Merkel e Macron cobram explicações de Dinamarca e EUA
Jon Shelton
1 de junho de 2021
Dinamarca teria colaborado com a NSA para que chanceler alemã e outros líderes europeus fossem espionados. Merkel participa de sua última reunião do conselho de ministros franco-alemão.
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A chanceler federal da Alemanha, Angela Merkel, participou nesta segunda-feira (31/05) de seu último conselho de ministros franco-alemão, uma reunião semestral que ocorre desde 2003 e promove o trabalho conjunto entre membros dos gabinetes dos dois países vizinhos.
Ao lado do presidente francês, Emmanuel Macron, ambos os líderes cobraram explicações dos Estados Unidos e da Dinamarca sobre novas acusações de espionagem de autoridades europeias, incluindo Merkel, e discutiram temas como cooperação industrial no setor de saúde, o impacto da pandemia na economia dos países e a política externa da União Europeia.
Merkel deixará o cargo de chanceler após as eleições de setembro. Antes do encontro, o seu porta-voz, Steffen Seibert, destacou a "cooperação incrivelmente próxima" que Berlim manteve com Paris durante os primeiros quatro anos da presidência de Macron.
Seibert citou o tratado franco-alemão de cooperação e integração, assinado por Merkel e Marcon em Aachen, na Alemanha, em janeiro de 2019, como uma "grande conquista" que deu impulso a trabalhos conjuntos em projetos de defesa e meio ambiente.
Paris, por sua vez, destacou o plano da UE de recuperação pós-pandemia, no valor de 750 bilhões (R$ 4,8 trilhões), como o "ponto alto" da cooperação franco-alemã.
"Iniciativa e paciência"
Os dois líderes mencionaram esses e outros temas em uma declaração conjunta, na qual Merkel frisou a importância da produção e distribuição de vacinas, especialmente à África, e alguns projetos de cooperação na área de defesa para o desenvolvimentos de caças e taques.
Macron agradeceu Merkel por sua iniciativa, paciência e capacidade de escuta, e enfatizou a importância da cooperação franco-alemã para impulsionar uma agenda europeia, elogiando os passos dados pelos dois países no Tratado de Aachen com uma prova do que a parceria pode alcançar.
O líder francês destacou projetos como trens noturnos e ecologicamente corretos entre Paris e Berlim que entrarão em operação em 2022, projetos bilaterais relacionados a juventude e cultura e uma política comum para a África.
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Espionagem "inaceitável"
Durante uma breve coletiva de imprensa, o presidente francês também demonstrou apoio a Merkel em relação a revelações recentes de que a Dinamarca teria colaborado com a Agência Nacional de Segurança dos EUA (NSA, na sigla em inglês) para que a chanceler alemã fosse espionada durante o governo Obama, quando Joe Biden era vice-presidente.
Macron pediu que tanto a Dinamarca como os Estados Unidos expliquem com clareza o tema, afirmando ser "inaceitável" que aliados espionem uns aos outros, e Merkel reforçou as palavras do líder francês.
Merkel: Ainda é cedo para balanço
A primeira reunião do conselho de ministros franco-alemão ocorreu em Paris em janeiro de 2003, e substituiu os encontros anuais dos chefes de estado da França e da Alemanha, que haviam sido estipulados no Tratado do Eliseu de 1963.
O conselho, que tem o objetivo de aprofundar as relações de trabalho entre os países vizinhos e facilitar reuniões conjuntas entres membros do gabinete de ambos os governos, em geral ocorre duas vezes por ano, na primavera e no outono do hemisfério norte.
Os jornalistas pediram a Merkel que ela resumisse suas experiências em relação à parceria franco-alemã, e ela respondeu que era grata aos debates promovidos, classificados por ela como enriquecedores.
Indagada a fazer um balanço do que exatamente havia sido conquistado pelas reuniões bilaterais durante o seu mandato, ela apenas respondeu com um sorriso: "Faremos um balanço quando o trabalho estiver concluído."
Merkel, 15 anos como chefe de governo da Alemanha
Angela Merkel é chanceler federal desde 2005, já tendo liderado quatro governos desde então e enfrentado diversos desafios. Hoje ela é mais popular do que nunca. Veja alguns de seus momentos mais marcantes.
Adeus à "garota de Kohl"
O chanceler federal alemão Helmut Kohl costumava chamar Angela Merkel de "garota", paternalizando. Em 2001, há muito ela já havia saído de sua sombra, como líder da União Democrata Cristã (CDU), então na oposição. Mas a grande hora de Merkel só chegaria em 2005.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Altwein
Vitória eleitoral apertada
Nas eleições parlamentares federais de 2005, foi muito apertada a vitória das legendas irmãs CDU e CSU sobre o Partido Social-Democrata do então chanceler federal Gerhard Schröder. Além disso , a CDU, com sua candidata Angela Merkel, teve os piores resultados desde 1949. Portanto as condições para a nova chefe de governo não eram as melhores. Mas ela faz progressos rápidos.
Foto: dpa
Nova chanceler federal
No fim, CDU e CSU uniram forças para formar uma grande coalizão. Schröder felicitou a mais nova chanceler federal, Angela Merkel, que seria a primeira mulher, a mais jovem em exercício, a primeira alemã do Leste e a primeira cientista, eleita para o cargo pelo Bundestag câmara baixa do [Parlamento alemão], em 22 de novembro de 2005.
Foto: picture-alliance/AP Photo/F. Reiss
Anfitriã descontraída
Merkel ganhou rapidamente autoconfiança. Na cúpula do G8 de 2007, ela recebeu os chefes de Estado e governo das sete nações industriais mais importantes e Rússia, no balneário báltico de Heiligendamm e brincou com o presidente dos EUA George Bush (esq.) e o presidente russo Vladimir Putin. Em termos geopolíticos, um mundo muito mais "perfeito" do que hoje em dia.
Foto: AP
Jogo de cores
As calças são geralmente escuras, mas baseados na cor do blazer, que varia, muitos creem poder dizer qual é o estado de ânimo de Angela Merkel, ou a mensagem que ela está tentando transmitir.
Foto: picture-alliance/AP Photo/M. Schreiber
Ah, esses garotões!
Política europeia no outono de 2008: Angela Merkel tem apenas um leve sorriso para dois machões do palco europeu: o presidente francês Nicolas Sarkozy (na frente) e o primeiro-ministro italiano Silvio Berlusconi. No entanto, é ela que, aqui no início da crise financeira, está subindo rapidamente para se tornar a indiscutível número um da União Europeia.
Foto: Getty Images/AFP/G. Cerles
Assistência ou dominação?
As dívidas de muitos países europeus estão aumentando cada vez mais, o euro está em perigo. Merkel concorda com uma ampla ajuda, mas exige em troca medidas de austeridade nos países afetados. E isso desperta memórias amargas, principalmente na Grécia: os jornais gregos traçam paralelos com a ocupação alemã durante a Segunda Guerra Mundial.
Foto: picture-alliance/dpa/O. Panagiotou
Oradora talentosa
Merkel é uma oradora apenas moderadamente talentosa, que não gosta de estar cercada pela multidão. Muitas vezes, é seca e não explica suficientemente sua política. Porém seu jeito sóbrio, pragmático e modesto conquista muitos. Caso contrário, ela não estaria hoje à frente de seu quarto governo.
Foto: picture-alliance/dpa/F. Gentsch
"Mutti"
Em algum momento ela passou a ser chamada de "Mutti" (mamãe). Não a "mãe", mas a "mamãe" da nação. É um pouco sarcástico, mas também afetuoso, talvez. E antiquado: hoje em dia, nenhuma criança alemã diz mais "Mutti". "Mamãe" cuida, e não é preciso ter medo dela. O outro lado da moeda é que com "mamãe" os filhos permanecem sempre crianças. Nem todo mundo gosta disso.
Foto: picture-alliance/dpa/U. Anspach
"Vamos conseguir"
Talvez nenhuma outra frase dela tenha polarizado tanto quanto "Vamos conseguir". Quando manteve as fronteiras abertas para refugiados e migrantes em 2015 e 2016, Merkel foi quase venerada como uma santa por alguns, mas severamente criticada por outros. A discordância na avaliação de sua política para refugiados continua até hoje.
Foto: Getty Images/S. Gallup
"Pessoa do Ano"
Em 2015, a revista americana "Time" elegeu Angela Merkel "Pessoa do Ano" e até mesmo "Premiê do Mundo Livre", por sua liderança em situações difíceis – da dívida nacional à crise dos refugiados.
Foto: picture-alliance/AP Photo/Time Magazine
Mulheres entre si
Ela é a primeira mulher na chefia de governo da Alemanha. Embora nunca tenha feito disso um grande tema de sua política, algumas mulheres tiveram uma carreira vertiginosa graças ao apoio de Merkel, seja Annegret Kramp-Karrenbauer (presidente da CDU e ministra da Defesa, à esq.), Ursula von der Leyen (presidente da Comissão Europeia) ou Julia Klöckner (ministra da Agricultura).
Foto: picture-alliance/M. Schreiber
Nada pessoal
Merkel é discreta: ela não faz observações políticas ou pessoais sobre chefes de Estado e de governo difíceis. No máximo, expressa opiniões muito vagas. Ao lidar com eles, o que a orienta é a razão de Estado.
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Sem qualquer vaidade
Ela sabe quando custa um litro de leite: mesmo após anos como chefe de governo de uma potência europeia, Angela Merkel não se tornou vaidosa. Em 2014, visitou um supermercado de Berlim com o primeiro-ministro da China, Li Keqiang. Mas também é vista fazendo compras sozinha – como uma dona de casa qualquer, por assim dizer.
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Losango enigmático
Não está muito claro de onde Merkel tirou sua famosa postura de mãos. Ela própria diz que o sinal no formato de um losango a ajuda a manter a parte superior do corpo ereta e que não há nenhuma mensagem oculta. Mesmo assim, os estrategistas da CDU usaram o sinal na campanha das eleições gerais de 2013, para transmitir confiança e calma.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Simon
Merkel na privacidade
Pouco se sabe sobre a vida privada de Merkel. Ela não revela muito a respeito, ou talvez o interesse público não seja particularmente grande. É sabido, por exemplo, que ela e o marido Joachim Sauer, físico como ela, passam todos os anos a Páscoa na ilha italiana de Ísquia. Ou passavam, pois em 2020 isso não foi possível.
Foto: picture-alliance/ANSA/R. Olimpio
E aí veio a covid-19
A pandemia mudou muitas coisas na Alemanha, não apenas os rituais de férias da chanceler federal. O jeito sério e objetivo de Merkel foi em parte criticado, mas sua gestão da pandemia também lhe conferiu novos recordes de popularidade.
Foto: Johanna Geron/Reuters
A hora da despedida
Em 2018, Angela Merkel anunciou que não voltaria a concorrer nas eleições federais do outono alemão de 2021, mas que pretendia permanecer no cargo até lá. Ela terá então governado por quase 16 anos, e apenas pouco menos do que Helmut Kohl, detentor do recorde na Chancelaria Federal.