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Melatonina, o hormônio do sono e da proteção imunológica

Kamila Rutkosky 8 de dezembro de 2012

O "Futurando" desta semana mostrou que cada doença tem um horário no qual o efeito do medicamento é mais eficiente. A melatonina é uma das responsáveis por este funcionamento. Mas este hormônio tem outras faces.

Foto: Fotolia/Sven Bähren

Uma dor de cabeça pontual pode ser aliviada com um comprimido a qualquer hora. Mas para quem sofre com uma doença crônica como hipertensão arterial, por exemplo, há uma hora do dia na qual o efeito do remédio será mais eficaz. Essa é a área de pesquisa da cronofarmacologia, uma ciência que estuda a melhor hora para se ingerir um medicamento na menor dose possível.

De acordo com Regina P. Markus, professora titular do Laboratório de Cronofarmacologia da USP, isso acontece porque o corpo segue o ritmo da terra, a variação entre o dia e a noite. A pessoa que sofre de hipotiroidismo, por exemplo, precisa ser medicada pela manhã. Isso não depende do mecanismo de ação do fármaco, mas sim da função fisiológica. Já um anti-hipertensivo deve ser tomado à noite, pois é nessa hora que a pressão mínima cai mais e, assim, há um resultado melhor do que se o medicamento for tomado durante o dia", diz a especialista.

Quanto mais se conhece o corpo e suas funções, mais a cronofarmacologia tem êxito. Para Regina P. Markus, "o avanço que essa área está tendo no século 21 é imenso". A pesquisadora diz que no ano de 2000 foi descoberta uma molécula que existe no olho, a melanoxina, que é capaz de perceber a luz. E este foi um ponto chave nas pesquisas.

O funcionamento da melatonina

O organismo segue um relógio biológico e percebe o dia e a noite por meio de um hormônio, a melatonina. A informação do claro ou escuro entra pela retina e vai para uma região do cérebro chamada hipotálamo, que controla a saciedade, o humor, bem como os sistemas cardíaco e respiratório. Essa informação é processada no relógio biológico e levada até a glândula pineal, que produz a melatonina e a libera na circulação. Mas esse hormônio só é liberado no escuro.

O conhecimento destas funções permitiu que os cientistas pudessem avançar nas pesquisas. Em determinadas doenças, a falta de melatonina faz com que a pessoa perca o controle temporal do seu organismo. E com isso ela tende a ficar altamente propícia a doenças. Por isso, diz a pesquisadora, a cronofarmacologia serve não só para ajudar a farmacologia, mas também para ser preventiva.

A melatonina é vendida em alguns países como uma solução para a insôniaFoto: Fotolia/Dan Race

De acordo com a especialista, essa queda da produção de melatonina é percebida comumente pelas pessoas. "Quando uma pessoa está ficando doente, ela começa a ter outro comportamento, não consegue dormir à noite, tem sono durante o dia, perde a fome, o organismo perde a noção do funcionamento do relógio biológico". Não ter melatonina à noite faz com que este processo aconteça, comenta.

Segundo Markus, pesquisas mostraram que pessoas que sofrem do mal de Alzheimer não produzem mais melatonina. Em caso de outros problemas, como o infarto do miocárdio, por exemplo, há volta da produção quando o indivíduo recupera a saúde.

Foi o laboratório coordenado pela pesquisadora Regina P. Markus que mostrou que a glândula pineal reage a agressões como fungos, bactérias, estresse e poluição. Estes também são agentes que fazem o corpo perder a noção do escuro. O laboratório estuda agora a poluição como um agente agressivo. E as pesquisas já mostram que a poluição inibe a produção de melatonina, reduzindo sua liberação de forma importante, esclarece a especialista.

A melatonina e o sistema imunológico

No organismo, somente a glândula pineal sintetiza a melatonina, mas existem outras células que são capazes de fazer esta sintetização. As células do estômago, que recebem o primeiro impacto dos alimentos, sintetizam melatonina ligada ao processo de defesa. "Nosso laboratório, além de um laboratório espanhol, mostrou que estas células de defesa têm capacidade de produzir melatonina quando estão excitadas, quando precisam agir", esclarece Markus.

Um exemplo é o que acontece nos primeiros dias de vida de um bebê. Muitas mães sabem da importância de amamentar o filho. E muitas seguem a sabedoria popular que diz que a criança que é amamentada nos primeiros dias não morre de diarreia. A ciência já comprovou esta tese. Isso acontece porque as células do primeiro leite materno, também chamado de colostro, também produzem melatonina.

Segundo Regina P. Markus, o hormônio induz o aumento da fagocitose das bactérias, protegendo o estômago do bebê. E atua também diminuindo a agressividade das células de defesa, diminuindo a quantidade de substâncias produzidas para matar a bactéria.

Cientistas ainda discutem a eficácia do leite noturnoFoto: MEHR

A especialista explica que existe um eixo imune-pineal, ou seja, cada vez que um processo infeccioso acontece, a produção de melatonina passa temporariamente da glândula pineal para as células imunocompetentes."Isso é um ciclo da defesa do organismo. E se esse ciclo não for fechado, pode haver uma situação que leva a doenças", comenta.

Leite Noturno

Uma empresa alemã desenvolveu um leite especial, retirado das vacas durante a noite, quando a melatonina está circulando no corpo. Os chamados Nacht-Milchkristalle, ou cristais de leite noturno, possuem uma concentração maior do hormônio. Segundo a empresa, além de ajudar no sono, o produto seria uma forma de repor a melatonina durante o envelhecimento.

Atualmente estão em andamento pesquisas que tentam comprovar se alimentos como o tomate, rico em melatonina, podem servir como uma nutriterapia. Mas o consumo da melatonina ainda é polêmico. Na Europa, o hormônio pode ser comprado apenas com receita médica. No Brasil, a venda é proibida desde 1995. E nos Estados Unidos o hormônio é vendido como um suplemento alimentar e pode ser encontrado em "bolinhos do sono".

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