Merkel: "Europa não fez lição de casa quanto a migrantes"
29 de agosto de 2017
Em coletiva anual, chanceler federal alemã critica falta de solidariedade de Estados europeus no acolhimento de refugiados. Abertura de fronteiras alemãs a milhares de requerentes de asilo foi "correta e importante".
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A chanceler federal da Alemanha, Angela Merkel, afirmou nesta terça-feira (29/08) defendeu sua decisão de, há dois anos, permitir a entrada de mais de um milhão de refugiados no país como "correta e importante" no contexto de uma situação de "exceção humanitária".
A menos de quatro semanas da eleição federal, Merkel afirmou em sua tradicional entrevista coletiva de verão que a Europa ainda não fez suas "lições de casa" em relação à política de migração.
Leia a cobertura completa sobre aeleição na Alemanha em 2017
Segundo a chanceler, a Convenção de Dublin, segundo a qual o país de entrada de um requerente de asilo na Europa é responsável por processar seu pedido, não está funcionando. Merkel também repetiu sua crítica a países da União Europeia (UE) que se opõem a uma "distribuição justa" dos refugiados pelo continente, pedindo mais solidariedade.
"Não pode ser que a Europa seja solidária apenas quando convém a alguns", disse a chanceler. Ela afirmou que não se podem deixar sozinhos países como Itália e Grécia, por onde a maioria dos refugiados e migrantes ilegais chega ao continente.
A chanceler federal salientou a importância de se adotarem medidas para encontrar soluções de longo prazo e garantir que tal influxo de refugiados não se repita.
"Não podemos simplesmente nos fechar", disse a chanceler federal, defendendo que se combatam as causas dos fluxos migratórios. Os europeus só podem viver em prosperidade e segurança, "se olharmos para além do próprio umbigo e nos ocuparmos de nossos vizinhos e de seus desenvolvimentos econômicos".
Merkel afirmou também que os controles fronteiriços permitidos pela Comissão Europeia até o fim de novembro precisam ser estendidos. "Precisamos destes controles de fronteira", disse, acrescentando que discutirá a questão com o presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker.
Os controles de fronteiras dentro da zona de livre trânsito da Europa foram implementados por vários países devido à crise migratória, mas a Comissão Europeia disse em maio que pretende desativá-los.
"Fase complicada nas relações com Ancara"
Além de abordar a questão migratória, a chanceler federal pediu que a Turquia liberte cidadãos alemães presos após uma tentativa frustrada de golpe de Estado, classificando suas detenções de "injustificadas".
Merkel é vaiada por apoiadores da AfD
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Ancara prendeu ao menos dez alemães nos últimos meses por acusações que Berlim considera duvidosas. Ao mencionar o jornalista Deniz Yücel e outros nomes, Merkel disse aos repórteres: "nossa demanda é muito clara: as pessoas que estão presas devem ser libertadas".
As detenções contribuíram para o agravamento das relações entre Berlim e Ancara, que também foram prejudicadas por outras questões, como a crise migratória, comentários de um comediante e a proibição de comícios eleitoreiros turcos em solo alemão.
Merkel reiterou que "esta é uma fase muito complicada do nosso relacionamento com a Turquia". Ela assegurou que "gostaria de melhores relações", mas que isso depende do "cumprimento dos princípios do Estado de direito".
Merkel condena "racismo" da AfD
Entre outros assuntos abordados na entrevista coletiva, Merkel condenou como "racista" o comentário emitido pelo líder do partido populista de direita Alternativa para a Alemanha (AfD), Alexander Gauland, contra um membro do gabinete federal.
Gauland disse que a comissária de integração do governo federal, Aydan Özoguz, que tem raízes turcas, poderia ser "descartada na Anatólia". O comentário foi uma resposta a Özoguz, que tinha dito que "uma cultura especificamente alemã, além do idioma, simplesmente não é identificável". Posteriormente, Gauland recuou no uso da palavra "descartar", mas manteve a linha de suas observações.
Merkel afirmou que o comentário sobre a comissária Özoguz é "racista e absolutamente condenável" e que esta é uma estratégia típica da AfD: "primeiro a provocação e, em seguida, um leve recuo".
PV/dpa/ap/afp/rtr
Merkel a caminho do quarto mandato
Quem poderia pensar? Vista como líder interina de seu partido após saída de Helmut Kohl, Merkel chefia a CDU desde 2000 e, há 11 anos, a Chancelaria Federal. Confira momentos de uma carreira que ainda não chegou ao fim.
Foto: Getty Images/C. Koall
Primeiro juramento
"Eu quero servir a Alemanha". A promessa foi feita por Angela Merkel no dia 22 de novembro de 2005, quando tomou posse como chanceler. Depois da vitória apertada nas eleições gerais, ela se tornou a primeira mulher e a primeira alemã da antiga parte oriental a ocupar o cargo. Merkel se tornou a chefe de governo, comandado pela grande coalizão formada entre os partidos CDU, CSU e SPD.
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Quem tem medo do cão de Putin?
Merkel é conhecida por sempre ser racional e se manter calma. O presidente da Rússia, Vladimir Putin, quis aparentemente testar os nervos da chanceler quando a recebeu na residência presidencial em Sochi, em 2007. Putin conseguiu revelar o ponto fraco de Merkel: ela tem medo de cães. Isso não impediu que o presidente russo deixasse o labrador Koni farejar os sapatos da chanceler.
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Resgate financeiro
Em situações de crise, Merkel age com frieza. Quando os mercados financeiros entraram em colapso em 2008 e ameaçaram prejudicar a economia alemã, a chanceler se empenhou na proteção do euro e na criação de fundos de resgate para as economias mais fracas do bloco europeu. Ela se destacou como eficiente gestora de crises, mas não escapou de receber críticas de países como Grécia e Espanha.
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Caminho para o segundo mandato
Apesar do pior desempenho da aliança conservadora na história, Merkel venceu as eleições de 27 de setembro de 2009. Depois de se aliar ao Partido Social-Democrata (SPD), a chanceler estava pronta para iniciar o segundo mandato ao lado de outro parceiro, o Partido Liberal Democrático (FDP).
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Resposta rápida
Merkel que, como física, é conhecida por pensar de forma objetiva, não previu a catástrofe nuclear de Fukushima, no Japão. Defensora da política nuclear na Alemanha, Merkel mudou de posição em tempo recorde. A extensão do prazo de funcionamento das usinas foi suspenso e a Alemanha iniciou o processo de colocar fim ao uso da energia nuclear.
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O homem ao seu lado
Quem o reconheceria? Quem conhece sua voz? Há dez anos, o marido de Merkel, Joachim Sauer, professor de Química da Universidade Humboldt, em Berlim, se mantém discreto. Eles estão casados desde 1998.
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Amizade em crise
As escutas de comunicações de políticos alemães por parte da Agência de Segurança Nacional (NSA), dos Estados Unidos, abalaram as relações da Alemanha com a Casa Branca. Até o celular de Merkel foi alvo de espionagem. Uma frase da chanceler ficou famosa: "Não é aceitável que países amigos espiem uns aos outros".
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O paciente grego
O clube de fãs de Merkel é extenso, mas na Grécia é provavelmente menor. A hostilidade contra a chanceler alemã nunca foi tão grande como em 2014, no auge da crise da dívida grega. A imagem de velha inimiga ressurgiu, mas Merkel se manteve firme em relação à política de austeridade que previu cortes e reformas a serem cumpridos por Atenas.
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Emotiva, às vezes
Tipicamente reservada, Merkel quebrou os protocolos durante a final da Copa do Mundo de 2014 no Rio de Janeiro. A chanceler federal alemã celebrou a vitória da Alemanha sobre a Argentina ao lado do presidente alemão, Joachim Gauck. Ela estava no auge de sua popularidade, assim como a seleção vitoriosa.
Foto: imago/Action Pictures
"Nós podemos fazer isso!"
Para Merkel, o direito de asilo a refugiados não pode ser limitado. "Nós podemos fazer isso" se tornou o credo da chanceler sobre a política alemã de acolhida aos migrantes que fogem de guerras e perseguições. Se o país dará conta da enorme demanda, isso já é uma pergunta ainda em aberto.
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"E agora, Merkel?"
Sexta-feira 13 – um massacre em novembro. A França está em situação de emergência e Merkel ofereceu "toda a assistência" ao país vizinho. O medo do terrorismo se espalha. Não há dúvidas de que esse é o maior desafio de Merkel em dez anos no poder.
Foto: picture-alliance/dpa/B. von Jutrczenka
Barulho na coalizão
Foi o castigo máximo para a chanceler federal. No congresso da CSU, em novembro de 2015, Horst Seehofer a repreendeu. O líder da legenda-irmã do partido de Merkel na Baviera criticou que a política migratória da chefe alemã de governo fez com que o país perdesse o controle de suas próprias fronteiras. Uma humilhação que Merkel teve que suportar de pé e sem oportunidade de resposta.
Foto: picture-alliance/AP Photo/S. Hoppe
Será que ele não poderia ficar?
Seria um alívio para Merkel continuar a lidar com Obama. Mas, no início, ela era bastante cética quanto a ele. O monitoramento do celular da chanceler federal, no contexto do escândalo de espionagem da NSA, parecia abonar a sua postura reservada. Mas, agora, um parceiro previsível sai de cena e dá lugar a Donald Trump. O jornal "New York Times" já a chama de "defensora do Ocidente liberal".
Foto: Reuters/F. Bensch
Merkel mais uma vez
Finalmente, após meses de intensas especulações em torno de sua candidatura à reeleição, Merkel confirma a sua intenção de concorrer a um quarto mandato. Durante entrevista coletiva em 20/11, ela diz à liderança de seu partido, a União Democrata Cristã (CDU), estar preparada para chefiar a legenda na eleição parlamentar alemã, prevista para setembro ou outubro de 2017.