Merkel tacha de "vergonhosa" tentativa de invadir Parlamento
31 de agosto de 2020
Ameaça de "tomada" do Reichstag durante atos negacionistas foi inaceitável, diz porta-voz. Presidente pede distância da ultradireita, pois quem marcha "indiferente ao lado de neonazistas está no mesmo nível" que eles.
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O governo da chanceler federal da Alemanha, Angela Merkel, condenou nesta segunda-feira (31/08) a tentativa de manifestantes de extrema direita de invadir o Reichstag, sede do Parlamento alemão, no último sábado, durante protestos de negacionistas da covid-19 em Berlim.
Segundo o governo alemão, o que se viu no fim de semana foram "imagens vergonhosas" de uma ameaça de "tomada" do prédio que abriga o Bundestag por parte de ultradireitistas, que abusaram de seu direito de protestar de forma pacífica.
"O direito de se manifestar pacificamente é, sem dúvida, um bem muito valioso, mesmo durante uma pandemia", afirmou o porta-voz de Merkel, Steffen Seibert, em entrevista coletiva em Berlim. Mas as ações de sábado, segundo ele, foram um "claro abuso" desse direito.
"O resultado foram imagens vergonhosas no Reichstag que são inaceitáveis: antidemocratas tentando se fazer ouvir nos degraus do nosso Parlamento democrático", acrescentou.
A polícia estima que cerca de 38 mil pessoas saíram às ruas no sábado em diferentes pontos da capital alemã para protestar contra as medidas restritivas impostas pelo governo para conter a propagação do coronavírus, como o distanciamento social e o uso obrigatório de máscaras. Os atos contaram com a participação e foram promovidos por facções de extrema direita e neonazistas.
Depois que o protesto foi dispersado, cerca de 200 pessoas forçaram a entrada no edifício do Parlamento no centro da capital alemã. Eles conseguiram romper uma barreira de segurança e subiram correndo as escadarias, antes de serem detidos pela polícia.
Muitos dos envolvidos portavam roupas e bandeiras associadas ao movimento neonazista Reichsbürger (cidadãos do Reich), que nega a legitimidade do Estado alemão pós-guerra e quer o retorno das fronteiras nacionais de 1937. O incidente já havia gerado manifestações de indignação por políticos no domingo.
Seibert insistiu nesta segunda que esses 200 radicais não representam os 83 milhões de cidadãos do país, dos quais a grande maioria apoia as medidas contra a covid-19 e se comporta "de maneira responsável, prudente e atenciosa".
Segundo o porta-voz, os incidentes do fim de semana não devem ocultar o fato de que "a grande maioria da população na Alemanha pensa e age de forma diferente dos manifestantes em Berlim", e é justamente por isso que o país "está levando tão bem até o momento" a pandemia.
Seibert ainda elogiou a "capacidade de reação" e a "coragem" de três policiais que foram vistos defendendo sozinhos as escadas do Reichstag até a chegada de reforços.
O presidente alemão, Frank-Walter Steinmeier, recebeu nesta segunda-feira no Palácio Bellevue, sede da presidência em Berlim, alguns oficiais para agradecê-los por seu trabalho, entre eles os três agentes elogiados pelo porta-voz de Merkel.
Steinmeier descreveu a ação dos manifestantes como "desprezíveis". "Não vamos tolerar qualquer campanha de difamação antidemocrática ou depreciação da República Federal da Alemanha no Bundestag", declarou.
O presidente também afirmou que ver as bandeiras do Reich nos degraus do Parlamento – o "coração da democracia alemã" – não foi apenas "detestável", mas "absolutamente insuportável".
Assim, ele pediu aos manifestantes contrários às medidas de contenção que se distanciem claramente dos ultradireitistas, pois aqueles que marcham "com indiferença ao lado de neonazistas, xenófobos e antissemitas estão no mesmo nível" que eles.
Cerca de 300 pessoas foram detidas ao longo do sábado no contexto das manifestações de negacionistas, não só nos degraus do Parlamento mas também em frente à embaixada da Rússia, onde cerca de 2 mil manifestantes de extrema direita e membros do Reichsbürger atiraram pedras, garrafas e outros objetos contra os policiais.
Embora ainda atraiam uma minoria de pessoas, atos de resistência às restrições ao coronavírus ganharam força em cidades da Alemanha nas últimas semanas, reunindo um público diversificado de teóricos da conspiração, negacionistas, ativistas antivacina e extremistas de direita.
O ministro alemão da Saúde, Jens Spahn, foi insultado e atingido por um cuspe no fim de semana quando tentava dialogar com manifestantes enfurecidos na cidade de Bergisch Gladbach, no oeste do país. O porta-voz de Merkel condenou o incidente, afirmando que "certamente não se tratou de um diálogo democrático".
O ministro do Exterior da Alemanha, Heiko Maas, também rechaçou o ataque no Twitter. "Aqueles que alegam protestar a favor da liberdade também deveriam dar aos outros a liberdade para se explicar. Democratas lutam com argumentos, não com insultos."
EK/afp/ap/dpa/efe
Memoriais do Terror Nazista
Desde o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1945, diversos memoriais foram inaugurados na Alemanha para homenagear as vítimas do conflito e os perseguidos e mortos pelo regime nazista.
Foto: picture-alliance/dpa
Campo de concentração de Dachau
Um dos primeiros campos de concentração criados durante o regime nazista foi o de Dachau. Poucas semanas depois de Hitler chegar ao poder, os primeiros prisioneiros já foram levados para o local, que serviu como modelo para os futuros campos do Reich. Apesar de não ter sido concebido como campo de extermínio, em nenhum outro lugar foram assassinados tantos dissidentes políticos.
Foto: picture-alliance/dpa
Reichsparteitagsgelände
A antiga área de desfiles do Partido Nacional-Socialista em Nurembergue, denominada "Reichsparteitagsgelände", foi de 1933 até o início da Segunda Guerra palco de passeatas e outros eventos de propaganda do regime nazista, reunindo até 200 mil participantes. Lá está atualmente instalado um centro de documentação.
Foto: picture-alliance/Daniel Karmann
Casa da Conferência de Wannsee
A Vila Marlier, localizada às margens do lago Wannsee, em Berlim, foi um dos centros de planejamento do Holocausto. Lá reuniram-se, em 20 de janeiro de 1942, 15 membros do governo do "Terceiro Reich" e da organização paramilitar SS (Schutzstaffel) para discutir detalhes do genocídio dos judeus. Em 1992, o Memorial da Conferência de Wannsee foi inaugurado na vila.
Foto: picture-alliance/dpa
Campo de Bergen-Belsen
De início, a instalação na Baixa Saxônia servia como campo de prisioneiros de guerra. Nos últimos anos do conflito, eram geralmente enviados para Bergen-Belsen os doentes de outros campos. A maioria ou foi assassinada ou morreu em decorrência das enfermidades. Uma das 50 mil vitimas foi a jovem judia Anne Frank, que ficou mundialmente conhecida com a publicação póstuma do seu diário.
Foto: picture alliance/Klaus Nowottnick
Memorial da Resistência Alemã
No complexo de edifícios Bendlerblock, em Berlim, planejou-se um atentado fracassado contra Adolf Hitler. O grupo de resistência, formado por oficiais sob comando do coronel Claus von Stauffenberg, falhou na tentativa de assassinar o ditador em 20 de julho de 1944. Parte dos conspiradores foi fuzilada no mesmo dia, no próprio Bendlerblock. Hoje, o local abriga o Memorial da Resistência Alemã.
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Ruínas da Igreja de São Nicolau
Como parte da Operação Gomorra, aviões americanos e britânicos realizaram uma série de bombardeios contra a estrategicamente importante Hamburgo. A Igreja de São Nicolau, no centro da cidade portuária, servia aos pilotos como ponto de orientação e foi fortemente danificada nos ataques. Depois de 1945 não foi reconstruída, e suas ruínas foram dedicadas às vítimas da guerra aérea na Europa.
Foto: picture-alliance/dpa
Sanatório Hadamar
A partir de 1941, portadores de doenças psiquiátricas e deficiências eram levados para o sanatório de Hadamar, em Hessen. Considerados "indignos de viver" pelos nazistas, quase 15 mil – de um total de 70 mil em todo o país – foram mortos ali com injeções de veneno ou com gás. O atual memorial engloba a antiga instituição da morte e o cemitério contíguo, onde estão enterradas algumas das vítimas.
Foto: picture-alliance/dpa
Monumento de Seelow
A Batalha de Seelow deu início à ofensiva do Exército Vermelho contra Berlim, em abril de 1945. No maior combate em solo alemão, cerca de 100 mil soldados das Wehrmacht enfrentaram o Exército soviético, dez vezes maior. Após a derrota alemã, em 19 de abril o caminho para Berlim estava aberto. Já em 27 de novembro de 1945 era inaugurado o monumento nas colinas de Seelow, em Brandemburgo.
Foto: picture-alliance/dpa
Memorial do Holocausto
O Memorial ao Holocausto em Berlim foi inaugurado em 2005, em memória aos 6 milhões de judeus assassinados pelos nazistas na Europa. Não muito distante do Bundestag (parlamento), 2.711 estelas de cimento de tamanhos diferentes formam um labirinto por onde os visitantes podem caminhar livremente. Uma exposição subterrânea complementa o complexo do Memorial.
Foto: picture-alliance/dpa
Monumento aos Homossexuais Perseguidos
De formas inspiradas no Memorial do Holocausto e próximo a ele, o monumento aos homossexuais perseguidos pelo nazismo foi inaugurado em 27 de maio de 2008, no parque berlinense Tiergarten. Uma abertura envidraçada permite ao visitante vislumbrar o interior do monumento, onde um vídeo infinito mostra casais de homens e de mulheres que se beijam.
Foto: picture alliance/Markus C. Hurek
Monumento aos Sintos e Roma Assassinados
O mais recente memorial central foi inaugurado em Berlim em 2012. Em frente ao Reichstag, um jardim lembra o assassinato de 500 mil ciganos durante o regime nazista. No centro de uma fonte de pedra negra, está uma estela triangular: ela evoca a forma do distintivo que os prisioneiros ciganos dos campos de concentração traziam em seus uniformes.
Foto: picture-alliance/dpa
'Pedras de Tropeçar'
Na década de 1990, o artista alemão Gunter Demnig começou um projeto de revisão do Holocausto: diante das antigas residências das vítimas, ele aplica placas de metal onde estão gravados seus nomes e as circunstâncias das mortes. Há mais de 45 mil dessas "Stolpersteine" (pedras de tropeçar) na Alemanha e em 17 outros países europeus, formando o maior memorial descentralizado às vítimas do nazismo.