Merkel defende teto migratório como base para negociações
9 de outubro de 2017
Chanceler federal alemã diz que teto de 200 mil refugiados por ano acordado por conservadores é "boa base" para negociar coalizão com FDP e Partido Verde. Tema deve desempenhar papel-chave na formação de um governo.
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A chanceler federal da Alemanha, Angela Merkel, afirmou nesta segunda-feira (09/10) que um acordo migratório alcançado na véspera entre seu partido, a União Democrata Cristã (CDU), e a legenda-irmã União Social Cristã (CSU), da Baviera, é uma "boa base" para iniciar as negociações em busca de uma coalizão de governo. O acordo prevê o limite de 200 mil refugiados por ano.
"CDU e CSU alcançaram um resultado comum que eu vejo como uma base muito boa para começar agora as negociações com o FDP [Partido Liberal Democrático] e o Partido Verde", declarou Merkel à imprensa juntamente com o líder do CSU, Horst Seehofer, em Berlim.
"A Alemanha precisa de um governo estável. Agora, o caminho está aberto para falar com o FDP e os verdes." A chanceler federal afirmou que CDU e CSU vão se separadamente, no dia 18 de outubro, com os líderes do FDP e, depois, com os do Partido Verde.
O acordo migratório entre CSU e CDU foi alcançado após anos de disputa quanto a um limite para a entrada de refugiados no país depois de a Alemanha receber, em 2015, quase 900 mil solicitantes de asilo. O acordo prevê uma série de medidas para evitar que mais de 200 mil refugiados entrem no país por ano, mas não define um teto fixo.
"Não foi fácil. Durante quatro horas analisamos toda a questão migratória", explicou Merkel sobre o principal obstáculo para formar um novo governo, lembrando que o que ocorreu em 2015 "não pode voltar a acontecer".
Coalizão "Jamaica"
O acordo também foi firmado duas semanas depois de a CDU obter seu segundo pior resultado desde o pós-Guerra, em uma eleição que registrou o crescimento do partido populista de direita Alternativa para a Alemanha (AfD), que ingressou no Bundestag (Parlamento alemão) pela primeira vez. Após o êxito da AfD, Seehofer pressionava para que a coalizão CDU-CSU recuperasse uma agenda mais conservadora com um plano de dez pontos.
Nas eleições do último dia 24 de setembro, além da CDU, os eleitores alemães também puniram o Partido Social-Democrata (SPD), parceiro de coalizão de Merkel, que acabou recebendo sua menor votação proporcional do pós-guerra e anunciou que voltará à oposição.
Com isso, a Alemanha está a caminho de uma formação inédita de governo: a chamada coalizão "Jamaica", uma alusão à semelhança entre as cores dos partidos União Democrata Cristã (CDU), FDP e Verde, e a bandeira do país caribenho.
É provável que a questão dos refugiados desempenhe um papel importante e também cause dificuldades nas próximas negociações de coalizão. Enquanto a CSU pressionou pelo teto migratório, os verdes se opõem a qualquer tipo de limite de refugiados recebidos pelo país.
A Alemanha recebeu mais de 1 milhão de migrantes entre 2015 e 2016, mas os números diminuíram drasticamente desde que a rota dos Bálcãs foi bloqueada no início do ano passado. Um acordo feito com a Turquia evitou também que um grande número de refugiados tentassem atravessar o Mar Mediterrâneo em direção à Europa.
FC/dpa/efe/afp/rtr
As imagens que marcaram a crise migratória
Fotos impressionantes do enorme fluxo de migrantes para a Europa em 2015 e 2016 circularam pelo mundo. No Dia Mundial do Refugiado, vale lembrar a perseverança dos que foram forçadas a deixar seus países.
Foto: Getty Images/AFP/A. Messinis
A meta: sobreviver
Uma jornada combinada com sofrimento e perigo para corpo e alma: para fugir da guerra e da miséria, centenas de milhares de pessoas, principalmente da Síria, viajaram pela Turquia para a Grécia em 2015 e 2016. Ainda há cerca de 10 mil pessoas nas ilhas de Lesbos, Chios e Samos. De janeiro a maio deste ano, chegaram mais de 6 mil novos refugiados.
Foto: Getty Images/AFP/A. Messinis
A pé até a Europa
Em 2015 e 2016, milhões de pessoas tentaram, a pé, chegar à Europa Ocidental através da Turquia ou da Grécia até a Macedônia, Sérvia e Hungria. Este fluxo não parou mesmo depois de a chamada rota dos Bálcãs ter sido fechada e muitos países terem bloqueado suas fronteiras. Hoje, a maioria dos refugiados vai para a Europa usando a perigosa rota pelo Mediterrâneo através da Líbia.
Foto: Getty Images/J. Mitchell
Consternação mundial
Esta foto chocou o mundo em setembro de 2015: numa praia da Turquia foi encontrado o corpo do menino sírio Aylan Kurdi, de 3 anos. A imagem se espalhou rapidamente pelas redes sociais e se tornou um símbolo da crise dos refugiados. Depois dela, a Europa não podia mais se omitir.
Foto: picture-alliance/AP Photo/DHA
Caos e desespero
Sabendo que a rota de fuga para a Europa seria fechada, milhares de refugiados tentaram desesperadamente entrar em trens e ônibus na Croácia. Alguns dias depois, em outubro de 2015, a Hungria fechou a fronteira e criou campos com contêineres, onde os refugiados seriam mantidos durante a análise de seu pedido de asilo político.
Foto: Getty Images/J. J. Mitchell
Hostilidades
A indignação foi grande quando uma repórter cinematográfica húngara deu uma rasteira num refugiado sírio que corria com um menino no colo. Ele tentava passar por uma barreira policial na fronteira húngara em setembro de 2015. No auge da crise de refugiados aumentavam as hostilidades contra imigrantes, com ataques xenófobos a abrigos de refugiados também na Alemanha.
Foto: Reuters/M. Djurica
Fronteiras fechadas
O fechamento oficial da rota dos Bálcãs, em março de 2016, gerou tumultos nos postos de fronteira, onde milhares de migrantes não puderam mais avançar e houve relatos de violência policial. Muitos, como estes refugiados, tentaram contornar os postos de fronteira entre a Grécia e a Macedônia.
Uma criança ensanguentada coberta de poeira: a fotografia de Omran, de 5 anos, chocou o público em 2016 e se tornou um símbolo dos horrores da guerra civil da Síria e do sofrimento de seu povo. Um ano mais tarde, novas imagens mostrando o menino bem mais feliz circularam na internet. Apoiadores do presidente sírio afirmam que a primeira imagem foi usada para fins de propaganda.
Foto: picture-alliance/dpa/Aleppo Media Center
Em busca de segurança
Um sírio carrega a filha na chuva em Idomeni, entre a Grécia e a Macedônia. Ele procura abrigo na Europa. Segundo o Regulamento de Dublin, o asilo político precisa ser solicitado no primeiro país da União Europeia a que o refugiado chegou. Por isso, muitos que prosseguem viagem são mandados de volta. Por sua localização fronteiriça, Itália e Grécia são os países onde mais chegam refugiados.
Foto: Reuters/Y. Behrakis
Esperança
A Alemanha continua sendo o principal destino dos migrantes, embora a política de refugiados e de asilo do país tenha se tornado mais restritiva após o grande afluxo no final de 2015. Nenhum outro país europeu acolheu tantos refugiados como a Alemanha, que recebeu 1,2 milhão de pessoas desde 2015. A chanceler federal Angela Merkel foi um ícone para muitos dos recém-chegados.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Hoppe
Miséria nos campos de refugiados
No norte da França, um enorme campo de refugiados, a chamada "Selva de Calais", foi fechado. Durante a evacuação, em outubro de 2016, houve um incêndio no acampamento. Cerca de 6.500 moradores foram removidos para outros abrigos na França. Meio ano depois, organizações de ajuda relataram sobre muitos refugiados menores de idade que vivem como sem-teto em volta da cidade de Calais.
Foto: picture-alliance/dpa/E. Laurent
Afogamentos no Mediterrâneo
ONGs e guardas costeiras estão constantemente à procura de barcos de migrantes em perigo. Eles preferem atravessar o mar em embarcações precárias superlotadas a viver sem perspectivas na pobreza ou em meio à guerra civil. Só em 2017, a travessia já custou 1.800 vidas. Em 2016 foram registrados 5 mil mortos.
Foto: picture alliance/AP Photo/E. Morenatti
Milhares esperam na Líbia
Centenas de milhares de refugiados da África Subsaariana e do Oriente Médio esperam em campos líbios para atravessar o Mar Mediterrâneo. Muitos estão nas mãos de contrabandistas humanos e traficantes de pessoas. As condições nesses locais são catastróficas, dizem ONGs. Testemunhas relatam casos de escravidão e prostituição forçada. Ainda assim, continua vivo o sonho de chegar à Europa.
Foto: Narciso Contreras, courtesy by Fondation Carmignac