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Feira do Livro de Frankfurt

14 de outubro de 2009

O controle do governo sobre tudo o que é publicado e o florescimento de uma literatura leve e comercial caracterizam o mercado editorial da China, país homenageado na Feira do Livro de Frankfurt em 2009.

Foto: AP

Ser o país homenageado da Feira do Livro de Frankfurt deu a visibilidade que a China esperava para seu mercado literário, mas com ela vieram também as críticas à censura do regime comunista e a uma literatura comercial de qualidade duvidosa.

Editores e donos de livrarias chineses se queixam da interferência do governo, que controla o que é publicado e, em vez de incentivar escritores talentosos, investe em livros vendáveis para as massas, como o setor de autoajuda.

"Tudo o que é impresso é controlado. Por isso não sobrevive quase nada de boa qualidade, a censura causou uma perda inestimável à literatura", diz Ai Weiwei, um dos artistas chineses contemporâneos mais crítico ao governo.

"China não pode censurar na Alemanha"

No caso da Feira do Livro de Frankfurt, a China investiu 5 milhões de yuans, cerca de meio milhão de euros, para traduzir em seu próprio território 80 títulos para o alemão.

Geralmente a tradução e o marketing dos livros do país homenageado são feitos na Alemanha, mas a Administração Geral de Imprensa e Publicações (Gaap) – órgão oficial de censura na China e também responsável pela participação na feira – só permitiu que 25 obras fossem traduzidas por editoras alemãs.

Ainda assim, é possível encontrar na feira, ao menos na programação não oficial, livros críticos ao regime ou de autores chineses exilados, que os censores da China veem como indesejados.

"O GAPP não pode censurar nada na Alemanha", diz Jing Bartz, do Centro Alemão de Informação do Livro (BIZ), em Pequim, que trabalha há dois anos com a China para preparar a participação em Frankfurt. Essa condição teria ficado clara já no início das tratativas.

O vice-diretor do Gaap, Wu Shulin, tem uma resposta pronta para as críticas. Ele diz que a constituição chinesa garante liberdade de imprensa e de expressão, mas que alguns temas não têm permissão para serem abordados. "Livros que ameaçam a estabilidade e a unidade da China não devem ser publicados. E também não permitimos qualquer livro que queira disseminar cultos demoníacos."

Na lista negra dos censores está o movimento cultural Falun Gong (proibido na China), a luta pela independência de tibetanos e uigures e o massacre da Praça da Paz Celestial de 4 de junho de 1989. Escritores engajados, críticos ao Partido Comunista e que incentivam a democracia são considerados inimigos do estado.

Autocensura

Livros proibidos no centro do país são impressos em Hong Kong e TaiwanFoto: AP

Depois de 60 anos de regime comunista, o trabalho dos censores vem diminuindo, já que em muitos casos os próprios escritores desistiram de contestar. O autor Yan Lianke diz que os escritores chineses têm uma tesoura dentro da cabeça.

"Depois de longos anos dentro do sistema, cada um pratica uma autocensura invisível", diz o ex-soldado, de 51 anos. Na opinião dele, falta coragem para explorar o espaço que, apesar da censura, ainda há disponível para boa literatura. "A nova geração de escritores é formada geralmente por filhos únicos mimados, egoístas e materialistas", critica.

Um exemplo desse individualismo crescente é o autor chinês mais rico da atualidade, Guo Jingming. O escritor de 26 anos faz sucesso entre a juventude por falar a linguagem dos jovens e sobre os seus problemas, como dificuldades em chegar à idade adulta e a pressão por causa de provas na escola e na universidade.

O governo de Pequim também conta com a autocensura das editoras para a tarefa de suprimir textos desagradáveis. A estratégia foi bem pensada, porque quando publica um livro que venha a ser proibido, a própria editora tem que recolher os exemplares nas livrarias e arcar com os custos. Para evitar prejuízos, temas espinhosos são analisados com muito cuidado antes de irem para a impressão.

Mercado paralelo

Editoras estatais estimulam a publicação de temas para massas, como autoajuda.Foto: AP

O mercado literário chinês é controlado por 570 editoras estatais, que detêm os números ISBN, obrigatórios para a publicação de um livro. No entanto, são as editoras privadas que publicam mais de 60% dos best-sellers da China.

Isso é possível porque existe um mercado paralelo entre editoras, em que as estatais vendem os números ISBN para as privadas. A prática já existe há muitos tempo, e este ano pela primeira vez Pequim anunciou regulamentar a "cooperação" entre as editoras estatais e particulares.

O governo anunciou que pretende reconhecer oficialmente as mais de 20 mil editoras privadas no país, abrir o capital das estatais e vender suas ações na bolsa de valores. No início do ano foi fundada a primeira editora mista da China, a Beijing Fonghong Media S.A., da qual a estatal Phoenix Media Publishing Network detém 51% das cotas.

Mas tanto as fronteiras da censura quanto do controle na China são mutáveis. Livros cuja publicação é vetada no continente são impressos com frequência em Hong Kong, que, pelo caráter de zona econômica especial, goza de mais liberdade.

Outra opção é Taiwan. Nesse caso, os livros entram na República Popular com acréscimo no preço. Também traduções em inglês de livros proibidos são encontradas facilmente em algumas livrarias de Pequim.

FF/dpa/epd/dw
Revisão: Alexandre Schossler

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