha, além de ter seu nome envolvido na Operação Zelotes.