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On the rocks

10 de abril de 2011

Enquanto vendas nos mercados tradicionais ainda são fortes, mercados emergentes na Ásia e na América Latina proporcionam crescimento e incentivam grandes investimentos das destilarias escocesas.

Foto: Picture-Alliance / dpa

Abrigando a maior concentração mundial de destilarias de uísque, a Escócia tem muito a agradecer aos mais de cem produtores da bebida, que injetam mais de 3 bilhões de euros na economia local. Essa indústria vivencia um boom, ao qual a Associação do Uísque Escocês (SWA) se refere como um renascimento.

"Hoje, temos cerca de 107 destilarias em funcionamento na Escócia, ou seja, 20 a mais do que tínhamos há uma década", disse Campbell Evans, diretor de assuntos governamentais e de consumidores na SWA. "Nós temos visto um enorme investimento de aproximadamente 1 bilhão de libras [1,13 bilhão de euros] nos últimos dois ou três anos e isso é porque estamos tendo um recorde de exportações no momento".

Embora mercados tradicionais como Estados Unidos e França ainda sejam os maiores compradores de uísque escocês, os responsáveis pelo atual crescimento do setor são os consumidores na Ásia e na América Latina. Esse é um desenvolvimento positivo para companhias como a Diageo, que, com 28 destilarias de malte, é o maior produtor do mundo de uísque escocês. Apoiando-se na confiança nos mercados emergentes, a companhia fez investimentos significativos para expandir sua produção.

"Não se trata apenas de China e Índia. Tanto mercados como o Vietnã estão em ascensão, como também importantes mercados na América Latina, como México e Brasil", disse o diretor de relações corporativas da empresa, Ken Robert, acrescendo que a Diageo abriu, recentemente, uma nova destilaria onde investiu mais de 45 milhões de euros. "Nos últimos cinco anos, investimos algo em torno de 600 milhões de libras [680 milhões de euros] em nossas instalações produtivas".

Bebida com sabor de prosperidade

Futuro do uísque pode estar nos coquetéisFoto: Scotch Whisky Association

Por que é, então, que países como China, Coreia do Sul, Índia e Venezuela estão cada vez mais sedentos por uísque? De acordo com Campbell Evans, da SWA, isso tem muito a ver com a imagem de prosperidade da bebida.

"Em muitos mercados ao redor do mundo, o uísque escocês é uma bebida associada à ascensão social, e isso vale certamente para a Ásia, onde há uma predileção por uísques mais velhos", explicou. "Na China, poder beber uísque escocês 12 anos ou comprar um Mercedes-Benz são características muito importantes de uma classe média crescente".

Não são somente empresas como a Diego, cuja marca Johnnie Walker é o uísque mais vendido no mundo, que estão desfrutando o assim chamado renascimento da bebida. Localizada perto de Glasgow, a destilaria Glengoyne é de propriedade da empresa familiar Ian Macleod Distillers. As vendas anuais da empresa cresceram mais de 30% em 2010, apesar da recessão que atingiu o Reino Unido.

"Tivemos uma vantagem real na indústria do uísque pelo fato de sermos exportadores. Mais de 90% da produção do uísque escocês são exportados", disse o diretor de marketing da empresa, Iain Weir. "Vendemos para muitos mercados ao redor do mundo, como também em diferentes segmentos de preços. Acho que por isso fomos capazes de criar um bom equilíbrio durante a recessão em diversos outros mercados".

Mercado do Reino Unido congelado?

A situação, no entanto, não é totalmente favorável à indústria do uísque escocês. Ao contrário de mercados emergentes, onde um público mais jovem demonstra um crescente interesse pela bebida, no Reino Unido, os consumidores envelheceram.

"No Reino Unido, o mercado de uísque tem estado em declínio durante vários anos. Um dos desafios dessa indústria é trazer de volta pessoas mais jovens para o uísque escocês, já que nos últimos anos, bebidas como vodca, gim e vinho são os produtos preferidos pelos jovens", explicou Ken Robertson, da Diageo. "Assim, o Reino Unido e, de fato, a Escócia são mercados que irão requerer muita atenção ao longo dos próximos anos".

Vilarejos escoceses dependem da indústria do uísqueFoto: Scotch Whisky Association

A indústria do uísque já está tratando desse problema, ao tentar mudar a percepção dos jovens de que o uísque escocês é uma bebida pouco versátil, para gerações mais velhas. "Há uma série de iniciativas da indústria para atrair o público mais jovem para o uísque escocês, com maior ênfase nos coquetéis e na possibilidade de se fazer misturas, grande vantagem de outros destilados, como a vodca", disse Iain Weir.

Segundo o diretor de marketing da Ian Macleod, seria possível argumentar que, por um tempo, a indústria do uísque escocês criou barreiras para o consumidor, dizendo "olha, você pode beber o uísque puro ou com um pouquinho de água, permitimos também com um pouco de gelo". Mas agora, explicou Weir, nós estamos dizendo "não! beba uísque da forma como você gosta, se você quiser adicionar uma mistura, fica a seu critério".

Antevendo o futuro

Além de atrair consumidores mais jovens, um desafio ainda maior está na essência da própria indústria. Embora, por lei, o período mínimo de maturação do uísque seja de três anos, na prática, esse tempo é muito maior. As empresas devem, portanto, antever com precisão a demanda por seus produtos, com ao menos uma década de antecedência.

"Como lidar com prazos de até 12, 15, 25 anos à frente? Isso nunca foi uma ciência exata e é provável que nunca venha a ser", ressaltou Ken Robertson. "Mas nós vivemos agora numa era tecnológica. Dispomos de computadores, de forma que é possível mapear o que está acontecendo nas economias, no comportamento do modelo econômico e observar as tendências de consumo com muito mais precisão do que há 20, 30 anos".

Interdependência

Uísque responde por 20% das exportações escocesasFoto: Scottische Whisky Flaschen

A capacidade de uma destilaria de prever a demanda futura para seu produto não é crucial somente para essa empresa em particular. As vendas de uísque puro malte têm vivenciado um grande crescimento, mas o uísque blended ainda é responsável por 90% dos escoceses vendidos.

Para fazer essa bebida, uma destilaria tem de misturar até 50 uísques individuais de diferentes destilarias. Apesar de serem concorrentes, em última análise, as destilarias dependem umas das outras quanto ao material para suas misturas secretas.

"O uísque é parte essencial da economia da Escócia", explicou Cambel Evans. "Nós representamos 20% de todas as exportações da região. E nós empregamos cerca de 40 mil pessoas". Esse número, na verdade, não revela a importância de todos esses empregos.

"Se você visitar a região das Highlands, por exemplo, vai encontrar vilarejos com até cinco destilarias. Não somente o vilarejo vive diretamente do trabalho nessas destilarias, mas os empregos das pessoas que trabalham nas lojas, nos hotéis, nos correios, nos bares e assim por diante, dependem do sucesso do uísque daquele vilarejo", acresceu Evans.

Autora: Laura Schweiger (ca)
Revisão: Marcio Damasceno

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