Mercado alemão de jornais sofre com pressão da internet
15 de novembro de 2012Durante décadas, os jornais diários foram companheiros fiéis do cidadão alemão, servindo como primeira fonte de informação sobre os mais diversos temas, desde eventos locais, mercado de pulgas, previsão do tempo e outras amenidades. Nos últimos dez anos, contudo, os diários alemães tiveram uma redução de quase 25% de suas tiragens – e a tendência é de queda. Em setembro de 2012, o Abendzeitung de Nurembergue fechou suas portas. Tratava-se do mais antigo jornal popular alemão, fundado em 1919.
Agora o Frankfurter Rundschau (FR), um dos mais tradicionais jornais alemães, também anunciou sua insolvência. Embora isso ainda não signifique o fim definitivo do diário, as coisas não parecem boas, e os proprietários falam de "perdas contínuas".
O próximo a tornar público seus problemas, suspeitam alguns especialistas, poderá ser o Financial Times Deutschland. Um cenário que deixa no ar a pergunta: o jornal impresso ainda tem futuro na Alemanha? "Não acredito que o setor vá morrer, mas ele passa por dificuldades consideráveis. Não acho que em dez anos teremos o mesmo cenário de hoje", diz o pesquisador Günther Rager.
Professor aposentado de Jornalismo, Rager realizou pesquisas sobre a imprensa alemã. Assinante de três jornais no passado, ele diz: "Não parece que vá se encontrar uma receita para levar um grande número de jovens a ler jornais, a ponto de os assinarem".
Segundo estimativas, jovens entre 14 e 29 anos leem muito menos jornais que seus pais. Os leitores obtêm informações na internet e, para piorar ainda mais a situação para o mercado da mídia impressa, a publicidade também está migrando para o mundo virtual.
Mesmo assim, a Federação Nacional de Editores de Jornais prefere não admitir temores quanto ao futuro do setor. "Não temos certezas a respeito do que acontecerá, pois a área jornalística passa há alguns anos por violentos processos de transformação", afirma a porta-voz da organização, Anja Pasquay.
Atualmente existe na Alemanha 1.532 jornais locais. "Um número altíssimo, se comparado com outros países", observa Pasquay. Com um total de aproximadamente 330 editoras de jornais e 130 redações, o mercado alemão de jornais impressos ainda é o maior da Europa e o quinto maior do mundo.
Jornais para elites
Apesar de toda a insegurança no mercado, a Federação dos Editores mantém-se otimista: "Partimos do princípio de que em 10, 20 ou 30 anos, ainda teremos jornais na Alemanha, que continuarão sendo impressos, vendidos e lidos", completa a porta-voz.
Pasquay, assinante ela própria de dois jornais, imagina um modelo para o futuro do setor: por um lado, teremos um número menor de jornais impressos caros e com muito conteúdo, destinados a uma pequena elite. Por outro, haverá jornais populares de massa, até mesmo gratuitos, para serem lidos por muita gente a caminho do trabalho no metrô, por exemplo.
"É possível que o jornal impresso se transforme em algo para conhecedores e amantes do gênero", acredita o pesquisador Rager. "Tomando por base os dados e a evolução do setor, acredito que o jornal continuará contando com um público considerável a longo prazo, sobretudo entre a parcela da população com melhor formação, que poderá comprar um jornal e não vai quer depender sempre das informações da internet", prevê Rager.
O Frankfurter Rundschau provavelmente não irá mais fazer parte de tal cenário. A decadência do setor é, porém, apenas uma entre as razões para a falência do jornal. Um dos motivos de maior peso, acreditam especialistas, é o caro e difícil propósito do jornal de querer ser, ao mesmo tempo, regional e nacional. Uma dualidade que foi resumida através de uma sátira dos próprios jornalistas do diário: "Continuaremos a escrever sobre os grandes temas da política e sobre ladrões de bicicletas."
A ironia desta falência é o fato de atingir um jornal com longa tradição e de boa qualidade, que conseguiu melhor que outros fazer a transição para versões online e para tablets. Segundo informações da empresa de mídia Kress, o FR mandou avaliar se faria sentido continuar a produzir um jornal meramente digital e a resposta foi "não".
"Dia ruim para a nossa democracia"
O choque da falência do FR para o cenário da mídia alemã é tamanho, que exatamente os dois grandes concorrentes do jornal deram sinais de terem sido especialmente afetados pelo fato. O editor do concorrente na mesma cidade, o Frankfurter Allgemeine Zeitung, assinou ele próprio um artigo, no qual pinta um cenário sombrio para o futuro do setor. "Se o último jornal decente desaparecer, só vão restar bobagens", disse ele.
Ines Pohl, editora-chefe do Tageszeitung, também voltado, como o FR, para o leitor de esquerda, comentou: "O dia de ontem não foi bom para nossa democracia, que vive da proteção por parte de um jornalismo crítico. O FR foi o primeiro jornal de qualidade a declarar falência na Alemanha. E não será o último", completou.
Autor: Hendrik Heinze (sv)
Revisão: Francis França