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Relações complicadas

(gh)14 de fevereiro de 2007

Estudo mostra que a relação entre alemães e judeus se tornou mais amistosa nos últimos 15 anos. Maioria dos alemães se envergonha do passado, mas 40% ainda acham que o nacional-socialismo também teve aspectos positivos.

Aproximação entre os dois povos aumentou nos últimos 15 anosFoto: AP/DW

O que os judeus em Israel e nos Estados Unidos pensam da Alemanha e dos alemães? O que os alemães pensam sobre os judeus e Israel? Qual é o papel desempenhado pelo passado e como são avaliados problemas políticos atuais envolvendo os dois povos?

Essas são as questões centrais analisadas num estudo representativo publicado na última segunda-feira (12/02) pela Fundação Bertelsmann, ligada a um dos maiores grupos de mídia da Alemanha.

A pesquisa baseia-se em entrevistas feitas em janeiro deste ano com 1.004 alemães, 1.015 judeus israelenses e 500 judeus norte-americanos. Os resultados foram comparados, em parte, com uma pesquisa semelhante realizada em 1991, logo após a reunificação alemã.

Os resultados mostram as duas faces de uma relação complicada, em que "o passado une, o presente divide": 55% dos alemães consultados concordaram com a afirmação de que o nacional-socialismo teve "somente" ou "sobretudo aspectos negativos". Mas quase a metade (40%), sobretudo idosos e pessoas com pouca formação, acredita que "o nacional-socialismo também teve um lado bom".

Uma outra conclusão é que a maioria dos alemães (56%) não é anti-semita, mas 15% mostraram essa tendência em mais de uma pergunta. Um terço dos questionados na Alemanha concordou com a seguinte frase: "Os judeus têm influência demais no mundo". Trinta e dois por cento negaram essa afirmação.

Além disso, 36% dos alemães acham que há "algo de verdadeiro" na acusação de que os judeus tentam tirar proveito do passado, enquanto 58% são da opinião de que, 62 anos após o fim da Segunda Guerra Mundial, deveria ser colocado "um ponto final no passado e no debate sobre a perseguição aos judeus" – em 1991, eram 62%.

Visível aproximação

Encontro entre o premiê israelense Ehud Olmert e Angela Merkel, em dezembro passado em BerlimFoto: AP

Apesar desses resultados sobre o relacionamento com o passado, o estudo aponta uma aproximação entre alemães e judeus. Nove entre dez judeus são favoráveis a uma reconciliação com os alemães, o que é estritamente rejeitado por apenas 9%.

Quarenta e seis por cento dos israelenses acreditam que a democracia está ameaçada na Alemanha por grupos extremistas – 79% eram dessa opinião em 1991. Quase a metade dos alemães disse que o país tem uma responsabilidade especial em relação aos judeus.

O estudo também rebate a acusação de que a Alemanha tende a favorecer os árabes no conflito do Oriente Médio: 28% (8% em 1991) dos alemães disseram que estão mais do lado dos israelenses, 14% simpatizam mais com os palestinos e 26% com nenhum dos dois.

Divergências na política externa

As opiniões sobre questões atuais da política externa divergem muito. Enquanto 74% dos israelenses saúdam o envio de tropas alemãs ao Líbano, apenas 49% dos alemães consideram correta a decisão sobre a missão (47% a consideram um erro).

Mais gritante ainda é essa divergência quando o assunto é o Irã: 80% dos israelenses e 72% dos judeus norte-americanos consideram justificável uma intervenção militar no Irã, caso o país tenha bombas atômicas.

Na Alemanha, 61% rejeitam tal intervenção militar, embora também aqui 62% acreditem que o programa nuclear iraniano representa uma ameaça à existência de Israel.

Base estável

"O estudo mostra que a base para as relações entre alemães e judens se tornou mais estável", disse Stephan Vopel, perito da Fundação Bertelsmann. "Mas ele aponta também que a Alemanha e Israel, devido à sua história, desenvolveram culturas políticas completamente diferentes e, por conseqüência, têm maneiras distintas de lidar com conflitos", acrescenta.

Enquanto os israelenses dizem "vítimas nunca mais", a máxima alemã é "guerra nunca mais". Independentemente da faixa etária, da formação e do sexo, quase dois terços dos alemães se envergonham de seu país ter "cometido tantos crimes contra os judeus".

Esse arrependimento é reconhecido pelos judeus, que em sua maioria hoje têm uma imagem bem mais positiva da Alemanha e dos alemães do que em 1991: 57% dos israelenses (48% em 1991) e 70% dos judeus nos EUA têm uma opinião "muito" ou "bastante positiva" sobre a Alemanha atual.

Recomendações

Memorial do Holocausto em BerlimFoto: AP

"A memória do extermínio de judeus pelos nacional-socialistas é um elemento constitutivo da cultura política na Alemanha", conclui o estudo. Os peritos da Fundação Bertelsmann também fazem duas recomendações: "Para garantir a estabilidade das relações teuto-israelenses, é essencial ir além da memória e identificar interesses comuns para o futuro".

Além disso, acrescentam, "a formação política alemã não deve se restringir à reelaborar o passado, mantendo viva a memória histórica, e, sim, também prestar uma contribuição ativa para a compreensão mútua das diferentes situações existenciais da Alemanha e de Israel. Para isso, é preciso estabelecer um intercâmbio intenso, especialmente entre as gerações jovens dos dois países".

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