1. Pular para o conteúdo
  2. Pular para o menu principal
  3. Ver mais sites da DW

Merkel a caminho do quarto mandato

24 de setembro de 2017

Partido da chanceler perde cadeiras no Parlamento, mas segue como maior bancada, suficiente para seguir à frente do governo. Social-democratas voltam à oposição, e populistas de direita alcançam resultado expressivo.

Bundestagswahl 2017 | CDU - Angela Merkel, Bundeskanzlerin
Foto: Reuters/K. Pfaffenbach

Como se esperava, o resultado das eleições alemãs deste domingo (24/09) deve render um quarto mandato para Angela Merkel à frente do governo federal. Mas também foi uma vitória um tanto amarga: seu partido, a União Democrata Cristã (CDU), teve 33% dos votos, o pior resultado eleitoral desde 1949. Os eleitores alemães também puniram o Partido Social-Democrata (SPD), parceiro de coalizão de Merkel, que acabou recebendo 20,5%, sua menor votação proporcional do pós-guerra.

Cobertura completa: eleição na Alemanha em 2017

Com a crescente rejeição aos dois partidos que governaram a Alemanha nos últimos quatro anos e uma campanha eleitoral que foi descrita como "chata" e "monótona", votos acabaram sendo canalizados para os populistas de direita da Alternativa para a Alemanha (AfD), que vão pela primeira vez ocupar cadeiras no Bundestag (Parlamento federal) com seus 12,6%. Os liberais-democratas também pegaram sua fatia, e vão voltar ao parlamento após um hiato de quatro anos, tendo mais que dobrado sua votação anterior ao conquistar 10,7% dos votos.

Já A Esquerda (9,2%), que reúne os antigos comunistas da Alemanha Oriental e o Partido Verde (8,9%), que tem a questão ambiental como principal agenda, só aumentaram sua votação em alguns décimos em relação a 2013.

Sem margem de conforto

A vitória sem margem de conforto deve render dificuldades para Merkel formar uma nova coalizão governista. Seu atual parceiro, o SPD, já anunciou que não deve continuar apoiando a chanceler federal e que pretende voltar à oposição. Assim, restará a Merkel tentar negociar com os liberal-democratas, que já foram seus parceiros de coalizão antes de 2013, e provavelmente os verdes. Em 2013, as negociações para a formação da coalizão da CDU de Merkel com os social-democratas se estenderam por dois meses e meio.

Christian Lindner, do partido liberal, e Merkel: possíveis parceiros de coalizão no governoFoto: picture-alliance/dpa/G. Breloer

Em seu discurso após os resultados, Merkel admitiu as dificuldades, mas passou uma mensagem de otimismo. "A CDU esperava resultados melhores, mas não vamos esquecer, diante do desafio extraordinário, que nós atingimos nossos objetivos estratégicos: nós somos o partido mais forte", disse. "Nós temos o mandato para formar o novo governo e nós vamos formar o novo governo."

Se não ocorrerem surpresas, Merkel deve permanecer no posto de chanceler até 2021, praticamente igualando a marca do seu antigo padrinho político, o ex-chanceler Helmut Kohl, como a chefe de governo mais longeva da Alemanha do pós-guerra. Ao todo, a CDU deve ocupar 246 cadeiras – 63 a menos do que na atual legislatura.

A ascensão dos nacionalistas

Merkel também comentou os resultados da AfD, que, embora já fossem sinalizados em pesquisas, ainda assim foram encarados com choque por parte da imprensa alemã. “É claro que temos um novo e grande desafio que é a entrada do AfD no Parlamento. Nós vamos fazer uma análise detalhada porque queremos recuperar os eleitores da AfD. E vamos fazer isso por meio de uma boa política", disse.

Fundada em 2013 como um partido eurocético, a AfD deu uma guinada ainda mais à direita a partir de 2015, passando a propagar um discurso anti-imigração e anti-islâmico, sobretudo depois da crise dos refugiados daquele ano.

As mensagens tiveram apelo particularmente forte nos Estados que faziam parte da antiga Alemanha Oriental comunista. O partido foi o segundo mais votado no leste, tendo conquistado 20,5% dos votos, à frente até mesmo do SPD e dos antigos comunistas do A Esquerda. No oeste, o partido apareceu como a quarta maior força, com 10,7%.

O resultado deve garantir 94 cadeiras para o partido, que vai então se transformar na terceira maior bancada e segunda maior força de oposição ao governo. A entrada da AfD também marca a volta de um partido nacionalista ao Bundestag em mais de cinquenta anos. As últimas agremiações que defendiam bandeiras desse tipo perderam espaço no início da década de 1960. Também é a primeira vez desde 1990 que um partido novato entra no Bundestag – o último foi A Esquerda, ainda com a sigla PDS.

Após o resultado, um dos líderes do AfD, Alexander Gauland, celebrou a votação com declarações nacionalistas e em tom de ameaça contra Merkel. "Esse governo que se proteja, porque vamos caçá-lo. Recuperaremos o nosso país e o nosso povo. Mudaremos esse país", disse.

A derrocada social-democrata

No início do ano, o SPD encarava as eleições com otimismo. Seu candidato ao posto de chanceler, Martin Schulz, foi saudado como uma novidade capaz de reenergizar a militância do partido. Schulz criticou sistematicamente a chanceler federal e disse que a CDU não tinha nenhum programa para administrar a Alemanha. A tática fez com que o candidato monopolizasse as atenções e chegasse a subir nas pesquisas no início do ano. Mas a euforia durou pouco.

No final, o SPD acabou pagando o preço de ter se amarrado com Merkel por tantos anos.

Logo após a divulgação do resultado, Schulz anunciou rapidamente a saída do seu partido do governo. "Esta tarde termina o trabalho com a CDU", disse. "Nós recebemos um mandato claro dos eleitores para ir para a oposição", completou Schulz, admitindo "um dia difícil e amargo para a social-democracia alemã".

O SPD ainda deve conseguir 150 cadeiras no Parlamento. Fora da coalizão, vai se tornar o principal partido de oposição da Alemanha. O resultado desta eleição também deve dar início a um processo de recomposição e autocrítica. Os 20,5% obtidos pelo partido nesta eleição só encontram paralelo nos péssimos resultados eleitorais do partido no final da República de Weimar (1919-1933).

A renascença liberal

O resultado deste domingo mostrou que ficar na oposição pode fazer bem para o desempenho dos partidos. Que o digam os liberal-democratas. Após ficarem de fora do Parlamento nas eleições de 2013, quando não conseguiram ultrapassar a cláusula de barreira de 5%, o partido de centro-direita, apoiado pelo setor industrial e comercial, passou por um intenso processo de renovação.

Seu novo líder após a derrota, Christian Lindner, de 39 anos, chegou a dizer que herdou um "corpo em decomposição". Nesta campanha, seus cartazes eleitorais vendiam a imagem do fotogênico líder como se ele fosse um pop-star. O partido também fez esforços para se afastar da pecha de apenas favorecer os ricos e apostou em um discurso que buscou recuperar sua mensagem liberal original, tanto no campo da economia quanto na sociedade. A tática parece ter dado certo.

Desde o fim da guerra, os liberal-democratas quase sempre ocuparam um papel tradicional e influente na formação dos governos, atuando como os responsáveis por "coroar" um chanceler de outro partido. Nos 68 anos da moderna democracia alemã, os liberais passaram 49 deles no papel de parceiros de coalizão.

Após os resultados deste domingo, espera-se que eles abram negociações com Merkel. Linder, no entanto, já avisou que uma aliança não é necessariamente automática, e que o partido vai querer arrancar várias concessões da parte de Merkel. "Tudo agora é sobre estabilidade. Todos os partidos devem assumir a responsabilidade. Nós não seremos arrastados para uma coalizão só porque o SPD saiu de maneira unilateral", disse.

Pular a seção Mais sobre este assunto