Cúpula de líderes europeus sobre o tema poderá ser decisiva para o futuro político da Europa e até da Alemanha. Chanceler está sob forte pressão, tanto no cenário europeu quanto em seu próprio país.
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A chanceler federal alemã, Angela Merkel, afirmou nesta quinta-feira (28/07) que o destino da União Europeia (UE) está associado à habilidade do bloco de enfrentar os desafios impostos pelo fluxo migratório. O tema gera sérios atritos entre os Estados-membros e está no centro de uma crise no governo em Berlim.
"A Europa tem muitos desafios. E os relacionados à imigração podem se tornar uma questão vital para a UE", disse Merkel em discurso ao Bundestag (Parlamento alemão), pouco antes do início da cúpula em Bruxelas onde os líderes europeus discutirão possíveis soluções para o problema.
Em seu pronunciamento, Merkel utilizou um tom emocional, que foge às suas características, chegando a levantar a voz em alguns momentos enquanto tentava angariar o apoio dos setores mais conservadores de sua base.
A chanceler, sob forte pressão política na Alemanha, alertou para o risco de a Europa se desviar de seus próprios valores se tiver de optar apenas pela segurança e por políticas unilaterais na questão dos migrantes.
Ela se defendeu dos críticos que a acusam de congestionar a política europeia com sua decisão, considerada unilateral por muitos, de abrir as fronteiras de seu país. Segundo a chanceler, ao fazê-lo, ela estava respondendo a pedidos de ajuda da Hungria e da Áustria.
Merkel disse que a redução do fluxo migratório exigirá acordos com países africanos, semelhantes ao tratado assinado com a Turquia em 2016 que contribuiu para reduzir o grande número de pessoas que se encaminhavam para a Europa através da Grécia. Para tal, alertou a chanceler, será necessário incluir medidas para garantir maior acesso dessas populações ao trabalho e educação.
"Ou encontramos uma solução para que, na África e além, as pessoas sintam que somos guiados por valores e que defendemos o multilateralismo e não o unilateralismo, ou ninguém acreditará nos nossos valores, que nos tornaram tão fortes", afirmou a chanceler.
Ela destacou o agravamento das tensões entre os países europeus, evidenciadas nas últimas semanas pelas disputas diplomáticas envolvendo embarcações das ONGs que resgatam migrantes no Mediterrâneo, como os navios Aquarius e Lifeline, que passaram dias no mar sem permissão para atracar em países como Itália ou Malta.
Merkel disse ainda que a queda no número de refugiados que chegam à Alemanha pôs fim ao estado de emergência que a levou a abrir as fronteiras da Alemanha a mais de um milhão de refugiados em 2015.
A chanceler, porém, enfrenta forte resistência de seu mais tradicional aliado na base do governo, a União Social Cristã (CSU) da Baviera, que exige que os refugiados registrados em outros países sejam barrados nas fronteiras alemãs.
A CSU pede que medidas concretas sejam adotadas na cúpula da UE em Bruxelas, caso contrário, o ministro do Interior e presidente do partido, Horst Seehofer, ameaça agir por conta própria para expulsar migrantes. Tal atitude poderia resultar numa ruptura da coalizão de governo e iniciar uma nova crise política em Berlim.
A crise migratória da Europa foi aliviada após o fechamento de algumas das principais rotas migratórias, como a dos Bálcãs. Outro caminho utilizado pelos migrantes, a travessia do norte da África para a Itália, também teve fluxo menor do que nos anos anteriores.
Entretanto, a pressão política permanece alta em vários países, impulsionada pelos avanços de políticos populistas de direita na Alemanha, Itália e no Leste Europeu.
RC/lusa/rtr/dpa
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As imagens que marcaram a crise migratória
Fotos impressionantes do enorme fluxo de migrantes para a Europa em 2015 e 2016 circularam pelo mundo. No Dia Mundial do Refugiado, vale lembrar a perseverança dos que foram forçadas a deixar seus países.
Foto: Getty Images/AFP/A. Messinis
A meta: sobreviver
Uma jornada combinada com sofrimento e perigo para corpo e alma: para fugir da guerra e da miséria, centenas de milhares de pessoas, principalmente da Síria, viajaram pela Turquia para a Grécia em 2015 e 2016. Ainda há cerca de 10 mil pessoas nas ilhas de Lesbos, Chios e Samos. De janeiro a maio deste ano, chegaram mais de 6 mil novos refugiados.
Foto: Getty Images/AFP/A. Messinis
A pé até a Europa
Em 2015 e 2016, milhões de pessoas tentaram, a pé, chegar à Europa Ocidental através da Turquia ou da Grécia até a Macedônia, Sérvia e Hungria. Este fluxo não parou mesmo depois de a chamada rota dos Bálcãs ter sido fechada e muitos países terem bloqueado suas fronteiras. Hoje, a maioria dos refugiados vai para a Europa usando a perigosa rota pelo Mediterrâneo através da Líbia.
Foto: Getty Images/J. Mitchell
Consternação mundial
Esta foto chocou o mundo em setembro de 2015: numa praia da Turquia foi encontrado o corpo do menino sírio Aylan Kurdi, de 3 anos. A imagem se espalhou rapidamente pelas redes sociais e se tornou um símbolo da crise dos refugiados. Depois dela, a Europa não podia mais se omitir.
Foto: picture-alliance/AP Photo/DHA
Caos e desespero
Sabendo que a rota de fuga para a Europa seria fechada, milhares de refugiados tentaram desesperadamente entrar em trens e ônibus na Croácia. Alguns dias depois, em outubro de 2015, a Hungria fechou a fronteira e criou campos com contêineres, onde os refugiados seriam mantidos durante a análise de seu pedido de asilo político.
Foto: Getty Images/J. J. Mitchell
Hostilidades
A indignação foi grande quando uma repórter cinematográfica húngara deu uma rasteira num refugiado sírio que corria com um menino no colo. Ele tentava passar por uma barreira policial na fronteira húngara em setembro de 2015. No auge da crise de refugiados aumentavam as hostilidades contra imigrantes, com ataques xenófobos a abrigos de refugiados também na Alemanha.
Foto: Reuters/M. Djurica
Fronteiras fechadas
O fechamento oficial da rota dos Bálcãs, em março de 2016, gerou tumultos nos postos de fronteira, onde milhares de migrantes não puderam mais avançar e houve relatos de violência policial. Muitos, como estes refugiados, tentaram contornar os postos de fronteira entre a Grécia e a Macedônia.
Uma criança ensanguentada coberta de poeira: a fotografia de Omran, de 5 anos, chocou o público em 2016 e se tornou um símbolo dos horrores da guerra civil da Síria e do sofrimento de seu povo. Um ano mais tarde, novas imagens mostrando o menino bem mais feliz circularam na internet. Apoiadores do presidente sírio afirmam que a primeira imagem foi usada para fins de propaganda.
Foto: picture-alliance/dpa/Aleppo Media Center
Em busca de segurança
Um sírio carrega a filha na chuva em Idomeni, entre a Grécia e a Macedônia. Ele procura abrigo na Europa. Segundo o Regulamento de Dublin, o asilo político precisa ser solicitado no primeiro país da União Europeia a que o refugiado chegou. Por isso, muitos que prosseguem viagem são mandados de volta. Por sua localização fronteiriça, Itália e Grécia são os países onde mais chegam refugiados.
Foto: Reuters/Y. Behrakis
Esperança
A Alemanha continua sendo o principal destino dos migrantes, embora a política de refugiados e de asilo do país tenha se tornado mais restritiva após o grande afluxo no final de 2015. Nenhum outro país europeu acolheu tantos refugiados como a Alemanha, que recebeu 1,2 milhão de pessoas desde 2015. A chanceler federal Angela Merkel foi um ícone para muitos dos recém-chegados.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Hoppe
Miséria nos campos de refugiados
No norte da França, um enorme campo de refugiados, a chamada "Selva de Calais", foi fechado. Durante a evacuação, em outubro de 2016, houve um incêndio no acampamento. Cerca de 6.500 moradores foram removidos para outros abrigos na França. Meio ano depois, organizações de ajuda relataram sobre muitos refugiados menores de idade que vivem como sem-teto em volta da cidade de Calais.
Foto: picture-alliance/dpa/E. Laurent
Afogamentos no Mediterrâneo
ONGs e guardas costeiras estão constantemente à procura de barcos de migrantes em perigo. Eles preferem atravessar o mar em embarcações precárias superlotadas a viver sem perspectivas na pobreza ou em meio à guerra civil. Só em 2017, a travessia já custou 1.800 vidas. Em 2016 foram registrados 5 mil mortos.
Foto: picture alliance/AP Photo/E. Morenatti
Milhares esperam na Líbia
Centenas de milhares de refugiados da África Subsaariana e do Oriente Médio esperam em campos líbios para atravessar o Mar Mediterrâneo. Muitos estão nas mãos de contrabandistas humanos e traficantes de pessoas. As condições nesses locais são catastróficas, dizem ONGs. Testemunhas relatam casos de escravidão e prostituição forçada. Ainda assim, continua vivo o sonho de chegar à Europa.
Foto: Narciso Contreras, courtesy by Fondation Carmignac