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Merkel e Putin novamente frente a frente

Ben Knight | Mara Bierbach ca
17 de agosto de 2018

Enquanto assumem frequentemente posições opostas em conflitos como na Ucrânia e na Síria, Alemanha e Rússia planejam, ao mesmo tempo, um amplo projeto conjunto de infraestrutura: o polêmico gasoduto Nord Stream 2.

Russland Sotschi - Vladimir Putin und Angela Merkel
Angela Merkel e Vladimir Putin durante encontro em SóchiFoto: Reuters/S. Karpukhin

A reunião deste sábado (18/08) no Palácio Meseberg, nos arredores de Berlim, será o segundo encontro entre a chanceler federal alemã, Angela Merkel e o presidente russo, Vladimir Putin, em apenas três meses.

De acordo com o porta-voz do governo alemão, Steffen Seibert, a reunião vai dar destaque principalmente a três temas: a guerra na Síria, a crise na Ucrânia e o gasoduto Nord Stream 2 – os mesmos assuntos do encontro de maio, em Sóchi.

"Os objetivos não mudaram. A Rússia tem suas posições com vista a Síria e Ucrânia e um forte interesse em que o Nord Stream 2 seja realizado, e o lado russo continuará a perseguir essas metas", diz Sabine Fischer, do instituto de relações internacionais e segurança SWP.

Mais de 10 mil pessoas já morreram desde a eclosão da crise no leste da Ucrânia, no início de 2014. A anexação da Crimeia pela Rússia causou indignação internacional, e há indicações claras de que Moscou apoia separatistas pró-russos e que os ajudou a controlar grande parte do leste ucraniano.

Ao lado da França, a Alemanha tentou várias vezes negociar um cessar-fogo entre o governo ucraniano e os separatistas, que seria supervisionado pelas Forças de Paz da ONU. No entanto, ainda não está claro como essa trégua pode ser implementada exatamente.

No ano passado, Putin sugeriu que os capacetes azuis da ONU não deveriam ser empregados para uma missão de paz na Ucrânia, mas para proteger o pessoal da Organização para a Segurança e Cooperação na Europa (OSCE). Essa proposta foi discutida intensamente, mas até agora sem resultado.

"Eu vejo uma disponibilidade de diálogo no lado russo, mas não vejo grande disposição para buscar compromissos reais", aponta Fischer.

Na verdade, um cessar-fogo já deveria estar em vigor na Ucrânia – isso está previsto no Acordo de Minsk, que foi assinado no início de 2015. A OSCE é encarregada do monitoramento, mas não deve intervir no conflito.

"O que Merkel está tentando agora é principalmente abrir o caminho para uma distensão da situação no Mar de Azov", explica Olaf Böhnke, da agência de consultoria em geopolítica Rasmussen Global. "Houve recentemente um acirramento das tensões entre as Marinhas ucraniana e russa."

Que Merkel e Putin encontrem uma posição comum sobre a questão síria parece ainda menos provável do que no conflito da Ucrânia. Desde 2011, centenas de milhares de pessoas morreram e milhões foram deslocadas na guerra civil da Síria.

Projeto do gasoduto Nord Stream 2 sob Mar do Norte gera críticas internacionaisFoto: picture-alliance/dpa/U. Baumgarten

Putin ainda é o aliado mais próximo do governante Bashar al-Assad. Embora a Alemanha não tenha participado até agora militarmente do conflito, Merkel endossou as operações militares da França, do Reino Unido e dos Estados Unidos contra o regime.

No próximo dia 7 de setembro, deverá acontecer em Istambul uma reunião dos chefes de Estado e governo de Turquia, França, Alemanha e Rússia. Merkel e Putin tentarão, em Meseberg, se preparar o melhor possível para essa cúpula.

A situação na província de Idlib, no noroeste da Síria, deverá ocupar o topo da agenda da cúpula de Istambul. Ali, Assad lançou uma nova grande ofensiva. A região é considerada um dos últimos bastiões rebeldes no país.

Merkel e seus aliados, incluindo a Turquia, querem impedir outro massacre. Mas o apoio de Putin é crucial para tal. "Eu acho que Merkel vai tentar ao menos ganhar um pouco de tempo e convencer Putin a não dar nenhuma carta branca a Assad para uma destruição de Idlib", diz Olaf Böhnke.

Depois de um ataque de mísseis americanos contra um depósito sírio de armas químicas, em abril último, o presidente russo anunciou recentemente que vai equipar as forças sírias com sistemas de mísseis antiaéreos S-300. Putin, no entanto, retirou a oferta logo em seguida.

Isso demonstraria que a Rússia assumiu uma posição mais conciliatória sobre a questão síria? Não, afirma Sabine Fischer. "Putin já anunciou repetidamente a retirada das tropas russas da Síria. Disso resultou, na melhor das hipóteses, retiradas parciais. Eu acho que, de forma geral, a Rússia está sempre procurando formas – não só na Síria, também na Ucrânia – de retornar à sua participação, mas também, de maneira muito acentuada, segundo as suas próprias condições".

Enquanto Alemanha e Rússia assumem frequentemente posições opostas em conflitos internacionais, os dois países planejam, ao mesmo tempo, um amplo projeto conjunto de infraestrutura: o gasoduto Nord Stream 2. Com 1,2 mil quilômetros de extensão, esse duto transportará gás da Rússia diretamente para a Alemanha através do Mar do Norte.

Mas mesmo nesse projeto, Alemanha e Rússia nem sempre estão de acordo. Na Alemanha e em todo o mundo, o projeto Nord Stream 2 é visto de forma bastante crítica, pois pode acarretar efeitos geopolíticos de longo alcance, especialmente para a Ucrânia.

Com o Nord Stream 2, os gasodutos que até agora passavam por terra da Rússia para a Alemanha – inclusive através da Ucrânia – se tornariam menos importantes. Kiev não seria privada apenas da receita, mas também seria mais fácil para a Rússia fechar o gás da Ucrânia sem afetar outros países.

O presidente ucraniano, Petro Poroshenko, diz ver o projeto Nord Stream 2 como "motivado politicamente " e como uma "afronta geopolítica da Rússia". Por esse motivo, Angela Merkel pede que a Rússia assegure à Ucrânia que não cortará seu suprimento de gás.

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