Merkel: Acordo UE-Mercosul fica mais difícil com Bolsonaro
12 de dezembro de 2018
Chanceler federal alemã afirma que tempo está se esgotando para que um acordo entre os blocos seja alcançado, pois avalia que acerto ficará mais difícil com o novo governo brasileiro.
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A chanceler federal da Alemanha, Angela Merkel, afirmou nesta quarta-feira (12/12) que o tempo está se esgotando para alcançar um acordo comercial entre a União Europeia (UE) e o Mercosul e que o governo do presidente eleito Jair Bolsonaro deve dificultar as negociações.
"O tempo para um acordo entre a UE e Mercosul está se esgotando. O acordo deve acontecer muito rapidamente, pois, do contrário, não será tão fácil alcançá-lo com o novo governo do Brasil", disse Merkel ao responder a uma pergunta de um deputado durante uma sessão do Bundestag (Parlamento alemão).
Em novembro, logo após a vitória de Bolsonaro no segundo turno da eleição presidencial, os europeus já haviam manifestado preocupação com o futuro das negociações. O presidente da delegação do Parlamento Europeu para as relações com o Mercosul, o deputado português Francisco Assis, afirmou que era necessário tentar fechar algum tipo de entendimento comercial ainda durante o governo do presidente Michel Temer.
A equipe de Bolsonaro já manifestou em algumas ocasiões que prefere negociações bilaterais, em vez de uma negociação que envolva blocos, como o Mercosul. O superministro da Economia de Bolsonaro, o neoliberal Paulo Guedes, também já disse que o Mercosul não será prioridade no novo governo. Bolsonaro, por sua vez, criticou aspectos de um eventual acordo, mas se disse aberto a negociar. "Não é um 'não' em definitivo, nós vamos é negociar", disse ele no fim de novembro.
Um dia antes da declaração de Bolsonaro, o presidente da França, Emmanuel Macron, também havia adicionado novos elementos às negociações ao afirmar que seu país vai condicionar a aprovação de um acordo UE-Mercosul à permanência do Brasil no Acordo Climático de Paris, que Bolsonaro quer abandonar.
As negociações entre a UE e o Mercosul se arrastam há mais de duas décadas. Em 2004, os dois blocos chegaram a trocar propostas, mas a iniciativa fracassou diante da discordância sobre a natureza dos produtos e serviços que seriam englobados no acordo. Os sul-americanos queriam mais acesso ao controlado mercado agrícola europeu. Já a UE desejava avançar no setor de serviços e comunicações dos países do Mercosul.
Nos últimos três anos, as negociações tiveram um progresso mais significativo, mas ainda esbarram em várias divergências envolvendo a indústria automobilística dos dois países e a circulação de produtos como carne bovina. Várias associações de produtores europeus temem a concorrência dos brasileiros, já os brasileiros não ficaram satisfeitos com o sistema de cotas oferecidos pelos europeus.
Após a divulgação das declarações de Merkel, alguns membros do governo Temer sugeriram que o avanço das negociações não depende só dos brasileiros, mas que os próprios europeus é que estão impondo dificuldades.
JPS/rtr/efe/ots
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Há muito dinheiro envolvido: o setor que recebe as maiores verbas da União Europeia é o agrícola. No entanto, as condições nos diferentes países e regiões do bloco não poderiam ser mais diversas.
Foto: GEORGES GOBET/AFP/GettyImages
Setor bilionário
Com subsídios anuais de 47 bilhões de euros, a agricultura é o maior segmento orçamentário da União Europeia. Essa verba é distribuída entre os fazendeiros segundo a extensão de suas terras, independente da produção agrária real. No entanto, as condições de trabalho são extremamente diversas, não só entre os países-membros, como também dentro deles.
Foto: Getty Images
Falso idílio campestre
O leite do café da manhã vem de "vacas felizes", que vagam por verdes pastos: essa é a imagem de idílio rural que a publicidade tenta passar ao consumidor. Na realidade, o leite provém da produção em massa, e os animais passam o dia em pé nos estábulos, quase sem espaço para se mover. O capim que pisam é seco ou totalmente substituído por outro tipo de substrato.
Foto: imago/Eibner
Ordenha em ritmo industrial
Para que os agricultores europeus se mantenham competitivos no mercado mundial, eles precisam investir em métodos de produção eficientes. Carrosséis de ordenha economizam tempo e substituem mão de obra humana. As vacas são ordenhadas três vezes ao dia por esses dispositivos. A alta tecnologia expulsou o trabalho manual dos estábulos, e a agricultura é cada vez mais otimizada.
Foto: picture-alliance/ZB
Criação em massa
Os frangos de corte são engordados em tempo recorde nos galpões de criação intensiva, para que a fábrica produza o máximo possível de carne. Nesses galinheiros, eles crescem três vezes mais rápido do que as galinhas poedeiras, alcançando um peso entre 1,5 e 1,8 quilo no espaço de 30 dias. Os animais só sobrevivem a tal tratamento à custa de fartas doses de antibióticos.
Foto: Getty Images
Luta pela sobrevivência
Desde que vários países do Leste Europeu aderiram à UE, os agricultores locais competem por um lugar no mercado do bloco. As terras aráveis da Romênia são as mais valiosas da UE. Lá, grandes conglomerados compram áreas consideráveis e empregam máquinas modernas no cultivo. Enquanto isso, milhares de pequenos fazendeiros, que ainda usam arados puxados por burros ou bois, lutam pela sobrevivência.
Foto: DANIEL MIHAILESCU/AFP/Getty Images
Trabalho duro na vindima
Apesar da alta taxa de desemprego, vinicultores alemães quase não acham mão de obra para a colheita. Trabalhadores sazonais da UE têm permissão de auxiliar na agricultura, dentro do bloco, durante seis meses ao ano. Mas para romenos e búlgaros, esse acesso ainda é restrito. Somente a partir de 2014 eles se beneficiarão plenamente da liberalização do mercado de trabalho em todos os Estados da UE.
Foto: MARIO LAPORTA/AFP/Getty Images
Ouro verde
Para cada litro de puro óleo de oliva, é preciso prensar de quatro a cinco quilos de azeitonas. Colhê-los exige bastante esforço físico, e são geralmente os ajudantes estrangeiros a se encarregarem da tarefa. Mas para financiar seus salários, a safra precisa ser abundante e o lucro, elevado. Tarefa difícil para os pequenos produtores, já que cresce a concorrência por parte das grandes empresas.
Foto: Getty Images
Movidos pela esperança
Nenhum caminho é longo demais na procura por trabalho. Trabalhadores sazonais atravessam toda a União Europeia, na esperança de encontrar ocupação e ganhar o suficiente para alimentar suas famílias. Mas as crianças permanecem na terra natal, e as famílias são dilaceradas.
Foto: picture-alliance/ZB
Aeroporto subvencionado
Os subsídios agrícolas da União Europeia deveriam beneficiar os fazendeiros. No entanto, qualquer proprietário de campo arável, pedaço de floresta ou prado também recebe verbas do bloco. Um deles é o aeroporto Schiphol, de Amsterdã, quarto maior da Europa. Cerca de 50 milhões de passageiros e 1,5 milhão de toneladas de carga são transportados anualmente a partir dele. De agricultura, nem sombra.