Parlamento colhe depoimento da chanceler alemã na condição de testemunha em caso envolvendo serviços de inteligência dos EUA e da Alemanha. Ela nega que soubesse de ampla espionagem de aliados por americanos e alemães.
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A chanceler federal alemã, Angela Merkel, depôs nesta quinta-feira (16/02) como testemunha na audiência final do comitê parlamentar encarregado de investigar o escândalo de espionagem envolvendo a Agência de Segurança Nacional (NSA) dos EUA e o serviço secreto alemão, revelado em 2013.
Apesar de admitir erros técnicos e organizacionais, a líder alemã desmentiu alegações de que sabia desde o início sobre a ampla espionagem de aliados por parte da NSA e do Departamento Federal de Informações da Alemanha (BND).
O testemunho de Merkel era muito aguardado não somente por ela ocupar o cargo de chanceler federal, mas também devido a uma declaração marcante que deu em 2013: "Espionagem entre amigos é algo que não dá [para aceitar]."
Aparentemente tranquila, Merkel começou com uma declaração de 25 minutos repleta de referências a frases ditas por ela mesma entre 2013 e 2015. Ela tentou provar que se manifestou contra a vigilância de aliados por parte dos serviços de inteligência logo após as revelações feitas pelo ex-colaborador da NSA Edward Snowden em 2013.
A chanceler federal alemã também tentou mostrar que tomou conhecimento gradualmente sobre a dimensão da espionagem de alemães praticada pela NSA e do monitoramento de aliados por parte do BND.
Ela afirmou ter reclamado ao então presidente dos EUA, Barack Obama, sobre a espionagem americana em 2013, insistindo que os serviços de inteligência do país deveriam obedecer à lei alemã ao atuarem em solo alemão. "Não estamos mais na Guerra Fria", afirmou Merkel, citando a frase que disse a Obama.
Merkel afirmou que a situação se tornou mais complicada devido à natureza complexa e em constante evolução da tecnologia de vigilância. "Há sempre algumas contradições entre liberdade e segurança, e um equilíbrio deve ser mantido."
Quanto ao suposto grampo do celular da chanceler executado pela NSA, Merkel afirmou que nunca foi provado que o serviço de inteligência americano havia escutado suas conversas. Ela disse ter recebido garantias de Obama de que seu telefone não foi grampeado e de que não seria.
Críticas à resposta do governo
Membros do Partido Social-Democrata (SPD), de A Esquerda e do Partido Verde tentaram sugerir que Merkel havia violado seu próprio princípio de que aliados não deveriam se espionar ao não acompanhar o assunto com o vigor necessário junto a Washington e não assegurar que práticas semelhantes do BND fossem interrompidas.
Christian Flisek, parlamentar do SPD, reagiu à insistência da chanceler de que só tomou conhecimento gradualmente do uso de chamados seletores – termos de busca usados em conexão com endereços de e-mail de políticos europeus e empresas – pelo BND. "É responsável exigir algo de serviços de inteligência estrangeiros quando não se tem certeza do que os próprios serviços estão fazendo?", perguntou o político.
Quando Flisek questionou se Merkel havia perguntado sobre a origem das informações repassadas a ela pelo BND, a chanceler respondeu: "Não preciso de informação sobre fontes de informação."
Merkel disse que sua declaração de que "amigos" não deveriam espionar uns aos outros foi motivada por uma crença política e não foi uma afirmação de que os alemães não vigiam seus aliados.
Quando pressionada quanto à demora até março de 2015 para que o BND parasse de usar seletores controversos, a chanceler federal alegou "déficits técnicos e organizacionais".
"A senhora afirma que amigos não podem espionar uns aos outros, mas o BND fez exatamente isso durante anos", criticou André Hahn, de A Esquerda. "E isso foi somente devido a 'déficits técnicos e organizacionais'?
Merkel negou qualquer conhecimento mais aprofundado sobre as práticas de vigilância da Alemanha anteriores a 2015 e qualquer responsabilidade por erros cometidos por seus subordinados. Ela disse que, como chanceler federal, estabeleceu metas políticas e confiou que os funcionários do governo verificariam que elas estavam sendo cumpridas.
O depoimento de Merkel encerra o principal trabalho investigativo do comitê, formado em março de 2014. Um relatório final sobre o caso NSA-BND deve ser apresentado até o fim de junho deste ano.
Merkel a caminho do quarto mandato
Quem poderia pensar? Vista como líder interina de seu partido após saída de Helmut Kohl, Merkel chefia a CDU desde 2000 e, há 11 anos, a Chancelaria Federal. Confira momentos de uma carreira que ainda não chegou ao fim.
Foto: Getty Images/C. Koall
Primeiro juramento
"Eu quero servir a Alemanha". A promessa foi feita por Angela Merkel no dia 22 de novembro de 2005, quando tomou posse como chanceler. Depois da vitória apertada nas eleições gerais, ela se tornou a primeira mulher e a primeira alemã da antiga parte oriental a ocupar o cargo. Merkel se tornou a chefe de governo, comandado pela grande coalizão formada entre os partidos CDU, CSU e SPD.
Foto: picture-alliance/dpa/G. Bergmann
Quem tem medo do cão de Putin?
Merkel é conhecida por sempre ser racional e se manter calma. O presidente da Rússia, Vladimir Putin, quis aparentemente testar os nervos da chanceler quando a recebeu na residência presidencial em Sochi, em 2007. Putin conseguiu revelar o ponto fraco de Merkel: ela tem medo de cães. Isso não impediu que o presidente russo deixasse o labrador Koni farejar os sapatos da chanceler.
Foto: picture-alliance/dpa/D. Astakhov
Resgate financeiro
Em situações de crise, Merkel age com frieza. Quando os mercados financeiros entraram em colapso em 2008 e ameaçaram prejudicar a economia alemã, a chanceler se empenhou na proteção do euro e na criação de fundos de resgate para as economias mais fracas do bloco europeu. Ela se destacou como eficiente gestora de crises, mas não escapou de receber críticas de países como Grécia e Espanha.
Foto: picture-alliance/epa/H. Villalobos
Caminho para o segundo mandato
Apesar do pior desempenho da aliança conservadora na história, Merkel venceu as eleições de 27 de setembro de 2009. Depois de se aliar ao Partido Social-Democrata (SPD), a chanceler estava pronta para iniciar o segundo mandato ao lado de outro parceiro, o Partido Liberal Democrático (FDP).
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Resposta rápida
Merkel que, como física, é conhecida por pensar de forma objetiva, não previu a catástrofe nuclear de Fukushima, no Japão. Defensora da política nuclear na Alemanha, Merkel mudou de posição em tempo recorde. A extensão do prazo de funcionamento das usinas foi suspenso e a Alemanha iniciou o processo de colocar fim ao uso da energia nuclear.
Foto: Getty Images/G. Bergmann
O homem ao seu lado
Quem o reconheceria? Quem conhece sua voz? Há dez anos, o marido de Merkel, Joachim Sauer, professor de Química da Universidade Humboldt, em Berlim, se mantém discreto. Eles estão casados desde 1998.
Foto: picture alliance/Infophoto
Amizade em crise
As escutas de comunicações de políticos alemães por parte da Agência de Segurança Nacional (NSA), dos Estados Unidos, abalaram as relações da Alemanha com a Casa Branca. Até o celular de Merkel foi alvo de espionagem. Uma frase da chanceler ficou famosa: "Não é aceitável que países amigos espiem uns aos outros".
Foto: Reuters/F. Bensch
O paciente grego
O clube de fãs de Merkel é extenso, mas na Grécia é provavelmente menor. A hostilidade contra a chanceler alemã nunca foi tão grande como em 2014, no auge da crise da dívida grega. A imagem de velha inimiga ressurgiu, mas Merkel se manteve firme em relação à política de austeridade que previu cortes e reformas a serem cumpridos por Atenas.
Foto: picture-alliance/epa/S. Pantzartzi
Emotiva, às vezes
Tipicamente reservada, Merkel quebrou os protocolos durante a final da Copa do Mundo de 2014 no Rio de Janeiro. A chanceler federal alemã celebrou a vitória da Alemanha sobre a Argentina ao lado do presidente alemão, Joachim Gauck. Ela estava no auge de sua popularidade, assim como a seleção vitoriosa.
Foto: imago/Action Pictures
"Nós podemos fazer isso!"
Para Merkel, o direito de asilo a refugiados não pode ser limitado. "Nós podemos fazer isso" se tornou o credo da chanceler sobre a política alemã de acolhida aos migrantes que fogem de guerras e perseguições. Se o país dará conta da enorme demanda, isso já é uma pergunta ainda em aberto.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Hoppe
"E agora, Merkel?"
Sexta-feira 13 – um massacre em novembro. A França está em situação de emergência e Merkel ofereceu "toda a assistência" ao país vizinho. O medo do terrorismo se espalha. Não há dúvidas de que esse é o maior desafio de Merkel em dez anos no poder.
Foto: picture-alliance/dpa/B. von Jutrczenka
Barulho na coalizão
Foi o castigo máximo para a chanceler federal. No congresso da CSU, em novembro de 2015, Horst Seehofer a repreendeu. O líder da legenda-irmã do partido de Merkel na Baviera criticou que a política migratória da chefe alemã de governo fez com que o país perdesse o controle de suas próprias fronteiras. Uma humilhação que Merkel teve que suportar de pé e sem oportunidade de resposta.
Foto: picture-alliance/AP Photo/S. Hoppe
Será que ele não poderia ficar?
Seria um alívio para Merkel continuar a lidar com Obama. Mas, no início, ela era bastante cética quanto a ele. O monitoramento do celular da chanceler federal, no contexto do escândalo de espionagem da NSA, parecia abonar a sua postura reservada. Mas, agora, um parceiro previsível sai de cena e dá lugar a Donald Trump. O jornal "New York Times" já a chama de "defensora do Ocidente liberal".
Foto: Reuters/F. Bensch
Merkel mais uma vez
Finalmente, após meses de intensas especulações em torno de sua candidatura à reeleição, Merkel confirma a sua intenção de concorrer a um quarto mandato. Durante entrevista coletiva em 20/11, ela diz à liderança de seu partido, a União Democrata Cristã (CDU), estar preparada para chefiar a legenda na eleição parlamentar alemã, prevista para setembro ou outubro de 2017.