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Merkel encara mais uma eleição estadual decisiva

Kate Brady md
26 de outubro de 2018

Assim como na Baviera, ascensão do Partido Verde e da AfD em Hessen coloca pressão sobre a já enfraquecida coalizão de governo em Berlim. Novo fracasso dos partidos tradicionais pode ser o último prego no caixão.

Chanceler Angela Merkel com governador de Hessen, Volker Bouffier
Chanceler Angela Merkel com governador de Hessen, Volker Bouffier, durante evento eleitoral em FuldaFoto: REUTERS

"O que será, será; whatever will be, will be." O sucesso dos anos 50 ressoava na sala de concertos na cidade de Fulda, no centro da Alemanha, nesta quinta-feira (25/10). Considerando a atual situação do governo federal alemão, a escolha da trilha sonora no evento da campanha dos conservadores da União Democrata Cristã (CDU) parecia bem apropriada – e não só por causa da presença da chanceler federal Angela Merkel, cujo destino pode estar nas mãos dos eleitores no estado de Hessen.

Pela segunda vez em duas semanas, o governo federal está se preparando para um revés numa eleição regional, desta vez em Hessen, estado onde fica o centro financeiro do país, Frankfurt, e onde a CDU governa há 20 anos. E isso apesar de a taxa de desemprego estar num mínimo recorde e a economia, em expansão. Mas, como a eleição na Baviera já demonstrou, há apenas duas semanas, o problema não é a economia.

Em Hessen, a CDU despencou para apenas 28% nas últimas pesquisas de opinião – queda de 10 pontos percentuais em relação à eleição estadual anterior, em 2013.

Caso a votação confirme as pesquisas, não só a credibilidade da chanceler como presidente do partido conservador será posta novamente em questão, mas também um aliado dela, o governador Volker Bouffier, poderá perder o cargo.

Se as enormes perdas que os conservadores bávaros amargaram duas semanas atrás puderam ser atribuídas, ao menos por Merkel, aos meses em que ela foi alvo de críticas desses mesmos aliados, desta vez a chefe de governo alemã não terá onde se esconder quando a busca por culpados começar.

Candidato verde em Hessen, Tarek Al-Wazir, apresenta outdoor de campanhaFoto: DW/K. Brady

Considerada a insatisfação popular com a coalizão de governo da Alemanha, depois de meses de brigas políticas internas, a perda de eleitores e do governo de Hessen podem ser o último prego no caixão do já enfraquecido governo Merkel.

Mas o governador do estado ainda não se dá por vencido, apesar das pesquisas. "Estou otimista quanto ao resultado deste domingo", declarou Bouffier à DW após seu último evento de campanha com Merkel, em Fulda. "Mas a política federal certamente ofuscou a política estadual local nesta eleição."

Isso era algo que Merkel queria a todo custo evitar. "Nem todas as eleições regionais podem ser transformadas numa mini-eleição federal", afirmou a chanceler à emissora Hessischer Rundfunk. "Isso está errado. Há muito em jogo para a população de Hessen." Nesta quinta-feira, ele reiterou o apelo para que os eleitores votem com base na política local e não apenas com base nas questões federais.

Mas, apelos à parte, a política federal terá um enorme impacto sobre o resultado eleitoral de domingo em Hessen e provavelmente refletirá uma tendência nacional: milhares de eleitores estão deixando os partidos tradicionais da Alemanha em troca de agremiações mais novas – principalmente o Partido Verde e o populista de direita Alternativa para a Alemanha (AfD).

"Estamos cansados", afirmou um morador de Fulda. "Eu votei na CDU por muito tempo. Mas o debate sem fim sobre migração e depois o escândalo do diesel e a falta de união na coalizão – isso tudo está me fazendo repensar meu voto neste domingo", disse, acrescentando que deve escolher os verdes.

Tanto em Hessen quanto em nível nacional, o Partido Verde experimentou um grande aumento na preferência dos eleitores nos últimos meses. "Os verdes certamente estão lucrando com o fato de CDU, CSU e SPD não estarem passando uma boa imagem de si mesmos. Eles estão muito preocupados com debates pessoais", ressalta o principal candidato do Partido Verde de Hessen, Tarek Al-Wazir.

Se os verdes, que atualmente formam uma coalizão de governo com a CDU em Hessen, tiverem de fato uma elevada votação no domingo, a CDU corre o risco de ficar de fora do governo, pois o Partido Verde possivelmente optaria por uma coalizão de esquerda com o Partido Social-Democrata (SPD) e os socialistas de A Esquerda. E isso apesar de a atual coalizão entre CDU e verdes estar se saindo bem em Hessen.

O Partido Verde não é o único destino de eleitores desencantados. A AfD – coincidentemente fundada em Hessen, como um partido eurocético, em 2013 – está prestes a entrar pela primeira vez na assembleia legislativa de Hessen, completando, assim, sua presença nos parlamentos de todos os 16 estados alemães.

Stefan Vogel, morador de Fulda, foi eleitor de longa data da CDU e membro do partido até 2003. No início deste ano, ele encontrou sua "alternativa", filiando-se à AfD. "Estou decepcionado com Merkel. Ela é obcecada pelo poder", reclama. "Eu não apoio o euro ou a leis que foram aprovadas, como a do casamento entre pessoas do mesmo sexo. Ela praticamente iniciou a crise migratória. No lugar dela, encontrei uma alternativa democrática: a AfD."

A AfD está atualmente na quarta posição nas pesquisas em Hessen, com 12%. Como todos os demais partidos descartam uma coalizão com os populistas de direita, uma votação elevada para eles complicaria ainda mais a formação de uma nova coalizão de governo, pouco importando quem obtenha o mandato para fazê-lo.

Mas mesmo que os conservadores de Merkel consigam evitar que as sondagens se tornem realidade no domingo, a coalizão governista em Berlim ainda não estará fora da área de risco. Pois, além dos conservadores, também os social-democratas deverão sofrer grandes perdas em Hessen, onde as pesquisas lhes dão 20% dos votos, ou 10 pontos percentuais abaixo do resultado de 2013.

Mais um revés eleitoral para o partido político mais antigo da Alemanha tornaria ainda mais fortes os apelos para que o SPD deixe o governo Merkel, apenas meio ano após a formação da coalizão. Na prática, isso seria o fim do quarto mandato de Merkel.

Como diz a música, o que será, será.

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