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Merkel faz discurso ferrenho em defesa do multilateralismo

16 de fevereiro de 2019

Em resposta velada a Trump, chanceler federal alemã diz que seria um erro alienar a Rússia politicamente e, em termos de estratégia, é do melhor interesse da Europa manter as portas do diálogo abertas.

Merkel durante discurso em Munique
Merkel durante discurso em MuniqueFoto: Reuters/A. Gebert

A chanceler federal alemã, Angela Merkel, fez um discurso ferrenho em defesa do multilateralismo neste sábado (16/02), em Munique, durante uma conferência internacional de segurança.

A uma plateia que incluía o vice-presidente americano, Mike Pence, e Ivanka Trump, filha de Donald Trump, Merkel defendeu as relações alemãs com a Rússia e apelou aos líderes mundiais que trabalhem juntos para enfrentar os problemas globais.

A premiê alemã defendeu, sobretudo, os planos de seguir adiante com a construção de um gasoduto que conectará a Rússia com a Alemanha.

O discurso pode ser interpretado como uma resposta a Trump, que criticou o projeto e disse que o gasoduto deixaria a Alemanha refém de Moscou, devido à sua dependência do gás russo.

"Se, durante a Guerra Fria, nós importamos grandes quantidades de gás russo, não sei por que agora os tempos são tão ruins que não podemos dizer que a Rússia continua um parceiro”, argumentou Merkel.

"Nós queremos tornar a Rússia dependente apenas da China?”, questionou a líder alemã, que já anunciou que esse será seu último mandato à frente do governo em Berlim. "São esses nossos interesses europeus? Não creio.”

Segundo Merkel, seria um erro alienar a Rússia politicamente e, em termos de estratégia geopolítica, é do melhor interesse da Europa manter as portas do diálogo abertas.

A Alemanha é um dos alvos preferidos de Donald Trump. O presidente americano acusa os alemães, por exemplo, de sustentarem um superávit econômico desleal em relação aos Estados Unidos e ameaçou sobretaxar produtos do poderoso setor automotivo alemão.

"Nós somos orgulhosos de nossos carros e temos motivos para tal”, disse Merkel, lembrando, porém, que muitos automóveis alemães são construídos nos EUA e exportados para a China. "Mas se isso é visto como uma ameaça para a segurança americana, é um choque para gente”, complementou, sob aplausos.

Merkel apelou também para uma cooperação global em uma série de temas, desde a questão nuclear iraniana à crise migratória. Ela questionou, por exemplo, se a retirada americana da Síria seria, taticamente, realmente a melhor decisão.

O discurso de Merkel era um dos mais aguardados da Conferência de Segurança de Munique, o maior evento de debates sobre o tema no mundo, que ocorre na capital bávara desde 1963.

RPR/ots

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