Merkel apela à solidariedade em discurso de Ano Novo
Bernd Grässler (pv)31 de dezembro de 2015
Em pronunciamento, chanceler federal chama fluxo e integração de refugiados de "oportunidades do amanhã". Ela deixa de mencionar a crise do euro e deseja boa sorte à seleção alemã na Eurocopa na França.
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O imenso afluxo de migrantes e a integração de refugiados são "as oportunidades do amanhã", diz a chanceler federal alemã, Angela Merkel, em seu discurso de Ano Novo, a ser pronunciado nesta quinta-feira (31/12) e que teve o texto antecipado à imprensa. Em seu pronunciamento, Merkel deixa de mencionar a crise do euro – e deseja boa sorte à seleção alemã na Eurocopa a ser disputada na França.
Em relação à crise migratória, a chanceler federal alemã afirma que uma coisa será mais importante do que qualquer outra para a Alemanha em 2016: "A nossa solidariedade".
"É importante que não nos deixemos ser divididos. Nem em gerações, nem em grupos sociais, nem entre aqueles que já estão aqui e aqueles que são novos cidadãos", diz Merkel em seu pronunciamento de Ano Novo.
A chanceler federal alemã exige que as pessoas não devam seguir "aquelas com frieza, ou até mesmo com ódio em seus corações, e que reivindicam o direito de serem chamados de alemães e buscam marginalizar outros", sem mencionar o movimento anti-imigração Pegida (sigla em alemão para "Patriotas europeus contra a islamização do Ocidente").
Em suas palavras, alemães devem ser confiantes e livres, atenciosos e cosmopolitas. Para que a integração tenha sucesso, o país tem que aprender com os erros do passado. "Nossos valores, nossas tradições, nosso senso de justiça, nossa língua, nossas leis, nossas regras – tudo isso se aplica a todos aqueles que desejam viver aqui [na Alemanha]", afirma Merkel.
A chanceler federal sublinha que todos os países que tiveram uma integração bem sucedida de recém-chegados lucrou no futuro, economicamente e socialmente. Desta forma, Merkel deixa claro estar contando com um grande número de refugiados que permanecerão na Alemanha.
Ao mesmo tempo, ela diz que a Alemanha está trabalhando para melhorar a proteção das fronteiras externas da Europa; para transformar imigração ilegal em imigração legal; e para sustentar a luta contra as causas da crise migratória, a fim de alcançar uma redução em longo prazo do número de migrantes.
Repitam comigo: "Nós somos capazes!"
A maior parte do discurso é dedica à crise migratória. Merkel faz questão de agradecer a voluntários e colaboradores pela "avassaladora e verdadeiramente comovente onda de assistência prestativa e espontânea". Todavia, ela diz que é evidente que a chegada de tantas pessoas "exigirá muito" da população alemã em termos de tempo, energia e dinheiro.
Por fim, a chanceler federal repete seu mantra: "Nós somos capazes, porque a Alemanha é uma nação forte". Além daqueles envolvidos em trabalhos de ajuda humanitária para refugiados, Merkel também agradece "do fundo do coração" aos homens e às mulheres que servem nas Forças Armadas da Alemanha por colocarem "seus corpos e suas vidas em risco para defender os nossos valores, a nossa segurança e a nossa liberdade" na luta contra o terror do autoproclamado "Estado Islâmico" (EI).
Desafios mencionados em seu pronunciamento para o ano de 2015, como a revolução digital e a proteção climática, não estão presentes no discurso atual. A chanceler federal também não cita a crise do euro.
Em vez disso, Merkel, que é conhecida por ser fã da seleção alemã de futebol, faz questão de lembrar a todos que em 2016, na França, será realizada a Eurocopa: "Onde nossos campeões mundiais também querem se tornar campeões europeus."
Dez anos de Merkel como chanceler federal alemã
Angela Merkel chegou a ser vista apenas como líder interina do partido União Democrata Cristã (CDU) depois da saída de Helmut Kohl da chancelaria federal da Alemanha. Dez anos depois, a era Merkel continua.
Foto: picture-alliance/dpa/B. von Jutrczenka
Primeiro juramento
"Eu quero servir a Alemanha". A promessa foi feita por Angela Merkel no dia 22 de novembro de 2005, quando tomou posse como chanceler. Depois da vitória apertada nas eleições gerais, ela se tornou a primeira mulher e a primeira alemã da antiga parte oriental a ocupar o cargo. Merkel se tornou a chefe de governo, comandado pela grande coalizão formada entre os partidos CDU, CSU e SPD.
Foto: picture-alliance/dpa/G. Bergmann
O convidado do Tibet
O início da gestão de Merkel foi marcado por uma forma reservada de governar e por seu estilo de liderança "presidencial". Mas, em 2007, Merkel causou polêmica ao se reunir com Dalai Lama. O encontro gerou descontentamento em Pequim e fragilizou as relações entre Alemanha e China. A chanceler desafiou as preocupações e sinalizou querer se destacar como defensora de direitos humanos.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Schreiber
Quem tem medo do cão de Putin?
Merkel é conhecida por sempre ser racional e se manter calma. O presidente da Rússia, Vladimir Putin, quis aparentemente testar os nervos da chanceler quando a recebeu na residência presidencial em Sochi, em 2007. Putin conseguiu revelar o ponto fraco de Merkel: ela tem medo de cães. Isso não impediu que o presidente russo deixasse o labrador Koni farejar os sapatos da chanceler.
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Resgate financeiro
Em situações de crise, Merkel age com frieza. Quando os mercados financeiros entraram em colapso em 2008 e ameaçaram prejudicar a economia alemã, a chanceler se empenhou na proteção do euro e na criação de fundos de resgate para as economias mais fracas do bloco europeu. Ela se destacou como eficiente gestora de crises, mas não escapou de receber críticas de países como Grécia e Espanha.
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Caminho para o segundo mandato
Apesar do pior desempenho da aliança conservadora na história, Merkel venceu as eleições de 27 de setembro de 2009. Depois de se aliar ao Partido Social-Democrata (SPD), a chanceler estava pronta para iniciar o segundo mandato ao lado de outro parceiro, o Partido Liberal Democrático (FDP).
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Resposta rápida
Merkel que, como física, é conhecida por pensar de forma objetiva, não previu a catástrofe nuclear de Fukushima, no Japão. Denfensora da política nuclear na Alemanha, Merkel mudou de posição em tempo recorde. A extensão do prazo de funcionamento das usinas foi suspenso e a Alemanha iniciou o processo de colocar fim ao uso da energia nuclear.
Foto: Getty Images/G. Bergmann
O homem ao seu lado
Quem o reconheceria? Quem conhece sua voz? Há dez anos, o marido de Merkel, Joachim Sauer, professor de Química da Universidade Humboldt, em Berlim, se mantém discreto. Eles estão casados desde 1998.
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Amizade em crise
As escutas de comunicações de políticos alemães por parte da Agência de Segurança Nacional (NSA), dos Estados Unidos, abalaram as relações da Alemanha com a Casa Branca. Até o celular de Merkel foi alvo de espionagem. Uma frase da chanceler ficou famosa: "Não é aceitável que países amigos espiem uns aos outros".
Foto: Reuters/F. Bensch
O paciente grego
O clube de fãs de Merkel é extenso, mas na Grécia é provavelmente menor. A hostilidade contra a chanceler alemã nunca foi tão grande como em 2014, no auge da crise da dívida grega. A imagem de velha inimiga ressurgiu, mas Merkel se manteve firme em relação à política de austeridade que previu cortes e reformas a serem cumpridos por Atenas.
Foto: picture-alliance/epa/S. Pantzartzi
Emotiva, às vezes
Tipicamente reservada, Merkel quebrou os protocolos durante a final da Copa do Mundo de 2014 no Rio de Janeiro. A chanceler federal alemã celebrou a vitória da Alemanha sobre a Argentina ao lado do presidente alemão, Joachim Gauck. Ela estava no auge de sua popularidade, assim como a seleção vitoriosa.
Foto: imago/Action Pictures
"Nós podemos fazer isso!"
Para Merkel, o direito de asilo a refugiados não pode ser limitado. "Nós podemos fazer isso" se tornou o credo da chanceler sobre a política alemã de acolhida aos migrantes que fogem de guerras e perseguições. Se o país dará conta da enorme demanda, isso já é uma pergunta ainda em aberto.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Hoppe
"E agora, Merkel?"
Sexta-feira 13 – um massacre em novembro. A França está em situação de emergência e Merkel ofereceu "toda a assistência" ao país vizinho. O medo do terrorismo se espalha. Não há dúvidas de que esse é maior desafio de Merkel em dez anos no poder.