Merkel alerta alemães para crescimento do populismo
23 de novembro de 2016
Em seu primeiro pronunciamento desde que anunciou que vai concorrer a novo mandato, chanceler alemã não cita Trump, mas reconhece que populistas ganham espaço nas democracias ocidentais.
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A chanceler federal da Alemanha, Angela Merkel, fez um apelo aos alemães nesta quarta-feira (23/11) para que não cedam ao "populismo em expansão”. Foi o primeiro pronunciamento da chefe de governo desde que ela anunciou, no domingo, sua candidatura a um quarto mandato.
As declarações de Merkel foram feitas durante um debate realizado no Parlamento sobre o Orçamento do país para 2017. Sem mencionar o presidente eleito nos Estados Unidos, Donald Trump, a chanceler falou em "receios sobre a estabilidade da ordem a que estamos acostumados."
"Creio que não devemos subestimar isso que está acontecendo com a digitalização e com a internet", disse a governante, para quem "o populismo e o extremismo político vivem um momento de ascensão nas democracias ocidentais".
"Atualmente, há muita gente que consulta mídias baseadas em regras bem diferentes dos critérios jornalísticos em vigor até pouco tempo atrás. Não digo que essas são as únicas razões [para o aumento do populismo], mas gostaria de salientar que a maneira pela qual se forma opinião hoje em dia acontece de forma diferente do que há 25 anos", acrescentou.
A líder alemã salientou que a internet, através da digitalização, modificou completamente a mídia, com muitas informações falsas circulando na rede sem a devida averiguação jornalística, o que favoreceria a manipulação.
Merkel também chamou a atenção para a existência de notícias falsas criadas deliberadamente, além de métodos automatizados de manipular a opinião. Para a chanceler, valores como liberdade, ordem e lei não são mais vistos como normal.
Um dos caminhos para lidar com esse fenômeno seria por meio de legislação, disse Merkel, referindo-se a mensagens de ódio espalhadas pela internet.
No último domingo, Merkel anunciou a intenção de concorrer a um quarto mandato como chanceler da Alemanha, numa decisão recebida como sinal de estabilidade após o Reino Unido ter votado para deixar a União Europeia e a eleição de Donald Trump nos Estados Unidos.
Ao longo do ano, o partido de Merkel sofreu uma série de reveses em eleições estaduais, enquanto aumentou o apoio à legenda Alternativa para a Alemanha (AfD), que tem discurso anti-imigração.
Uma pesquisa do instituto Emnid divulgada no domingo mostrou que 55% dos alemães querem que Merkel, a oitava chanceler da Alemanha desde a Segunda Guerra, sirva um quarto mandato; 39% são contra.
Ip/dpa/afp
Merkel a caminho do quarto mandato
Quem poderia pensar? Vista como líder interina de seu partido após saída de Helmut Kohl, Merkel chefia a CDU desde 2000 e, há 11 anos, a Chancelaria Federal. Confira momentos de uma carreira que ainda não chegou ao fim.
Foto: Getty Images/C. Koall
Primeiro juramento
"Eu quero servir a Alemanha". A promessa foi feita por Angela Merkel no dia 22 de novembro de 2005, quando tomou posse como chanceler. Depois da vitória apertada nas eleições gerais, ela se tornou a primeira mulher e a primeira alemã da antiga parte oriental a ocupar o cargo. Merkel se tornou a chefe de governo, comandado pela grande coalizão formada entre os partidos CDU, CSU e SPD.
Foto: picture-alliance/dpa/G. Bergmann
Quem tem medo do cão de Putin?
Merkel é conhecida por sempre ser racional e se manter calma. O presidente da Rússia, Vladimir Putin, quis aparentemente testar os nervos da chanceler quando a recebeu na residência presidencial em Sochi, em 2007. Putin conseguiu revelar o ponto fraco de Merkel: ela tem medo de cães. Isso não impediu que o presidente russo deixasse o labrador Koni farejar os sapatos da chanceler.
Foto: picture-alliance/dpa/D. Astakhov
Resgate financeiro
Em situações de crise, Merkel age com frieza. Quando os mercados financeiros entraram em colapso em 2008 e ameaçaram prejudicar a economia alemã, a chanceler se empenhou na proteção do euro e na criação de fundos de resgate para as economias mais fracas do bloco europeu. Ela se destacou como eficiente gestora de crises, mas não escapou de receber críticas de países como Grécia e Espanha.
Foto: picture-alliance/epa/H. Villalobos
Caminho para o segundo mandato
Apesar do pior desempenho da aliança conservadora na história, Merkel venceu as eleições de 27 de setembro de 2009. Depois de se aliar ao Partido Social-Democrata (SPD), a chanceler estava pronta para iniciar o segundo mandato ao lado de outro parceiro, o Partido Liberal Democrático (FDP).
Foto: Getty Images/A. Rentz
Resposta rápida
Merkel que, como física, é conhecida por pensar de forma objetiva, não previu a catástrofe nuclear de Fukushima, no Japão. Defensora da política nuclear na Alemanha, Merkel mudou de posição em tempo recorde. A extensão do prazo de funcionamento das usinas foi suspenso e a Alemanha iniciou o processo de colocar fim ao uso da energia nuclear.
Foto: Getty Images/G. Bergmann
O homem ao seu lado
Quem o reconheceria? Quem conhece sua voz? Há dez anos, o marido de Merkel, Joachim Sauer, professor de Química da Universidade Humboldt, em Berlim, se mantém discreto. Eles estão casados desde 1998.
Foto: picture alliance/Infophoto
Amizade em crise
As escutas de comunicações de políticos alemães por parte da Agência de Segurança Nacional (NSA), dos Estados Unidos, abalaram as relações da Alemanha com a Casa Branca. Até o celular de Merkel foi alvo de espionagem. Uma frase da chanceler ficou famosa: "Não é aceitável que países amigos espiem uns aos outros".
Foto: Reuters/F. Bensch
O paciente grego
O clube de fãs de Merkel é extenso, mas na Grécia é provavelmente menor. A hostilidade contra a chanceler alemã nunca foi tão grande como em 2014, no auge da crise da dívida grega. A imagem de velha inimiga ressurgiu, mas Merkel se manteve firme em relação à política de austeridade que previu cortes e reformas a serem cumpridos por Atenas.
Foto: picture-alliance/epa/S. Pantzartzi
Emotiva, às vezes
Tipicamente reservada, Merkel quebrou os protocolos durante a final da Copa do Mundo de 2014 no Rio de Janeiro. A chanceler federal alemã celebrou a vitória da Alemanha sobre a Argentina ao lado do presidente alemão, Joachim Gauck. Ela estava no auge de sua popularidade, assim como a seleção vitoriosa.
Foto: imago/Action Pictures
"Nós podemos fazer isso!"
Para Merkel, o direito de asilo a refugiados não pode ser limitado. "Nós podemos fazer isso" se tornou o credo da chanceler sobre a política alemã de acolhida aos migrantes que fogem de guerras e perseguições. Se o país dará conta da enorme demanda, isso já é uma pergunta ainda em aberto.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Hoppe
"E agora, Merkel?"
Sexta-feira 13 – um massacre em novembro. A França está em situação de emergência e Merkel ofereceu "toda a assistência" ao país vizinho. O medo do terrorismo se espalha. Não há dúvidas de que esse é o maior desafio de Merkel em dez anos no poder.
Foto: picture-alliance/dpa/B. von Jutrczenka
Barulho na coalizão
Foi o castigo máximo para a chanceler federal. No congresso da CSU, em novembro de 2015, Horst Seehofer a repreendeu. O líder da legenda-irmã do partido de Merkel na Baviera criticou que a política migratória da chefe alemã de governo fez com que o país perdesse o controle de suas próprias fronteiras. Uma humilhação que Merkel teve que suportar de pé e sem oportunidade de resposta.
Foto: picture-alliance/AP Photo/S. Hoppe
Será que ele não poderia ficar?
Seria um alívio para Merkel continuar a lidar com Obama. Mas, no início, ela era bastante cética quanto a ele. O monitoramento do celular da chanceler federal, no contexto do escândalo de espionagem da NSA, parecia abonar a sua postura reservada. Mas, agora, um parceiro previsível sai de cena e dá lugar a Donald Trump. O jornal "New York Times" já a chama de "defensora do Ocidente liberal".
Foto: Reuters/F. Bensch
Merkel mais uma vez
Finalmente, após meses de intensas especulações em torno de sua candidatura à reeleição, Merkel confirma a sua intenção de concorrer a um quarto mandato. Durante entrevista coletiva em 20/11, ela diz à liderança de seu partido, a União Democrata Cristã (CDU), estar preparada para chefiar a legenda na eleição parlamentar alemã, prevista para setembro ou outubro de 2017.