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Memórias para a posteridade

iw/ns29 de janeiro de 2004

Muitos sonham com um livro contando a própria vida. Mas e se a pessoa não tiver o menor talento para escrever? O jeito é contratar agências especializadas em escrever memórias alheias.

Máquinas registraram autobiografias no passadoFoto: AP

"Você deveria escrever essa história" — disseram vários amigos de Fritz Stahl, quando ele lhes contava passagens de sua vida. Um dia o fabricante de jóias de Pforzheim, onde começa a Floresta Negra, resolveu seguir o conselho e encarregou um ghostwriter de escrever o livro em seu lugar.

Na Alemanha não são apenas celebridades como o compositor Dieter Bohlen, o tenista Boris Becker ou a cantora Nena que resolvem deixar suas "autobiografias" para a posteridade. Um número cada vez maior de pessoas não se vê como um zé ninguém e adoraria ter sua biografia impressa entre as capas de um livro. Quem não tem talento para a coisa, recorre a um dos "fantasmas" que, ao contrário do biografado, ficam no anonimato.

Lembranças para os filhos

Pessoas como Fritz Stahl encontraram o que procuravam na Oficina de Memórias em Polling, cidadezinha da Baviera. Faz três anos que Louis Lau e mais duas colegas andam bisbilhotando a vida alheia. O resultado de seu trabalho são 20 livros "publicados". Geralmente eles são procurados por empresários de sucesso e pessoas que trabalharam com afinco até atingir seus objetivos.

Entrevistas são cansativas - o trabalho de formular o texto depois é mais árduo aindaFoto: Bilderbox

A vaidade não está necessariamente em primeiro plano. O que a maioria deseja é transmitir suas experiências de vida, algo assim como deixar vestígios de sua passagem pelo mundo. Outros simplesmente querem dar um presente especial aos filhos e netos. Assim, essas biografias não vão parar nas livrarias. A edição em pequena tiragem é distribuída entre parentes e amigos.

Vaidade e exibicionismo

Mas também há quem seja movido pela vaidade e exibicionismo. A jornalista Angelika Sturm muitas vezes é procurada por pessoas que atravessaram uma crise e depois acham que a opinião pública não poderia passar sem suas tão valiosas experiências.

Os interessados que procuram Angelika são exclusivamente homens que querem atingir fama como escritores. Os manuscritos que eles próprios escreveram geralmente já foram recusados por várias editoras. Insistentes em sua pretensão, eles não percebem que sua vida não é tão interessante como eles crêem, ou que o manuscrito não serve para um livro.

Muito trabalho

Algumas agências de publicidade conceituadas, como a de Swen Panten, já ofereceram ghostwriting entre seus serviços. Mas acabaram cancelando a oferta. "O esforço e o tempo que se gasta com isso é muito grande", diz Panten.

Embora o dinheiro não fosse problema para seus clientes — quase todos ex-presidentes de empresas —, as entrevistas, que costumavam se estender por semanas, eram muito aborrecidas, diz Panten.

Antes do livro, a entrevista

Foto: DW

Quem quiser imortalizar sua vida contando-a à agência de Polling, primeiro tem que agüentar uma entrevista estilo interrogatório durante uns quatro dias. Isso não é apenas cansativo para o entrevistador, pois recordar e analisar a própria vida é uma tarefa árdua. Mesmo personalidades fortes como Fritz Stahl têm "um pouco de receio", como confessou. Mas o que será impresso no papel, quem decide é o cliente. "Todos têm o direito a uma visão própria."

Mesmo assim, os ghostwriters procuram manter a objetividade quando seus clientes — a maioria pessoas de idade — tentam idealizar ou distorcer o passado. Para impor certos limites à fantasia, a agência colocou os seguintes dizeres na sala de entrevistas: "Toda família tem seus cadáveres no porão".

Depois, vem a elaboração do texto e a concepção do livro. Uma gráfica o imprime e, a seguir, vem a encadernação, feita manualmente. Quanto custa tudo isso? 55 euros por página — ou 11 mil euros por um "romance da vida" com 200 páginas.

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