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Merkel defende envio de armas ao Iraque

1 de setembro de 2014

Além de apelar para o aspecto humanitário, chanceler federal adverte que o alastramento do "Estado Islâmico" pode chegar até a Europa. Oposicionistas acusam Berlim de subestimar o perigo de armas caírem em mãos erradas.

Foto: picture-alliance/dpa

A chanceler federal da Alemanha, Angela Merkel, invocou os interesses de segurança de seu país, ao justificar a decisão de envio armas para os combatentes curdos no Iraque. Em declaração governamental apresentada no Bundestag (câmara baixa do Parlamento), nesta segunda-feira (01/09), ela defendeu a necessidade de conter a milícia terrorista "Estado Islâmico" (EI).

"Quando terroristas subjugam um território, a fim criar um refúgio para si e para seus fanáticos, aí o perigo cresce também para nós", declarou Merkel, para quem isso poderá resultar na desestabilização de todo o Oriente Médio pelo EI, com possíveis efeitos para a Alemanha e a Europa.

Merkel acusou os fundamentalistas islâmicos do EI de cometerem "atrocidades inconcebíveis" nas últimas semanas. Ela lembrou que, de acordo com dados dos serviços secretos, cerca de 400 milicianos do "Estado Islâmico" possuem passaporte alemão.

"O terror do EI não pode nos deixar impassíveis, por vários motivos", disse. Segundo a chanceler federal, é necessário impedir sua expansão e novos genocídios na região.

Ajuda humanitária, apesar de armas

Neste sábado, o governo alemão anunciou que fornecerá armas no valor de 70 milhões de euros aos combatentes peshmerga no norte do Iraque. O fornecimento inclui 500 mísseis antitanque, 16 mil fuzis e 10 mil granadas de mão, e deverá ocorrer ainda neste mês.

Além disso, soldados curdos serão treinados, na base militar de Hammelburg, para usar os sistemas de armas. Por outro lado, Berlim descarta categoricamente o envio de tropas de combate. Paralelamente, as verbas para ajuda humanitária à região foram elevadas para 50 milhões de euros.

"Há a ameaça de uma catástrofe humanitária", advertiu Merkel no Bundestag, acrescentando que, apesar do apoio armamentista, para Berlim, a assistência humanitária continua em primeiro plano.

Segundo a premiê, seu governo se viu entre duas alternativas: evitar os riscos, aceitando o alastramento do terrorismo, ou aplacar o sofrimento imenso dos iraquianos. Ela também não exclui que refugiados da região sejam acolhidos na Alemanha.

Atualmente, cerca de 1,2 milhão de pessoas estão em fuga dos fundamentalistas do EI no norte iraquiano. Sua violência se dirige em especial contra a comunidade etnorreligiosa curda dos yazidis, mas também contra cristãos e outras minorias. O "Estado Islâmico" é combatido tanto pelas tropas peshmerga quanto pelo Exército do Iraque.

Tropas peshmerga combatem EI junto com Exército iraquianoFoto: Reuters

Rechaço da oposição

O tema desencadeou acalorado debate no Bundestag. Enquanto os deputados da coalizão governamental, formada pelo Partido Social-Democrata (SPD) e a União Democrata Cristã (CDU), expressaram amplo apoio, a decisão foi contestada pela bancada do A Esquerda e grande parte do Partido Verde, que acusaram o governo de subestimar os riscos.

Um dos principais argumentos contrários é a possibilidade de que, no fim, as armas alemãs caiam nas mãos erradas. O líder da bancada esquerdista, Gregor Gysi, afirmou que não há como influenciar o uso real dos equipamentos. O líder de bancada verde Anton Hofreiter reforçou que "ninguém pode controlar onde essas armas iram acabar, nem para que finalidade serão empregadas".

Esse receio transcende as fronteiras partidárias. Thomas Oppermann, que chefia a bancada do SPD, também admitiu que "não se sabe 100% o que, no fim das contas, vai acontecer com as armas". Entretanto, argumentou: se a Alemanha não agir, "existe perigo agudo de um genocídio". Ele prometeu cuidar para que "a ajuda humanitária para essa região seja sempre consideravelmente mais elevada do que a ajuda armamentista".

O Bundestag tem peso apenas simbólico sobre essa decisão. O voto dos parlamentares serve apenas para respaldar o curso adotado pelo governo alemão, não tendo influência real – como acontece ao se decidir sobre uma eventual missão das Forças Armadas no estrangeiro.

AV/epd/rtr/dpa

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