Preocupada com avanço da variante Delta, chanceler federal alemã pede que a Uefa seja responsável e não permita jogos lotados no Reino Unido. Baviera oferece a Allianz Arena como alternativa para as semifinais e final.
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A chanceler federal da Alemanha, Angela Merkel, advertiu contra estádios lotados nos jogos da Eurocopa no Reino Unido e alertou a União das Associações Europeias de Futebol (Uefa) a tomar decisões responsáveis. A preocupação de Merkel está atrelada ao aumento exponencial de casos de infecção pela variante Delta do coronavírus em solo britânico.
"Não acho que seria bom se os estádios lá [no Reino Unido] estiverem lotados", disse Merkel nesta terça-feira (22/06), após uma reunião em Berlim com a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen. "Espero que a Uefa aja com responsabilidade."
A variante Delta do coronavírus está em franca ascensão no Reino Unido. Por causa da mutação previamente descoberta na Índia, o número de novas infecções no Reino Unido tem aumentado significativamente, apesar de uma taxa de vacinação relativamente alta.
Consequentemente, a Alemanha classificou o Reino Unido como região de alto risco por variante do coronavírus. Isso significa que os viajantes oriundos do Reino Unido precisam ficar em quarentena por 14 dias ao chegarem à Alemanha. No entanto, para a Eurocopa, o governo federal alemão modificou ligeiramente as regras de entrada no país – a quarentena obrigatória não se aplica às equipes e suas comissões e nem aos jornalistas em trânsito com as seleções.
O apelo de Merkel está primariamente direcionado à Uefa. A chanceler federal alemã enalteceu os esforços do governo britânico na aplicação das medidas sanitárias e aproveitou a oportunidade para lamentar que na União Europeia (UE) "ainda não tenha sido possível ter um comportamento completamente uniforme dos Estados-membros no que diz respeito às regulamentações de viagens".
Merkel afirmou que poderia ter sido evitada uma situação como a de Portugal, onde foi reinstituído um confinamento parcial em Lisboa no fim de semana. "É por isso que temos que trabalhar mais duro", exigiu Merkel. A União Europeia fez progressos consideráveis nos últimos meses, "mas ainda não ao ponto onde gostaria que estivéssemos".
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Uefa mantém jogos em Londres
Há dias ronda o debate sobre se as semifinais e a final da Eurocopa deveriam ser mantidas em Londres ou alocadas a uma sede alternativa. O Estádio de Wembley receberá duas partidas das oitavas de final: no sábado, o já definido confronto entre Itália e Áustria, e em 29 de junho, possivelmente com participação da seleção alemã. Seguem as semifinais em 6 e 7 de julho e a final em 11 de julho. Além disso, outra partida das oitavas de final está marcada para Glasgow, em 29 de junho.
A Uefa avaliou que não há motivos para excluir as sedes britânicas da Eurocopa e comunicou que está trabalhando em estreia colaboração com as autoridades inglesas. Por parte da Uefa, não há planos para retirar as duas semifinais e a final do Estádio de Wembley.
Governo da Baviera oferece Allianz Arena
Peter Liese, especialista em saúde da aliança conservadora denominada Partido Popular Europeu (PPE) no Parlamento Europeu, questionou a realização da final com dezenas de milhares de torcedores. "A propagação da variante Delta torna impossível a ida de 40 mil espectadores ao estádio em Londres na final. Talvez uma mudança seja inevitável", escreveu Liese em carta aberta à Uefa.
A presidente da Comissão para Esportes no Parlamento alemão, Dagmar Freitag, também não poupou críticas ao órgão gestor do futebol europeu. "A proteção da saúde claramente não desempenha um papel para a Uefa", disse a política social-democrata à agência de notícias Reuters.
E os líderes dos governos de Áustria e Itália também se pronunciaram de forma contundente. O chanceler federal austríaco, Sebastian Kurz, afirmou ser "preciso esclarecer como vamos basicamente lidar com a situação", enquanto o primeiro-ministro italiano, Mario Draghi, afirmou que vai "trabalhar para garantir que a final não ocorra num país onde o risco de infecção seja muito alto".
O governador do estado alemão da Baviera, Markus Söder, ofereceu a Allianz Arena, em Munique, como alternativa para os jogos agendados para Londres.
pv (dpa, rtr, afp)
As variantes do novo coronavírus
Para evitar a estigmatização e a discriminação dos países onde as variantes do Sars-Cov-2 foram detectadas pela primeira vez, a OMS padronizou seus nomes conforme letras do alfabeto grego.
Foto: Sascha Steinach/ZB/picture alliance
Várias denominações para uma cepa
A Organização Mundial da Saúde (OMS) definiu que as novas variantes do coronavírus passam a ser chamadas por letras do alfabeto grego e não devem mais ser identificadas pelo local onde foram detectadas pela primeira vez. Cientistas criticavam ainda que estavam sendo usados vários nomes para a cepa descoberta na África do Sul, como B.1.351, 501Y.V2 e 20H/501Y.V2.
Foto: Christian Ohde/CHROMORANGE/picture alliance
Nomes científicos continuam válidos
A OMS pediu que os países e a imprensa passem a adotar a nova nomenclatura das variantes e evitem associar novas cepas aos locais de origem. A organização acrescentou, porém, que as novas denominações não substituem os nomes científicos, que devem continuar sendo usados em trabalhos acadêmicos.
Foto: Reuters/D. Balibouse
Variante alfa
A variante B.1.1.7 foi detectada em setembro de 2020 no Reino Unido e se espalhou pelo mundo. Segundo um estudo publicado em março na "Nature", há evidências de que a variante alfa seja 61% mais mortal do que o vírus original. Entre homens com mais de 85 anos, o risco de morte aumenta de 17% para 25%. Para mulheres da mesma faixa etária, de 13% para 19%, nos 28 dias posteriores à infecção.
Foto: Christian Ohde/imago images
Variante beta
Pesquisadores identificaram a variante B.1.351 em dezembro de 2020 na África do Sul. A cepa atinge pacientes mais jovens e é associada a casos mais graves da doença. Os cientistas sequenciaram centenas de amostras de todo o país desde o início da pandemia e observaram uma mudança no panorama epidemiológico, "principalmente com pacientes mais jovens, que desenvolvem formas graves da doença".
Foto: Christian Ohde/imago images
Variante gama
A variante P.1 foi detectada pela primeira vez em 10 de janeiro de 2021 pelo Japão em passageiros vindos de Manaus. Originária do Amazonas, ela se espalhou pelo Brasil e outros países vizinhos. A cepa possui 17 mutações, três das quais estão na proteína spike. São provavelmente essas últimas que fazem com que o vírus possa penetrar mais facilmente nas células para então se multiplicar.
Foto: Christian Ohde/imago images
Variante delta
A variante B.1.617, detectada em outubro de 2020 na Índia, causa sintomas diferentes dos provocados por outras cepas, é significativamente mais contagiosa e aparentemente aumenta o risco de hospitalização, segundo sugeriram estudos. "O vírus se adapta de forma inteligente. Muitos doentes recebem resultados negativos nos testes, mas desenvolvem sintomas graves", explicou um médico de Nova Déli.
Foto: Christian Ohde/imago images
Variante ômicron
A nova variante B.1.1.529, batizada de ômicron pela Organização Mundial da Saúde, foi descoberta em 11 de novembro de 2021 em Botsuana, que faz fronteira com a África do Sul, onde a cepa também foi encontrada. A ômicron contém 32 mutações na chamada proteína "spike" (S), número considerado extremamente alto. Cientistas avaliam que essa variante se dissemina mais rapidamente do que as anteriores.
Foto: Andre M. Chang/Zuma/picture alliance
A busca pela padronização
O novo padrão foi escolhido após "uma ampla consulta e revisão de muitos sistemas de nomenclatura", afirma a OMS. O processo durou meses e entre as sugestões de padronização estavam nomes de deuses gregos, de religiões, de plantas ou simplesmente VOC1, VOC2, e assim por diante.
Foto: Ohde/Bildagentur-online/picture alliance
Nomes e apelidos polêmicos
Desde o início da pandemia, os nomes utilizados para descrever o Sars-Cov-2 têm provocado polêmica. O ex-presidente americano Donald Trump costumava chamar o novo coronavírus de "vírus da China", como forma de tentar culpar o país asiático pela pandemia. O vírus foi detectado pela primeira vez na cidade chinesa de Wuhan.
Foto: picture-alliance/AA/A. Hosbas
Novas cepas podem ser mais perigosas
Mutações em vírus são comuns, mas a maioria delas não afeta a capacidade de transmissão ou de causar manifestações graves de doenças. No entanto, algumas mutações, como as presentes nas variantes do coronavírus originárias do Reino Unido, da África do Sul e do Brasil, podem torná-lo mais contagioso.
Foto: DesignIt/Zoonar/picture alliance
Associação ao local de origem
Historicamente, vírus novos costumam ganhar nomes associados ao local de descoberta, como o ebola, que leva o nome de um rio congolês. No entanto, esse padrão pode ser impreciso, como é o caso da gripe espanhola de 1918. As origens desse vírus são desconhecidas, mas acredita-se que os primeiros casos tenham surgido no estado do Kansas, nos Estados Unidos.
Foto: picture-alliance/National Museum of Health and Medicine