Merkel e Macron exigem solução pacífica no leste da Ucrânia
23 de dezembro de 2017
Chanceler federal alemã e presidente francês classificam como inaceitáveis violações de cessar-fogo na região. EUA anunciam reforço do sistema de defesa de Kiev, e Rússia acusa Trump de promover "banho de sangue".
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A chanceler federal alemã, Angela Merkel, e o presidente da França, Emmanuel Macron, classicaram neste sábado (23/12) como inaceitáveis as crescentes violações do cessar-fogo no leste da Ucrânia e pediram que as partes em conflito assumam suas responsabilidades.
Em comunicado divulgado pelo Palácio do Eliseu, Merkel e Macron afirmam que a solução para a disputa iniciada em 2014 entre o Exército ucraniano e separatistas pró-Rússia pelo controle do território deve ser pacífica.
Para os dois políticos, o cumprimento do compromisso é importante "para aliviar o sofrimento das populações mais afetadas pela atual situação".
Macron e Merkel reiteraram apoio "ao pleno respeito à soberania e à integridade territorial da Ucrânia" e o compromisso com a aplicação completa dos Protocolo de Minsk, assinados em fevereiro de 2015 pelo presidente da Rússia, Vladimir Putin, e o presidente da Ucrânia, Petro Poroshenko.
De acordo com o documento, as partes envolvidas no conflito devem "implementar o mais rapidamente possível as decisões já aprovadas para aliviar o sofrimento das populações mais afetadas pela atual situação".
Sanções econômicas contra a Rússia
No comunicado, Merkel e Macron parabenizaram o acordo alcançado durante a reunião do Grupo de Contato Trilateral sobre a Ucrânia, formado por representantes da Rússia, da Ucrânia e da Organização para a Segurança e a Cooperação na Europa (OSCE), para libertar 380 prisioneiros de ambas partes.
Para isso, o Comité Internacional da Cruz Vermelha (CICV) precisa ter acesso a todos os detidos e ter o trabalho de procura de pessoas desaparecidas facilitado.
"Isso deve ser cumprido sem demora. Seria um grande avanço na aplicação dos Protocolo de Minsk", escreveram.
No texto, os políticos ainda apelaram ao retorno de oficiais russos ao centro conjunto para o controle do cessar-fogo no leste da Ucrânia, cuja retirada foi anunciada pela Rússia no último dia 18.
A necessidade de tirar as armas pesadas das zonas de conflito, respeitar plenamente o mandato da missão especial de observação da OSCE, proteger as infraestruturas civis, assim como implementar outras medidas como as eleições locais, foram outras das reivindicações feitas.
As sanções estão em vigor desde meados de 2014, no auge da crise da Ucrânia, alguns meses após a anexação da Crimeia pela Rússia, seguida pela ofensiva dos rebeldes pró-russos no leste da Ucrânia.
'Banho de sangue'
As autoridades russas alertaram neste sábado que o fortalecimento das capacidades de defesa de Kiev pelos Estados Unidos poderá "fazer novas vítimas" e provocar um "banho de sangue" no leste da Ucrânia.
O anúncio de reforço do sistema de defesa de Kiev para garantir a soberania do território do país foi feito pelo governo americano nesta sexta-feira. "A ajuda americana é totalmente defensiva e, como sempre referimos, a Ucrânia é um país soberano e tem direito a defender-se", afirmou a porta-voz do Departamento de Estado americano, Heather Nauert.
O vice-ministro dos Negócios Estrangeiros, Sergei Riabkov, reagiu: "Os Estados Unidos estão treinando [as autoridades ucranianas] para um novo banho de sangue. As armas dos Estados Unidos podem provocar novas vítimas".
O conflito já deixou mais de 10.000 mortos. Kiev e os países ocidentais acusam a Rússia de apoiar os rebeldes separatistas, fornecendo armas, mas o presidente russo, Vladimir Putin, nega as acusações.
KG/efe/lusa/rtr
Crimeia três anos após a anexação russa
Em março de 2014, a Rússia anexou a Crimeia. Três anos depois, como está a península? O que mudou na vida das pessoas? E Putin cumpriu suas promessas?
Foto: DW/R. Richter
A ocupação da Crimeia
O presidente russo, Vladimir Putin, é comemorado como herói, e bandeiras russas substituíram as ucranianas. A transformação começou em fevereiro de 2014, quando pessoas de uniforme, mas sem insígnias, ocuparam os prédios do governo e do Parlamento em Simferopol, capital da República Autônoma da Crimeia, parte da Ucrânia. Mais tarde, também os quartéis ucranianos seriam ocupados.
Foto: DW/I. Worobjow
Referendo sobre a anexação
Apesar dos protestos e, contornando a Constituição da Ucrânia, em 16 de março de 2014, foi realizado um referendo sobre o estatuto da Crimeia. A entrega da Crimeia à Ucrânia pelo governo russo em 1954 não foi reconhecida, e decidiu-se pela anexação da península à Rússia.
Foto: Reuters
Tártaros da Crimeia
Quem rejeita a anexação pela Rússia, sofre perseguição. Isso acontece também com os líderes do Mejlis, o Congresso do Povo Tártaro da Crimea, que em 2016 foi considerado organização extremista. Buscas e detenções voltam a ser frequentes, tal qual em 1944, quando os tártaros da Crimeia foram deportados como "inimigos do povo" pelos soviéticos.
Foto: picture-alliance/dpa
Só programas russos
As transmissões das emissoras de televisão ucranianas foram interrompidas na Crimeia no começo de 2014. A população só tem acesso a programas russos. O ATR, canal independente dos tártaros da Crimeia, que defende a integridade territorial da Ucrânia, agora transmite a partir de Kiev. Muitos outros meios de comunicação também foram proibidos.
Foto: picture-alliance/AP Photo/A. Zemlianichenko
Difícil acesso
A lei ucraniana proíbe estrangeiros de entrar na Crimeia sem a permissão das autoridades de Kiev e que não seja pela área continental da Ucrânia. Ao infrator fica proibido viajar pelas demais partes da Ucrânia. Para chegar da Ucrânia à Crimeia, é preciso passar por postos de controle na fronteira administrativa, seja a pé ou de carro.
Foto: DW/L. Grishko
Sanções após a anexação
A União Europeia (UE) e os Estados Unidos não reconhecem a anexação. Eles até aconselham seus cidadãos a não comprar imóveis ou fazer negócios na Crimeia. Empresas da península não podem vender produtos à UE, nem aos EUA. Também foram impostas sanções a pessoas, empresas e organizações.
Foto: picture-alliance/Sputnik/A. Polegenko
Esperando o cumprimento de promessas
Quem votou a favor da anexação no referendo, esperava que Putin cumprisse suas promessas: uma ponte ligando a Crimeia à Rússia, um gasoduto e usinas de energia. Também problemas sociais seriam resolvidos. Os salários não acompanham a inflação. Mas relatos sobre o descontentamento e protestos localizados são divulgados apenas nas redes sociais e meios de comunicação independentes.
Foto: DW/R. Richter
Empreiteira de amigo de Putin
A construção de uma ponte no Estreito de Kertch até a Rússia está em pleno andamento. A obra, no valor de 3,7 bilhões de euros, está nas mãos do oligarca russo Arkady Rotenberg, amigo de Putin. Até o final de 2019, a ponte deverá estar pronta. Ela terá quatro pistas rodoviárias e duas faixas ferroviárias.
Foto: picture-alliance/Tass/V. Timkiv
Pequenos negócios
Empresas de pequeno porte da Crimeia sofrem com a redistribuição de propriedades em favor de empresários russos. A emissora Radio Liberty informou que o número de pequenas empresas na Crimeia diminuiu de 15 mil (2014) para 1 mil (2016). Também os proprietários de imóveis no litoral enfrentam problemas. Tribunais podem anular documentos emitidos antes da anexação.
Foto: DW/A. Karpenko
Grandes perdas no turismo
Na alta temporada, é tempo de praia na Crimeia. Mas o fluxo de turistas diminuiu quase 30% nos últimos três anos. As rotas ferroviárias estão interrompidas e os voos são caros. Devido às sanções impostas pela UE, navios de cruzeiro não atracam mais na Crimeia.
Foto: DW/A. Karpenko
Tesouros históricos
As joias arqueológicas e as armas dos citas, antigo povo de pastores nômades que povoaram a região na Antiguidade Clássica, não poderão mais retornar à Crimeia. No final de 2016, um tribunal holandês decidiu que a rara coleção de 550 artefatos de museus da Crimeia deveria ser dada a Kiev. Os tesouros são parte de uma mostra que estava na Europa Ocidental quando ocorreu a anexação da Crimeia.
Foto: picture-alliance/dpa/B. Maat
Quem ganhou com a anexação
Desde a anexação, os moradores da Crimeia só podem comprar cartões para telefone, por exemplo, se portarem um passaporte russo. Quem ganhou com a anexação foram aposentados com passaporte russo. As aposentadorias foram equiparadas às vigentes na Rússia, e a idade da aposentadoria para mulheres baixou de 60 para 55 anos.