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Merkel e a hora certa de deixar o poder

15 de março de 2018

Quarto mandato verá o crepúsculo ou auge da chanceler federal da Alemanha? História mostra que líderes alemães costumam ter despedidas melancólicas e nem sempre reconhecem a hora de deixar o poder.

	
Deutschland Bundestag Angela Merkel
Foto: Getty Images/AFP/T. Schwarz

Uma das questões que vão acompanhar o quarto mandato de Angela Merkel é se ela deixou passar a hora certa de deixar o poder: será o quarto mandato um fim melancólico que vai ofuscar suas conquistas anteriores?

Não são poucos os observadores políticos que acham que a chanceler federal já passou do zênite da sua carreira política, e muitos veem na crise dos refugiados o começo do fim.

Leia mais: A CDU de Merkel é de esquerda?

Mas Merkel já comprovou resiliência em várias situações, o que reforça ainda mais o caráter de futurologia das respostas à questão. Uma olhada no passado, porém, mostra que chanceleres alemães nem sempre souberam deixar o poder na hora certa.

Dois dos casos mais emblemáticos vêm justamente da CDU, o mesmo partido de Merkel, e têm em comum com a atual chanceler o apego pelo poder – Konrad Adenauer cumpriu quatro mandatos, e Helmut Kohl, cinco.

Assim como Merkel, Adenauer parecia perto do fim depois de a união CDU/CSU perder a maioria absoluta na eleição de 1961. Ele já havia cumprido três mandatos, e o Partido Liberal Democrático (FDP), seu potencial aliado para um quarto, fizera campanha com o slogan "Ao lado da CDU, mas sem Adenauer".

Dentro da CDU/CSU havia quem achasse que "O Velho", como era conhecido, já estava há tempo demais no poder. Essa nova geração queria o poder para si mesma. "O Velho", porém, soube neutralizar todos seus oponentes. Ele propôs ao FDP que o apoiasse numa coalizão de governo e, em troca, cederia o poder depois de dois anos a um dos representantes da nova geração da CDU. O FDP aceitou.

Era um começo nada promissor. E, de fato, o quarto governo Adenauer começou a fazer água já em 1962, devido ao escândalo envolvendo a revista Der Spiegel. O ministro da Defesa, Josef Strauss, atuou de forma decisiva para a prisão de um jornalista da revista. Em depoimento sobre o caso ao Bundestag, mentiu. Adenauer defendeu seu ministro, e o FDP, que detinha o Ministério da Justiça, exigiu explicações. A Alemanha ficou à beira de uma crise de Estado. A coalizão de Adenauer com o FDP se esfacelou, e o chanceler teve de renunciar em 1963.

Outro que não soube a hora certa de deixar o poder foi Helmut Kohl. O Chanceler da Reunificação poderia ter deixado o cargo no auge, em 1994, depois de ter alcançado nada menos que a reunificação do país. Mas Kohl concorreu de novo, e a sua coalizão ganhou por estreita margem.

O que se seguiu foram quatro anos de um longo e melancólico crepúsculo. Também uma nova geração se ergueu dentro do partido, ambicionando o poder. Em vez de dar uma chance a um deles, Kohl concorreu de novo em 1998. Era quase como entregar o poder ao SPD.

Também o SPD contribui para a galeria de chanceleres que deixaram o poder de forma melancólica. O caso mais emblemático entre os social-democratas é o de Willy Brandt, justamente o mais carismático chanceler do pós-Guerra.

Em 1972, o arquiteto da Ostpolitik levou o SPD à maior vitória da sua história. Nada indicava que, meros dois anos depois, ele estaria fora do poder. Um governo de desempenho fraco foi coroado com a descoberta de um espião da Alemanha Oriental entre os assessores diretos de Brandt, que foi obrigado a renunciar em 1974.

Merkel era ministra de Kohl e acompanhou de perto o crepúsculo do Chanceler da Reunificação. Ela sabe muito bem, portanto, os riscos que corre. E os elementos do fracasso estão todos aí: o SPD só entrou no governo a contragosto, pois a oposição interna é forte, e quer reavaliar sua decisão em dois anos. Na CDU, o crescimento da AfD ameaça a harmonia interna e complica a relação com a CSU. E não faltam aqueles que almejam eles próprios o poder e acham que Merkel já está no cargo há tempo demais.

Os próximos 12 ou no máximo 24 meses já darão uma resposta à questão.

A coluna Zeitgeist oferece informações de fundo com o objetivo de contextualizar temas da atualidade, permitindo ao leitor uma compreensão mais aprofundada das notícias que ele recebe no dia a dia.

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