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Mentiras e outras verdades no Festival de Cinema de Munique

Jochen Kürten (ba)7 de julho de 2014

Na 32ª edição do evento na capital bávara, a mostra "Novo Cinema Alemão" focou a geração de meia-idade e seus dilemas. As ilusões humanas foram um tema central, apresentadas nos mais diferentes formatos e estilos.

Os "velhos" de "Nós somos os novos"Foto: Filmfest München

Talvez seja este o tema do cinema alemão neste outono: gente que trai a si mesma, homens e mulheres que não levam a verdade tão ao pé da letra, na vida pessoal ou profissional.

Em se tratando de 16 obras tão diversas entre si, é difícil encontrar semelhanças temáticas entre as novas produções apresentadas no Festival de Cinema de Munique. Porém, em geral, parece que os diretores e diretoras alemães de meia-idade voltaram novamente seu interesse e suas lentes para os companheiros de geração.

Comédia afiada

"Como era ser jovem antigamente? Como é ser jovem hoje? Tanta coisa mudou nos últimos 35 anos", questiona-se o diretor Ralf Westhoff, em conversa com a DW. E é este o seu tema: o que aconteceu com o "ser jovem".

Nascido em 1969, ele apresenta a comédia Wir sind die Neuen ("Nós somos os novos", em tradução livre), no Festival de Munique, que fala de envelhecer, do choque das gerações, dos ideais perdidos, dos sonhos – e do que aconteceu com eles.

Os "jovens" do filme de Ralf WesthoffFoto: Filmfest München

Amigos de longa data, dois homens e uma mulher se encontram após muito tempo e resolvem fundar uma república onde vão morar juntos, como 30 anos atrás. Os três se mudam para um prédio onde, no apartamento de baixo, há uma república de estudantes. Estes estão estudando como loucos, preparando-se para os exames de Direito e História da Arte. O que gera consideráveis conflitos – de "jovens gerações".

Westhoff aproveita os confrontos entre os dois grupos para fazer muitas observações interessantes sobre as diferentes gerações. "Esta construção – ex-estudantes que já moraram juntos se encontram com os estudantes de hoje – dá muito pano para a manga", comenta.

O diretor usa seu material para uma comédia inteligente e com profundidade, em que brinca com os clichês e as expectativas do público. Os mais novos se apresentam como estudantes certinhos e chatos, incomodados com o barulho de cada festa dos vizinhos de cima. E os velhos se deliciam em provocá-los.

Por trás disso tudo, porém, transparece o tema das mentiras existenciais. Pois os mais velhos também se autoiludem, tentando desesperadamente se conectar com algo que, na verdade, já se foi há muito tempo. E os jovens se entregam a uma "roda de hamster" do estudo, mesmo intuindo secretamente que ela não leva à felicidade.

Cena de "Éramos reis"Foto: Filmfest München

Ideais partidos

Um tema muito semelhante, embora contado de maneira completamente diferente com uso de outros meios estéticos, é abordado por Philipp Leinemann em Wir waren Könige (Éramos reis), que estreou no Festival de Munique

O filme trata de um grupo de elite da polícia que, na sua luta diária contra o crime, acaba naufragando nos próprios ideais e contradições internas. Paralelamente, desenvolve a trama de duas gangues juvenis, que são colocados em contato com a polícia.

Diretor Philipp LeinemannFoto: DW/J. Kürten

Ao desenvolver o roteiro, o tema da amizade foi o mais importante para ele, explica Leinenmann, "a amizade e sua desintegração". Pois a amizade que suas personagens mantêm, a rigor, não existe mais: "o que sobrou, foi só a ideia dela". Sobretudo os mais antigos da tropa alimentam-se apenas do passado. Eles vivem com ideais há muito tempo esfacelados, nos moinhos do dia a dia e da realidade.

Ideais partidos

Como já diz seu título, Lügen (Mentiras), de Vanessa Jopp, gira em trono do mesmo tema. Trata-se de um filme de elenco, apresentando a vida de um punhado de personagens numa grande cidade e depois entrelaçando as histórias individuais. Também aqui o foco são pessoas de meia-idade, que olham para trás e são forçadas a reconhecer que muitas vezes há um abismo entre a realidade e a percepção da própria vida.

"O grande tema do meu filme são as mentiras existenciais, mas ele também trata das mentiras bem pequenas, banais", diz a diretora. É uma descrição da mentira em todos os seus estágios: "A rainha das mentiras é o autoengano: como é que a gente construiu a própria vida? O que é que a gente acredita, a todo custo, ter ou ser, e do que é que realmente precisamos ou realmente sentimos?", indaga Jopp.

"Mentiras", de Vanessa JoppFoto: Filmfest München

Como a dentista que finalmente quer se casar, mas se dá conta que seu namorado não é o homem certo para ela. Ou o agente imobiliário cujos negócios não vão bem e que prefere admirar as garotas novas à própria noiva. Ou a artista idealista que se apaixona pelo professor de ioga – o qual, para além do lado terno e sensível, esconde algo que não combina nem um pouco com a sua profissão. "Mentiras" não é o retrato de uma geração, mas, antes, um zoom numa determinada fase da vida.

Outros filmes da série "Novo Cinema Alemão", no 32º Festival de Cinema de Munique, também abordaram o tema "mentiras de vida". São obras muito diversas entre si, comédias e dramas, produções de grande elenco e peças camerísticas com apenas poucos atores. E esta é uma característica do cinema alemão dos últimos anos: diversidade, gêneros variados, estilos contrastantes.

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