Líderes da UE se reúnem para tentar resolver suas diferenças sobre imigração e acolhida de refugiados. Para a chanceler federal alemã, eventual fracasso das negociações pode selar sorte de seu governo.
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A chanceler federal alemã, Angela Merkel, já participou de pelo menos 60 cúpulas da União Europeia em seus mais de 12 anos na chefia do governo da Alemanha. Ela é de longe a atual líder do bloco há mais tempo no cargo. E nesta quinta e sexta-feira (28-29/06), em Bruxelas, enfrenta o que deve ser a mais importante cúpula europeia da sua vida política, na qual poderá se decidir o seu futuro. E, pela primeira vez, Merkel parece preocupada com sua sobrevivência no cargo.
Só com um resultado satisfatório na questão da imigração, na cúpula da UE, ela conseguirá manter na coalizão em Berlim a União Social Cristã (CSU) e assim evitar a derrocada do seu governo. A pressão sobre Merkel é enorme. Já dois dias após a cúpula, seu ministro do interior, Horst Seehofer – que também chefia a CSU e é fiador da coalizão – pretende anunciar se os resultados lhe agradam ou se vai agir contra a chefe de governo, ordenando por conta própria que se mandem de volta já na fronteira os migrantes considerados não qualificados a refúgio.
Merkel é contra qualquer iniciativa isolada de Seehofer, que pode gerar problemas com outros países do bloco. Se o rebelde Seehofer agir contra as ordens da chanceler, Merkel não terá outra escolha a não ser demiti-lo. E aí a coalizão desmorona.
Para evitar que o conflito com seu ministro escale, Merkel quer costurar um acordo amplo sobre imigração com os outros 27 países da UE. No domingo, ela já havia participado de uma minicúpula de emergência com representantes de 16 países, mas que rendeu poucos resultados práticos. Naufragou também uma iniciativa da chanceler federal de permitir que países do bloco selassem acordos bilaterais caso não fosse possível fechar um acordo amplo, com o potencial de aplacar um pouco a CSU.
Merkel comparece à atual cúpula com poucas opções e tendo que lidar com as diferenças abissais sobre como outros líderes da UE encaram o problema. Na véspera, em discurso ao Parlamento alemão, ela disse que "a Europa tem muitos desafios, mas o desafio da imigração pode se converter numa questão decisiva para o futuro da UE".
Divergências
Entre os pontos que Merkel quer discutir está a possibilidade de selar acordos de ajuda para países africanos que acolherem refugiados que tiveram pedidos rejeitados – similares ao acordo que foi fechado com a Turquia – e uma redistribuição pelo bloco de refugiados que chegam aos países que estão na linha de frente das rotas de imigração – como Itália e Grécia.
No entanto tais propostas estão longe de encontrar consenso entre os membros do bloco. Enquanto a Itália e a Grécia desejam uma redistribuição de refugiados pelo bloco, a fim de aliviar sua carga do problema, membros como a Polônia e a Hungria, governados por partidos da direita, não querem nem ouvir falar disso, temendo ter que acolher uma parcela significativa de refugiados.
A Áustria, também governada por conservadores, vem avaliando que lado tomar. Hoje, pelas regras da Convenção de Dublin, quem chega à Europa e solicita asilo tem que permanecer no país onde o pedido foi apresentado originalmente.
Assim, um africano que chegue à costa da Itália e entre com seu pedido nesse país, em tese não tem direito de solicitar refúgio em outros países. Só que na prática, o sistema europeu é tão pouco unificado que é comum refugiados apresentarem pedidos em vários países. Nos últimos anos, a Alemanha vem acolhendo inicialmente todos os refugiados e só depois verifica se eles foram registrados em outro lugar.
Há ainda propostas de outros países. A Áustria, por exemplo, propõe a criação de grandes centros de refugiados na costa africana, mas também não há consenso sobre essa ideia. O presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, por sua vez, falou da criação de "centros de desembarque" para imigrantes resgatados fora dos limites da UE, como no Mar Mediterrâneo. A ideia conquistou a simpatia de vários países-membros, mas até agora nenhum país dentro ou fora da UE parece interessado em sediar esses campos.
A própria Merkel acredita que tal proposta geraria muitos problemas legais e organizacionais. De qualquer forma, essa última ideia seria insuficiente para aplacar a CSU.
Nesta disputa, Merkel parece ter poucos aliados, e possivelmente só vai conseguir contar com a França e a Espanha. Enquanto isso, ela corre contra o tempo, já que é improvável que países como Itália, Grécia e Áustria estejam preparados a acolher adequadamente os refugiados barrados na fronteira alemã, como preveem os planos de Seehofer.
JPS/dw/ots
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As imagens que marcaram a crise migratória
Fotos impressionantes do enorme fluxo de migrantes para a Europa em 2015 e 2016 circularam pelo mundo. No Dia Mundial do Refugiado, vale lembrar a perseverança dos que foram forçadas a deixar seus países.
Foto: Getty Images/AFP/A. Messinis
A meta: sobreviver
Uma jornada combinada com sofrimento e perigo para corpo e alma: para fugir da guerra e da miséria, centenas de milhares de pessoas, principalmente da Síria, viajaram pela Turquia para a Grécia em 2015 e 2016. Ainda há cerca de 10 mil pessoas nas ilhas de Lesbos, Chios e Samos. De janeiro a maio deste ano, chegaram mais de 6 mil novos refugiados.
Foto: Getty Images/AFP/A. Messinis
A pé até a Europa
Em 2015 e 2016, milhões de pessoas tentaram, a pé, chegar à Europa Ocidental através da Turquia ou da Grécia até a Macedônia, Sérvia e Hungria. Este fluxo não parou mesmo depois de a chamada rota dos Bálcãs ter sido fechada e muitos países terem bloqueado suas fronteiras. Hoje, a maioria dos refugiados vai para a Europa usando a perigosa rota pelo Mediterrâneo através da Líbia.
Foto: Getty Images/J. Mitchell
Consternação mundial
Esta foto chocou o mundo em setembro de 2015: numa praia da Turquia foi encontrado o corpo do menino sírio Aylan Kurdi, de 3 anos. A imagem se espalhou rapidamente pelas redes sociais e se tornou um símbolo da crise dos refugiados. Depois dela, a Europa não podia mais se omitir.
Foto: picture-alliance/AP Photo/DHA
Caos e desespero
Sabendo que a rota de fuga para a Europa seria fechada, milhares de refugiados tentaram desesperadamente entrar em trens e ônibus na Croácia. Alguns dias depois, em outubro de 2015, a Hungria fechou a fronteira e criou campos com contêineres, onde os refugiados seriam mantidos durante a análise de seu pedido de asilo político.
Foto: Getty Images/J. J. Mitchell
Hostilidades
A indignação foi grande quando uma repórter cinematográfica húngara deu uma rasteira num refugiado sírio que corria com um menino no colo. Ele tentava passar por uma barreira policial na fronteira húngara em setembro de 2015. No auge da crise de refugiados aumentavam as hostilidades contra imigrantes, com ataques xenófobos a abrigos de refugiados também na Alemanha.
Foto: Reuters/M. Djurica
Fronteiras fechadas
O fechamento oficial da rota dos Bálcãs, em março de 2016, gerou tumultos nos postos de fronteira, onde milhares de migrantes não puderam mais avançar e houve relatos de violência policial. Muitos, como estes refugiados, tentaram contornar os postos de fronteira entre a Grécia e a Macedônia.
Uma criança ensanguentada coberta de poeira: a fotografia de Omran, de 5 anos, chocou o público em 2016 e se tornou um símbolo dos horrores da guerra civil da Síria e do sofrimento de seu povo. Um ano mais tarde, novas imagens mostrando o menino bem mais feliz circularam na internet. Apoiadores do presidente sírio afirmam que a primeira imagem foi usada para fins de propaganda.
Foto: picture-alliance/dpa/Aleppo Media Center
Em busca de segurança
Um sírio carrega a filha na chuva em Idomeni, entre a Grécia e a Macedônia. Ele procura abrigo na Europa. Segundo o Regulamento de Dublin, o asilo político precisa ser solicitado no primeiro país da União Europeia a que o refugiado chegou. Por isso, muitos que prosseguem viagem são mandados de volta. Por sua localização fronteiriça, Itália e Grécia são os países onde mais chegam refugiados.
Foto: Reuters/Y. Behrakis
Esperança
A Alemanha continua sendo o principal destino dos migrantes, embora a política de refugiados e de asilo do país tenha se tornado mais restritiva após o grande afluxo no final de 2015. Nenhum outro país europeu acolheu tantos refugiados como a Alemanha, que recebeu 1,2 milhão de pessoas desde 2015. A chanceler federal Angela Merkel foi um ícone para muitos dos recém-chegados.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Hoppe
Miséria nos campos de refugiados
No norte da França, um enorme campo de refugiados, a chamada "Selva de Calais", foi fechado. Durante a evacuação, em outubro de 2016, houve um incêndio no acampamento. Cerca de 6.500 moradores foram removidos para outros abrigos na França. Meio ano depois, organizações de ajuda relataram sobre muitos refugiados menores de idade que vivem como sem-teto em volta da cidade de Calais.
Foto: picture-alliance/dpa/E. Laurent
Afogamentos no Mediterrâneo
ONGs e guardas costeiras estão constantemente à procura de barcos de migrantes em perigo. Eles preferem atravessar o mar em embarcações precárias superlotadas a viver sem perspectivas na pobreza ou em meio à guerra civil. Só em 2017, a travessia já custou 1.800 vidas. Em 2016 foram registrados 5 mil mortos.
Foto: picture alliance/AP Photo/E. Morenatti
Milhares esperam na Líbia
Centenas de milhares de refugiados da África Subsaariana e do Oriente Médio esperam em campos líbios para atravessar o Mar Mediterrâneo. Muitos estão nas mãos de contrabandistas humanos e traficantes de pessoas. As condições nesses locais são catastróficas, dizem ONGs. Testemunhas relatam casos de escravidão e prostituição forçada. Ainda assim, continua vivo o sonho de chegar à Europa.
Foto: Narciso Contreras, courtesy by Fondation Carmignac