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Mercado alemão da maconha promete florescer – com riscos

Benjamin Restle
16 de junho de 2024

Desde que a Alemanha legalizou parcialmente a erva entorpecente, vendas de artigos de horticultura e cânabis medicinal vêm crescendo. Porém o exemplo do Canadá sugere cautela: o boom pode se revelar uma grande bolha.

Homem fuma baseado de maconha
A vida ficou bem mais simples para quem tem necessidade medicinal da erva ou a consome para fins recreativosFoto: Bihlmayerfotografie/IMAGO

Fornecedores de sementes de maconha, equipamento de jardinagem, fertilizantes e lâmpadas para cultivo vão se beneficiar da decisão da Alemanha de legalizar a droga, prevê Dirk Heitepriem, vice-presidente da Associação do Comércio da Cânabis (BvCW).

A legalização parcial foi aprovada em abril: adultos podem portar até 25 gramas de folhas secas e armazenar 50 gramas em casa, além de ter permissão de ter até três plantas para uso pessoal. Quem não queira ou não possa cultivar sua erva, mas quer se manter na legalidade, tem a opção de, a partir de 1º de julho, se tornar sócio de um "clube de maconha": trata-se de cooperativas sem fins lucrativos, com permissão de distribuir maconha para seus membros, sob condições estritas.

A firma Compo, de artigos de horticultura, está registrando vendas muito acima das expectativas de sua nova linha de produtos para os cultivadores de marijuana, que inclui terra para vasos e fertilizantes: "Estamos projetando cifras de vendas ainda maiores no próximo ano", afirma um gerente da empresa sediada em Münster, no oeste alemão, que tem mil empregados em várias partes da Europa.

Cultivo da maconha exige aparato especial considerávelFoto: Benjamin Restle/DW

Devido às incertezas legais em torno da venda de sementes no país, contudo, muitos estão preferindo bancos de sementes estrangeiros, como o Royal Queen Seeds, com sede em Barcelona, um dos principais do mercado. Seu presidente, Shai Ramsahai, conta que em um só dia já tiveram 10.231 encomendas.

Em abril, os negócios "cresceram 300%, e o faturamento online foi de 6 milhões de euros". De início, a alta demanda sobrecarregou a Royal Queen, mas agora ela se estabilizou em 3 mil a 4 mil pedidos por dia.

Outro grande banco de sementes, o Zamnesia, que opera a partir da Holanda, registrou uma onda de encomendas da Alemanha. "Todo ano, de meados de março até o começo de junho, as vendas crescem, pois os clientes querem começar o cultivo", conta o gerente-chefe Nick Ave. "Normalmente temos um incremento de- 30% na temporada, mas em 2024 ele foi de 150%."

Cuidado com a bolha da marijuana

O afluxo sem precedentes de expositores à feira de cânabis Mary Jane Berlin em 2024 foi mais uma confirmação de que o setor tem um futuro promissor. Paralelamente aos lucros com quem deseja cultivar as plantas para uso recreativo, o setor alemão de cânabis medicinal tem potencial de crescimento ainda maior.

Segundo o grupo de análise de mercado Prohibition Partners, a base de pacientes é estimada em mais de 200 mil; e vendas, número de pacientes e importações aumentam de ano em ano. Com a atual legalização, a maconha deixa de ser classificada como narcótico, ficando mais fácil obter receitas médicas.

A produção doméstica comercial também era estritamente regulamentada, com a quota de produção sujeita a um teto máximo. Porém agora serão expedidas novas licenças para produção e distribuição, "liberalizando o mercado, aumentando a concorrência e possivelmente fortalecendo o setor", afirmam os pesquisadores Jakob Manthey, Jürgen Rehm e Uwe Verthein na revista médica The Lancet.

Feira Mary Jane Berlin 2024 foi confirmação do potencial do setorFoto: Benjamin Restle/DW

Atualmente, a Demecan, sediada no estado da Saxônia, perto de Dresden, é a única companhia farmacêutica que tem licença para cultivar maconha medicinal na Alemanha. Com a queda do teto máximo, ela planeja intensificar sua produção anual de 600 quilos para duas toneladas. Segundo porta-voz, a Demecan saúda a liberalização, que lhe permitirá maximizar seu potencial, beneficiando a Saxônia e o país, como um todo.

Críticas e restrições à parte, a legalização da erva provocou animação considerável na Alemanha, sobretudo em relação ao mercado médico. No entanto, Heitepriem desaconselha o excesso de otimismo.

"Tivemos nos últimos anos um desenvolvimento rápido de startups no setor medicinal, e estamos vendo um interesse crescente de companhias americanas, canadenses e europeias em investir na Alemanha." No entanto, muitas aprenderam a lição da bolha da cânabis do Canadá, que estourou após a legalização da droga em 2018.

Por outro lado, apesar de as projeções de faturamento terem sido "exageradas, em todas as discussões que já tivemos sobre o assunto", o chefe da BvCW acredita que "existe um enorme potencial de alguns bilhões de faturamento". Ainda assim: "Eu realmente não faria uma estimativa concreta, pois as incertezas são tantas."

 

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