Em celebração que marcou os 31 anos da reunificação alemã, chanceler federal pede que cidadãos do país continuem a trabalhar em conjunto e diariamente para preservar conquistas democráticas.
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A chanceler federal da Alemanha, Angela Merkel, disse neste domingo (03/10) que os alemães precisam continuar trabalhando pela democracia. A declaração foi feita em um evento do Dia da Unidade Alemã, que marca o 31º aniversário da reunificação do país após a derrocada da antiga Alemanha Oriental.
"Às vezes damos a democracia como certa, como se não houvesse mais nada a fazer", disse Merkel. "[Mas] a democracia não está aí simplesmente", prosseguiu a chefe de governo durante um evento na cidade de Halle, no leste do país. "Devemos trabalhar juntos pela democracia, repetidamente, todos os dias."
Merkel também advertiu sobre os riscos à ordem democrática, citando o assassinato de um político conservador pró-imigração na Alemanha em 2019 por um extremista de direita, o atentado antissemita a uma sinagoga em Halle no mesmo ano e a morte no mês passado do funcionário de um posto de gasolina por um homem que se recusava a usar máscara. "A democracia está sob ataque", disse Merkel, naquele que deve ser último discurso como chanceler num evento do Dia da Unidade Alemã.
Pós-eleições
A política conservadora vai deixar a chefia de governo após 16 anos no poder. Por enquanto, a sucessão de Merkel permanece indefinida, enquanto os partidos ainda costuram uma nova coalizão de governo.
No momento, dois políticos tentam ocupar a Chancelaria Federal: o social-democrata Olaf Scholz, que obteve mais votos na eleição em 26 de setembro, e o democrata-cristão Armin Laschet, membro do partido de Merkel e que obteve menos votos, mas ainda tem chance de ser bem-sucedido na fase de alianças.
Merkel mencionou indiretamente o processo para a formação de um novo governo.
"Podemos discutir exatamente como será o futuro, mas sabemos que a resposta está em nossas mãos, que temos que ouvir e falar uns com os outros, que temos diferenças, mas acima de tudo coisas em comum", disse.
"Esteja preparado para novos encontros, seja curioso sobre os outros, conte suas próprias histórias e tolere diferenças", acrescentou. "Essa é a lição de 31 anos de unidade alemã."
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Reunificação não foi concluída
Sobre a reunificação da Alemanha, a chanceler federal também afirmou que este "não é um processo concluído", mencionando que muitos moradores da antiga Alemanha Oriental, como ela mesmo, tiveram que continuamente justificar que também fazem parte do país. Merkel cresceu na antiga Alemanha Oriental e se lançou na política em 1990, após a Reunificação.
Ela ainda afirmou que a Reunificação aconteceu "porque havia pessoas na Alemanha Oriental que arriscaram tudo por seus direitos, sua liberdade e uma sociedade diferente".
Três décadas depois, permanece uma divisão política e econômica entre o oeste alemão e os estados do leste do país, que passaram mais de quatro décadas sob uma ditadura do partido comunista. Os alemães dos estados ocidentais continuam, em média, mais ricos do que os habitantes dos territórios da antiga Alemanha Oriental.
O processo de reunificação, embora tenha resultado no fim da ditadura, também foi marcado por mudanças mais dolorosas na antiga Alemanha Oriental, como o fechamento de boa parte das indústrias locais e alto desemprego. Algumas dessas mudanças resultaram em ressentimento entre muitos habitantes.
Parte das diferenças entre oeste e leste foi ilustrada na eleição nacional do final do mês passado. No leste, o partido de ultradireita Alternativa para a Alemanha (AfD), que explora a insatisfação da população local, obteve seus melhores resultados, muito acima da média nacional.
jps (ots)
Berlim: antes e depois da Reunificação
Símbolo da Alemanha dividida, a capital alemã foi um dos palcos mais visíveis da Guerra Fria até a reunificação do país, nos anos 1990. Um passeio em imagens mostra Berlim antes e depois.
O Portão de Brandemburgo
Ele é um dos marcos mais famosos de Berlim. Construído em 1791, o Portão de Brandemburgo marcava a fronteira entre Berlim Oriental e Ocidental na época da divisão. Ele ficava na parte leste da cidade, logo atrás do muro, e era inacessível ao público. Foi só no outono de 1989 que as barreiras não puderam mais se sustentar: desde então, a praça está sempre lotada com turistas do mundo todo.
Hohenschönhausen
Até 1989, Hohenschönhausen serviu como "Presídio Central de Investigações de Segurança do Estado" da Alemanha Oriental. Os presos políticos eram detidos no centro de detenção e torturados mental e fisicamente. Com muros altos, o complexo de edifícios da Stasi era secreto e não aparecia em nenhum mapa da cidade. Após a Reunificação, ele foi fechado e, alguns anos depois, reaberto como um memorial.
O Muro de Berlim
Por 28 anos, o Muro de Berlim dividiu a cidade em leste e oeste. Muitos morreram tentando escapar pelo complexo sistema de barreiras de cerca de 160 quilômetros de extensão. O número exato de mortes é desconhecido até hoje. No ano da reunificação, artistas do mundo inteiro pintaram parte do Muro, que foi então batizada de East Side Gallery – hoje o trecho mais longo preservado da barreira.
Com 19 metros de altura, este colosso em granito vermelho ficou no bairro de Friedrichshain de 1970 a 1991. Cerca de 200 mil pessoas estiveram presentes na inauguração oficial do monumento. No início da década de 1990, o comunismo teve seu fim – e junto com ele, a estátua de Lenin, que acabou sendo desmontada. Hoje, a antiga Praça Lenin se chama Praça das Nações Unidas.
De Palácio da República a Palácio de Berlim
O Palácio da República foi inaugurado em 1976 – após 32 meses de construção. Era o centro de poder da Alemanha Oriental, sede da Volkskammer (órgão legislativo) e palco dos congressos do partido comunista. Após a Reunificação, o prédio foi demolido entre 2006 e 2008 por conter amianto. Em seu lugar, foi reconstruído o histórico Palácio da Cidade de Berlim, chamado oficialmente de Fórum Humboldt.
As lojas Intershops da RDA
"Intershop" era o nome de uma rede varejista da Alemanha Oriental, onde, porém, não se podia comprar com dinheiro do país, mas apenas em moeda estrangeira. Como resultado, muitos cidadãos tinham apenas uma visão limitada da gama de produtos. As primeiras surgiram na estação de trens Friedrichstrasse, em Berlim Oriental (foto). Hoje, o local está irreconhecível e repleto de boutiques e lojas.
Parquinho
Infância despreocupada, só se for no playground. Essas bolas de metal para escalar (à esquerda) estavam presentes em quase todos os parquinhos do leste. Hoje, trepa-trepas são feitos principalmente com cordas fixas, pois assim as crianças (e os adultos) não se machucam ao brincar. Mais fotos de Berlim antes e depois podem ser conferidas no Facebook: #GermanyThenNow #BerlinThenNow
Hotel
Inaugurado em 1977 na Friedrichstrasse, o Interhotel Metropol tinha 13 andares. Ao longo dos anos, passaram por aqui diplomatas e celebridades. Mas para a maioria dos cidadãos da Alemanha Oriental – que não possuíam moeda estrangeira – ele só podia ser admirado de fora. Hoje o local abriga um hotel da rede Maritim, acessível a todos os visitantes – embora com um preço não tão acessível assim.
KaDeWe
Com uma área de 60 mil metros quadrados, a Kadewe é a loja de departamentos mais conhecida da Alemanha e a segunda maior da Europa. O estabelecimento de luxo foi inaugurado em 1907, mas quase virou pó com os incêndios da Segunda Guerra Mundial. Na Alemanha dividida, a loja estava localizada em Berlim Ocidental. Agora, é uma atração para turistas, moradores e amantes do luxo em geral.