Merkel defende mais participação de mulheres na política
23 de outubro de 2021
Chanceler federal afirmou ao jornal alemão Süddeutsche que ter apenas homens na política não se encaixa mais nos dias de hoje e que, para um partido continuar popular, deve atrair mais mulheres para suas fileiras.
Anúncio
A chanceler federal da Alemanha, Angela Merkel, defendeu que mais mulheres devem ser encorajadas a se envolver na política.
"Ainda não conseguimos entusiasmar mulheres suficientes para a política", disse Merkel em entrevista publicada na edição deste sábado (23/10) do jornal alemão Süddeutsche.
"Precisamos trabalhar para que as mulheres tenham mais confiança em geral. Porque mesmo quando há mulheres presentes, não é como se elas estivessem disputando a posição de liderança do partido", argumentou.
"Só posso encorajar as mulheres a se envolverem. Só ter homens não se encaixa mais no nosso tempo", acrescentou.
Ela observou que, se uma legenda deseja permanecer como um grande partido popular, deve atrair mais mulheres para suas fileiras e lutar pela paridade de gênero.
Os comentários foram feitos em meio a um acalorado debate na Alemanha nesta semana sobre desigualdade de gênero e sexismo, após acusações de má conduta na empresa de mídia Axel Springer e temores de que a saída de Merkel do cargo de chanceler possa resultar na escassez de mulheres nos altos escalões do governo alemão.
Uma exceção em partido dominado por homens
Há muito tempo, Merkel é uma exceção na elite de seu partido, a União Democrata Cristã (CDU), legenda conservadora e dominada por homens.
Merkel, a primeira mulher chanceler do país, por muito tempo evitou se declarar feminista e demorou a apoiar políticas como cotas de diretoria para mulheres. Ainda assim, em 2018, ela pressionou publicamente a CDU para atrair mais mulheres.
Neste ano, em evento ao lado da escritora feminista nigeriana Chimamanda Ngozi Adichie, Merkel expressou uma mudança de opinião.
Na sexta-feira, o papa Francisco disse que Merkel é um modelo para muitas mulheres no que diz respeito ao engajamento político.
"Considero a liderança de Angela Merkel um marco interessante na política mundial e um apelo às mulheres que sentem uma vocação política", disse o pontífice à agência de notícias argentina Telam.
O ex-presidente dos Estados Unidos Barack Obama também elogiou os valores e a capacidade de Merkel para enfrentar as crises globais. Graças a Merkel, "o centro resistiu a muitas tempestades", disse Obama.
Merkel, que não concorreu nas eleições federais de setembro, deve deixar a política após 16 anos como chanceler. E seu partido sofreu uma derrota histórica no pleito. A CDU de Merkel recebeu apenas 24,1% dos votos no pleito geral realizado em setembro, ficando atrás do Partido Social-Democrata (SPD), de centro-esquerda, que por anos atuou como seu parceiro de governo na chamada "grande coalizão".
Paridade de gênero no governo alemão
Merkel provavelmente terá como sucessor o social-democrata Olaf Scholz, atual vice-chanceler e ministro das Finanças. A legenda de Scholz, o Partido Social Democrata (SPD), de centro-esquerda, que obteve a maioria dos votos e negocia uma coalizão com o Partido Verde e o Partido Liberal Democrático (FDP) para formar o próximo governo.
A paridade de gênero pode se tornar um ponto de discórdia entre as siglas, já que as três partes parecem divididas sobre o tema. No entanto, Scholz anunciou que buscará a paridade de gênero em seu gabinete enquanto estiver na chancelaria.
le (dpa, Reuters, AFP)
Os 16 anos da era Merkel em imagens
A longeva chefia de governo de Angela Merkel deixou o cargo em 2021. Reveja alguns momentos que marcaram os quatro mandatos da chanceler federal.
Foto: Georg Wendt/dpa/picture alliance
O primeiro juramento
Em 22 de novembro de 2005, Angela Merkel prestou juramento perante o então presidente do Bundestag, Nortbert Lammert, como a primeira mulher e a primeira representante do leste alemão a se tornar chanceler federal. Àquela altura, ninguém podia prever que ela permaneceria na chefia de governo por 16 anos.
Foto: picture-alliance/dpa/G. Bergmann
O cachorro de Putin
Esta imagem ficará na memória: Merkel se mostrou inabalável durante uma visita ao presidente russo, Vladimir Putin, em 2007 - até mesmo quando o cachorro dele apareceu. Houve quem interpretasse a presença do animal como uma provocação: é fato conhecido que Merkel tem medo de cães desde que foi mordida certa vez.
Foto: Imago/ITAR-TASS
Selfie com a chanceler federal
A selfie de Merkel com o jovem refugiado Anas Modamani, da Síria, rodou o mundo. Quando a chanceler federal visitou o abrigo em que Modamani se encontrava, em Berlim, ele inicialmente não sabia quem ela era. A foto acabou se tornando um símbolo da famosa frase de Merkel "Nós vamos conseguir", proferida no contexto da crise migratória de 2015.
Foto: Getty Images/S. Gallup
Registro diplomático
O governo Merkel é marcado sobretudo por uma série de difíceis encontros políticos - como este da foto, durante a cúpula do G7 de 2018, no Canadá. A imagem ocupou manchetes em todo o mundo. Será que Merkel estava explicando ao então presidente dos EUA, Donald Trump, como as coisas devem ser feitas?
Foto: Reuters/Bundesregierung/J. Denzel
Experiência com personalidades difíceis
Durante uma visita aos EUA em 2017, Merkel ficou visivelmente irritada com o recém-empossado presidente Trump. O encontro gerou especulações: será que o líder americano realmente se recusou a apertar a mão da chanceler federal alemã diante das câmeras? Posteriormente, apesar de todo o o burburinho, Merkel falou numa "troca boa e aberta" com o republicano.
Foto: Reuters/J. Ernst
Uma questão de estilo
Não apenas a política de Merkel, mas também suas roupas foram objeto de discussão: durante uma visita à ópera em Oslo, ela usou um vestido decotado - e assim provocou discussões que chegaram até o nível da coletiva de imprensa do governo federal. Mas, no geral, Merkel optou principalmente por vestir blazers e calças.
Foto: picture-alliance/ dpa
Caminhadas nas horas vagas
Pouco se sabe sobre a vida privada de Merkel - exceto, por exemplo, sobre seu gosto por caminhadas, muitas vezes ao lado do marido, Joachim Sauer, na ilha italiana de Ischia. Uma vez ela revelou que as caminhadas a permitiam se desconectar do trabalho.
Foto: picture-alliance/ANSA/R. Olimpio
Viva o futebol!
Normalmente transmitindo uma imagem bastante tranquila, Merkel mostrou diversas vezes um lado diferente quando se tratava de futebol, como neste momento registrado durante a Copa do Mundo de 2014, no Brasil, em que ela comemora um gol da seleção nacional. Uma confidente próxima revelou há alguns anos que particularmente o Bayern de Munique agradava à chanceler federal.
Foto: imago/ActionPictures
Um gesto simbólico
O típico gesto de Merkel - um losango feito com as mãos diante da barriga - tornou-se marca registrada da líder alemã. O losango não foi apenas usado na campanha eleitoral de 2013, mas também transformado em emoji. Quem sentir falta do gesto talvez possa matar as saudades com Olaf Scholz: na campanha eleitoral de 2021, o candidato social-democrata a chanceler federal também adotou o losango.
Foto: REUTERS
Olha o passarinho
Merkel como nunca se viu: às vésperas das eleições federais de 26 de setembro de 2021, quando eleitores foram às urnas para selar o fim da era Merkel, a chanceler federal visitou o Parque de Aves Marlow, no estado alemão de Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental. Fotos divertidas da chefe de governo na companhia de passarinhos logo viralizaram, transmitindo uma imagem descontraída da líder alemã.
Foto: Georg Wendt/dpa/picture alliance
Lembrança inusitada
Com blazer vermelho, colar e o típico gesto de losango, este ursinho de pelúcia fabricado pela empresa familiar Hermann homenageia Merkel. Os 500 exemplares do bichinho logo se esgotaram, mas um deles ainda deverá ser presenteado a chanceler federal que em breve deixará o cargo.