Merkel descarta isenção de visto para turcos já em julho
23 de maio de 2016
Após encontro com Erdogan, chanceler reafirma que mudança só entrará em vigor se a Turquia cumprir todos os pré-requisitos, o que inclui alterar a sua polêmica legislação antiterrorismo.
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Após uma reunião com o presidente da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, a chanceler federal da Alemanha, Angela Merkel, afirmou nesta segunda-feira (23/05) que Ancara precisa cumprir as exigências da União Europeia (UE) para garantir a isenção de visto para cidadãos turcos no bloco e disse que a medida não deverá entrar em vigor no início de julho, como o planejado.
A isenção de vistos para cidadãos turcos está prevista no acordo entre a União Europeia (UE) e a Turquia para diminuir o fluxo migratório em direção ao bloco. Porém, Ancara deve alterar a legislação antiterrorismo no país, que prevê a prisão de jornalistas e críticos do governo. Erdogan se recusa a revisar a lei, e o impasse coloca em risco o acordo.
Segundo Merkel, sem a mudança na legislação, as condições para a isenção de visto não deverão estar cumpridas nas próximas semanas. Erdogan disse à chanceler que alterações na legislação antiterrorismo não estão em discussão nesse momento.
"De qualquer maneira, nós conversamos intensamente, abertamente e objetivamente e tudo deve ser feito para continuarmos o diálogo, ainda que previsivelmente determinadas medidas não possam entrar em vigor em 1º de julho, ou seja, a isenção de visto, pois as condições não foram cumpridas", disse Merkel, que enfrenta oposição na Alemanha, inclusive dentro do próprio partido, por sua posição considerada complacente com o comportamento autoritário do líder turco.
A chanceler lembrou ainda que o sucesso do acordo é de "interesse mútuo" e afirmou que deixou claro a Erdogan estar "profundamente preocupada" com os recentes acontecimentos políticos na Turquia. Na semana passada, o parlamento aprovou a retirada da imunidade de 138 deputados, o que abre caminho para a eliminação de grupos opositores no legislativo. Merkel disse ter ressaltado a importância de uma Justiça e uma imprensa independentes, bem como de um parlamento forte.
Merkel avaliou, porém, que o combate a insurgentes do banido Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), considerado uma organização terrorista na Alemanha, é necessário, mas ressaltou que tudo deve ser feito para que "curdos tenham uma chance justa de viver na Turquia e de participar do bem-estar e do desenvolvimento do país".
Negociação continua
Em comunicado, a presidência da Turquia confirmou que Merkel e Erdogan concordaram em promover outros encontros com instituições europeias para tratar do acordo de cooperação sobre refugiados. As reuniões deverão contemplar também as "vulnerabilidades e prioridades" de Ancara na luta contra o terrorismo, reforçou o comunicado. Erdogan acusa a UE de querer, com a mudança na legislação antiterrorismo, enfraquecer a luta contra o PKK.
O encontro entre Merkel e Erdogan aconteceu às margens da Cúpula Humanitária Mundial, promovida pelas Nações Unidas em Istambul. Na abertura do evento, o presidente turco alfinetou a União Europeia e alegou que apenas alguns países "estão suportando o fardo" da crise migratória. "O atual sistema é insuficiente. O fardo é suportado apenas por alguns países, e todos deveriam assumir essa responsabilidade a partir de agora", afirmou.
CN/ap/rtr/dpa
Viagem à Europa da perspectiva de refugiados
Exposição em Hamburgo mostra longa jornada do ponto de vista dos migrantes, resultado do projeto #RefugeeCameras. Risco, desamparo e raros momentos de alegria permeiam as imagens.
Foto: Kevin McElvaney/ProjectRefugeeCameras
Partida sem volta?
Em dezembro de 2015, o alemão Kevin McElvaney entregou 15 câmeras descartáveis e envelopes pré-selados a migrantes em Izmir, Lesbos, Atenas e Idomeni. Sete retornaram ao jovem fotógrafo e fazem parte do projeto #RefugeeCameras. Zakaria recebeu sua câmera em Izmir. O sírio fugiu do "Estado Islâmico" e do regime Assad. Em seu diário de fuga, ele escreve que só Deus sabe se ele voltará à Síria.
Foto: Kevin McElvaney/ProjectRefugeeCameras
Travessia de bote
Zakaria documentou sua viagem marítima da Turquia até a ilha grega de Chios. Ele ficou sentado na parte de trás do bote. Na exposição em Hamburgo, as imagens feitas por refugiados são complementadas por uma seleção de fotos tiradas por profissionais, que ajudaram a montar a representação das rotas de fuga. Todos eles doaram suas obras para apoiar o projeto.
Foto: Kevin McElvaney/ProjectRefugeeCameras
Chegada perigosa
Hamza e Abdulmonem, ambos da Síria, fotografaram a perigosa chegada de seu barco a uma ilha grega. Não havia voluntários para recebê-los. Foi justamente isso que McElvaney tinha em mente quando lançou a #RefugeeCameras. Segundo o jovem fotógrafo, até agora a mídia proporcionou somente um "vazio visual" a esse respeito.
Foto: Kevin McElvaney/ProjectRefugeeCameras
Sobrevivendo ao mar
Após o desembarque, vê-se um menino com roupas molhadas e colete salva-vidas numa praia. A imagem faz recordar Aylan Kurdi, o pequeno garoto sírio cujo corpo sem vida foi encontrado no litoral turco em setembro de 2015. A criança nesta foto conseguiu chegar viva à Europa. O seu destino é desconhecido.
Foto: Kevin McElvaney/ProjectRefugeeCameras
Sete câmeras
Hamza e Abdulmonem também tiraram esta foto instantânea levemente desfocada de um grupo de refugiados fazendo uma pausa. Das 15 câmeras que McElvaney entregou, sete retornaram, uma foi perdida, duas foram confiscadas, e duas permaneceram em Izmir, onde seus donos ainda estão retidos. As três câmeras restantes estão desaparecidas – assim como seus proprietários.
Foto: Kevin McElvaney/ProjectRefugeeCameras
Família em foco
Dyab, um professor de Matemática sírio, tentou registrar alguns dos melhores momentos de sua viagem até a Alemanha. Na foto, veem-se sua esposa e seu filho pequeno, Kerim, que nos mostra um pacote de biscoito que recebeu num campo de refugiados macedônio. A imagem revela a profunda afeição de Dyab por seu filho, diz McElvaney: "Ele quer cuidar dele, mesmo na árdua viagem que foi forçado a seguir."
Foto: Kevin McElvaney/ProjectRefugeeCameras
Do Irã à Alemanha
A história de Said, do Irã, é diferente. O jovem teve de deixar seu país, depois de ter se convertido ao cristianismo. Ele poderia ter sido preso ou morto. Para ser aceito como refugiado, ele fingiu ser afegão. Após a sua chegada à Alemanha, ele explicou sua situação, para a satisfação das autoridades. Ele vive agora – como iraniano – em Hanau, no estado de Hessen.
Foto: Kevin McElvaney/ProjectRefugeeCameras
Não apenas selfies
Said tirou esta foto de um pai sírio e seu filho num ônibus de Atenas a Idomeni.
Foto: Kevin McElvaney/ProjectRefugeeCameras
Momento de alegria
Em outro registro feito por Said, um voluntário que trabalha num campo de refugiados em algum lugar entre a Croácia e a Eslovênia brinca com um grupo de crianças, que tentam imitar seus truques.