Quarto mandato verá o crepúsculo ou auge da chanceler federal da Alemanha? História mostra que líderes alemães costumam ter despedidas melancólicas e nem sempre reconhecem a hora de deixar o poder.
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Uma das questões que vão acompanhar o quarto mandato de Angela Merkel é se ela deixou passar a hora certa de deixar o poder: será o quarto mandato um fim melancólico que vai ofuscar suas conquistas anteriores?
Não são poucos os observadores políticos que acham que a chanceler federal já passou do zênite da sua carreira política, e muitos veem na crise dos refugiados o começo do fim.
Mas Merkel já comprovou resiliência em várias situações, o que reforça ainda mais o caráter de futurologia das respostas à questão. Uma olhada no passado, porém, mostra que chanceleres alemães nem sempre souberam deixar o poder na hora certa.
Dois dos casos mais emblemáticos vêm justamente da CDU, o mesmo partido de Merkel, e têm em comum com a atual chanceler o apego pelo poder – Konrad Adenauer cumpriu quatro mandatos, e Helmut Kohl, cinco.
Assim como Merkel, Adenauer parecia perto do fim depois de a união CDU/CSU perder a maioria absoluta na eleição de 1961. Ele já havia cumprido três mandatos, e o Partido Liberal Democrático (FDP), seu potencial aliado para um quarto, fizera campanha com o slogan "Ao lado da CDU, mas sem Adenauer".
Dentro da CDU/CSU havia quem achasse que "O Velho", como era conhecido, já estava há tempo demais no poder. Essa nova geração queria o poder para si mesma. "O Velho", porém, soube neutralizar todos seus oponentes. Ele propôs ao FDP que o apoiasse numa coalizão de governo e, em troca, cederia o poder depois de dois anos a um dos representantes da nova geração da CDU. O FDP aceitou.
Era um começo nada promissor. E, de fato, o quarto governo Adenauer começou a fazer água já em 1962, devido ao escândalo envolvendo a revista Der Spiegel. O ministro da Defesa, Josef Strauss, atuou de forma decisiva para a prisão de um jornalista da revista. Em depoimento sobre o caso ao Bundestag, mentiu. Adenauer defendeu seu ministro, e o FDP, que detinha o Ministério da Justiça, exigiu explicações. A Alemanha ficou à beira de uma crise de Estado. A coalizão de Adenauer com o FDP se esfacelou, e o chanceler teve de renunciar em 1963.
Outro que não soube a hora certa de deixar o poder foi Helmut Kohl. O Chanceler da Reunificação poderia ter deixado o cargo no auge, em 1994, depois de ter alcançado nada menos que a reunificação do país. Mas Kohl concorreu de novo, e a sua coalizão ganhou por estreita margem.
O que se seguiu foram quatro anos de um longo e melancólico crepúsculo. Também uma nova geração se ergueu dentro do partido, ambicionando o poder. Em vez de dar uma chance a um deles, Kohl concorreu de novo em 1998. Era quase como entregar o poder ao SPD.
Também o SPD contribui para a galeria de chanceleres que deixaram o poder de forma melancólica. O caso mais emblemático entre os social-democratas é o de Willy Brandt, justamente o mais carismático chanceler do pós-Guerra.
Em 1972, o arquiteto da Ostpolitik levou o SPD à maior vitória da sua história. Nada indicava que, meros dois anos depois, ele estaria fora do poder. Um governo de desempenho fraco foi coroado com a descoberta de um espião da Alemanha Oriental entre os assessores diretos de Brandt, que foi obrigado a renunciar em 1974.
Merkel era ministra de Kohl e acompanhou de perto o crepúsculo do Chanceler da Reunificação. Ela sabe muito bem, portanto, os riscos que corre. E os elementos do fracasso estão todos aí: o SPD só entrou no governo a contragosto, pois a oposição interna é forte, e quer reavaliar sua decisão em dois anos. Na CDU, o crescimento da AfD ameaça a harmonia interna e complica a relação com a CSU. E não faltam aqueles que almejam eles próprios o poder e acham que Merkel já está no cargo há tempo demais.
Os próximos 12 ou no máximo 24 meses já darão uma resposta à questão.
A coluna Zeitgeist oferece informações de fundo com o objetivo de contextualizar temas da atualidade, permitindo ao leitor uma compreensão mais aprofundada das notícias que ele recebe no dia a dia.
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O novo governo de Angela Merkel
Os 15 nomes que compõem o gabinete do quarto governo Merkel já são conhecidos. SPD comandará pastas cobiçadas, como Finanças e Exterior. CDU chefiará a Economia, e CSU, o Interior.
Foto: Reuters/H. Hanschke
Na vitrine
Heiko Maas, de 51 anos, trocou o Ministério da Justiça pelo do Exterior. Como ministro da Justiça, Maas gerou polêmica com a lei contra a incitação ao ódio nas redes sociais. O Ministério do Exterior costuma levantar a popularidade de seus ocupantes, o que deverá acontecer também com ele. Por isso, já há quem especule que o SPD esteja preparando Maas para ser candidato à chancelaria pelo partido.
Foto: picture-alliance/dpa/K. Nietfeld
Guardião das finanças
Olaf Scholz, de 59 anos, já deixou claro que vai rezar pela cartilha do seu antecessor no Ministério das Finanças, Wolfgang Schäuble (CDU). Também ele rejeita gastar mais do que a arrecadação e não quer fazer novas dívidas. Isso está definido, aliás, no acordo de coalizão, mas não agrada a todas as lideranças do SPD. Scholz, que hoje é prefeito de Hamburgo, também será o vice-chanceler.
Foto: Getty Images/C. Koall
Poder de fogo
O ex-secretário-geral do SPD Hubertus Heil, de 45 anos, será o novo ministro do Trabalho e Social. Este é, de longe, o ministério com o maior orçamento no governo alemão, com mais de 100 bilhões de euros disponíveis.
Foto: Imago/photothek/M. Gottschalk
Jovem e do Leste Alemão
A ascensão de Franziska Giffey, de 39 anos, mostra que não é necessário integrar as panelinhas do Bundestag para conseguir um lugar no governo: Giffey, até então prefeita do distrito de Neukölln, em Berlim, vai comandar o Ministério da Família, também do SPD. Esta política do Leste Alemão é tida como partidária da lei e da ordem, o que lhe deu fama em Neukölln, uma "região problema" da capital.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Gambarini
Chefe do meio ambiente
Svenja Schulze, de 49 anos, já tem experiência em comandar uma pasta, mas em nível estadual. Até 2017, ela comandou a Secretaria da Pesquisa no estado da Renânia do Norte-Vestfália. Depois que o SPD perdeu a eleição e deixou o governo, ela passou a ocupar o cargo de secretária-geral. Agora, vai assumir o Ministério do Meio Ambiente.
Foto: picture-alliance/dpa/R.Vennenbernd
Pelos direitos das mulheres
Katarina Barley, de 49 anos, vai trocar o Ministério da Família pelo da Justiça. No cargo atual, ela se mostrou uma defensora dos direitos das mulheres, por exemplo exigindo que o debate sobre sexismo e violência seja ampliado dentro da sociedade alemã.
Foto: picture alliance/dpa/K. Nietfeld
Braço direito da chanceler
Peter Altmaier, de 59 anos, é tido como o braço direito da chanceler federal Angela Merkel. Como chefe da chancelaria federal, ele recebeu dela alguns dos piores abacaxis do governo, como a gestão da crise dos refugiados. Agora ele passará para o Ministério da Economia e Energia, tido como o principal dos que ficaram com a CDU e importante para o setor industrial do partido.
Foto: picture-alliance/dpa/K. Nietfeld
Homem de confiança
Helge Braun, de 45 anos, também é um homem de confiança de Merkel e um de seus assessores mais próximos. Com a ida de Altmaier para a Economia, Braun, que é da CDU, assume a chefia da Chancelaria Federal.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Kappeler
De olho na Otan
Poucos ministros foram tão criticados no cargo, durante o governo passado, como Ursula von der Leyen, sempre às voltas com algum escândalo na Bundeswehr. Von der Leyen, de 59 anos e da CDU, já foi uma bem-sucedida ministra da Família de Merkel. Na época, era cotada para suceder a chefe. Hoje é tida como um nome forte para ser a próxima secretária-geral da Otan.
Foto: picture-alliance/dpa/M. Kappeler
Renovação na CDU
Um dos rostos jovens mais promissores da CDU vai assumir o Ministério da Agricultura. Julia Klöckner, de 45 anos, perdeu duas eleições na sua terra natal, a Renânia-Palatinado, e agora se muda de vez para Berlim. Ela é tida como pessoa de confiança da chanceler federal. Para irritá-la, inimigos costumam lembrar que ela foi rainha do vinho no seu estado, um grande produtor de uvas e vinhos.
Foto: picture-alliance/dpa/G. Fischer
Crítico de Merkel
A imprensa foi unânime em apresentar a ida de Jens Spahn para o Ministério da Saúde como uma tentativa de Merkel de apaziguar seus críticos dentro da CDU. Afinal, Spahn, de 37 anos, é o principal crítico de Merkel na CDU. Ele se apresenta como católico, defensor dos valores conservadores e gay e é tido como um profundo conhecedor dos problemas de sua pasta, até mesmo por adversários políticos.
Foto: picture alliance/dpa/M. Kappeler
A surpresa na lista
A escolha de Anja Karliczek, de 46 anos, surpreendeu muitos observadores. Pouco conhecida, ela é deputada federal da CDU pela Renânia do Norte-Vestfália e vai assumir o Ministério da Educação.
Foto: imago/M. Popow
Novo lar para o "leão bávaro"
Desde 2008 governador da Baviera, Horst Seehofer, de 68 anos, vai assumir um Ministério do Interior fortalecido pelas pastas de "Heimat" (lar, pátria) e Construção. É o ministério mais importante da CSU, e muitos analistas afirmam que a criação da pasta de "Heimat" é uma resposta ao avanço da AfD, que a CSU encara como uma concorrente direta pelos votos no estado do sul da Alemanha.
Foto: picture-alliance/NurPhoto/A. Pohl
De volta a Berlim
Andreas Scheuer, de 43 anos, ocupava o cargo de secretário-geral da CSU. Agora, ele retorna ao Ministério dos Transportes, no qual havia sido vice-ministro até 2013, na condição de ministro. O ministério inclui ainda a pasta Digital.
Foto: picture-alliance/ZUMA Wire/S. Babbar
Ajuda ao desenvolvimento
Fora o ministro do Exterior, nenhum outro viaja tanto quanto o Ministro da Ajuda ao Desenvolvimento. O atual ocupante da pasta é Gerd Müller, de 62 anos, da CSU), e ele permanecerá no cargo no próximo governo. Entre as suas principais tarefas está combater a migração causada pelo subdesenvolvimento.