No Parlamento, Angela Merkel diz que país deve promover a proteção climática e lutar contra a xenofobia. Oposição acusa a chanceler federal de "desindustrializar" a nação em nome de uma ideologia "verde-esquerdista".
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A chanceler federal da Alemanha, Angela Merkel, identificou as mudanças climáticas e a digitalização como os dois principais desafios enfrentados pelo país em um discurso de meia hora proferido nesta quarta-feira (11/09) no Bundestag (Parlamento alemão) no âmbito do debate geral do orçamento federal para 2020.
Merkel fez uma defesa vigorosa de seu governo e apelou para uma ação maior da União Europeia na política externa, um reforço da economia social de mercado e, ainda, um maior envolvimento contra o aumento do ódio e da intolerância na sociedade.
O multilateralismo continuou sendo seu lema durante todo o tempo, especialmente sobre como a Europa deve "deixar uma marca maior" nos assuntos mundiais. Ela afirmou que uma das questões preocupantes no momento foi resgatar o acordo nuclear com o Irã, do qual os EUA se retiraram. "Essa é uma tarefa europeia", afirmou.
O multilateralismo e a economia social de mercado foram também as soluções propostas para as mudanças climáticas, que o governo alemão considerou um "desafio para a humanidade".
"Nós devemos tomar juntos essa decisão fundamental", frisou a chanceler federal aos parlamentares. "Quer assumamos a responsabilidade ou não. Nós também precisamos tomar a decisão básica se queremos assumir o risco e dizer que não foi causado pela humanidade, e talvez tudo passe, ou se há tanta evidência de que temos que assumir a responsabilidade em vista das gerações futuras."
Ela também insistiu que, apesar das reclamações consistentes sobre a infraestrutura digital da Alemanha, o governo está avançando rapidamente. "Nós temos que desenvolver uma estratégia de como fornecer cobertura digital, inclusive para os agricultores e muitos outros, para ter acesso à internet de banda larga", afirmou. "Nós temos que nos tornar melhores, mais rápidos e nos manter na área de inteligência artificial. Nós desenvolvemos uma estratégia e convidamos professores reconhecidos internacionalmente a virem à Alemanha para trabalhar."
O Bundestag estava lotado nesta quarta-feira pela manhã para o debate sobre o orçamento federal, considerado um dos momentos mais altos da legislatura parlamentar, quando a tradição exige que o chanceler federal defenda o governo de ataques contra pontos de sua política vindos de todo o espectro político.
Mas o governo de Merkel estava particularmente sob pressão no debate deste ano, dez dias depois das eleições nos estados da Saxônia e de Brandemburgo, que mostraram uma nova erosão no apoio aos dois partidos centrais que compõem sua coalizão: sua própria legenda União Democrata-Cristã (CDU) e o Partido Social-Democrata (SPD).
Ataques contra Merkel
Esses resultados deram munição extra ao maior partido da oposição, o populista de extrema direita Alternativa para a Alemanha (AfD), cuja colíder Alice Weidel abriu os procedimentos com um ataque abrangente à política do governo, acusando a administração de Merkel de "desindustrializar" a Alemanha em nome de uma "ideologia verde-esquerdista" baseada na "loucura climática".
O principal alvo de Weidel era a contínua "transição energética" do governo, uma tentativa de mudar para fontes de energia renováveis, se distanciando, portanto, dos combustíveis fósseis e da energia nuclear.
"Sua suposta proteção climática não é nada mais do que um monstruoso programa de desindustrialização combinado com a verdadeira destruição de empregos", disse Weidel. "Você desperdiça bilhões [de euros] para evitar o imaginário apocalíptico em um futuro distante."
Ela condenou também os planos da indústria automobilística de se mover para a mobilidade elétrica, afirmando que o governo estava tentando promover uma "economia planejada".
Weidel, cujo partido é principalmente conhecido por sua posição anti-imigração, condenou também os planos de Merkel de implementar uma nova missão de salvamento marítimo no Mar Mediterrâneo. Ela acusou a chanceler federal de criar um "serviço estatal de táxi aquático" para migrantes da África.
Em resposta, Merkel pediu mais ação contra o ódio e a intolerância e, ao mesmo tempo, abordou a crescente polarização social e econômica.
"Nós sabemos que na Alemanha as pessoas têm preocupações, que as pessoas se sentem deixadas para trás, que o desenvolvimento entre a cidade e o país é muito diferente", acrescentou Merkel. "Nós precisamos encontrar respostas para isso."
"Todos os dias assistimos a ataques contra judeus, ataques contra estrangeiros, violência e discursos de ódio", sublinhou Merkel. "Nós temos que lutar contra isso. E podemos distribuir todo o dinheiro dos impostos para os projetos importantes que quisermos."
A chanceler federal alemã frisou ainda que "enquanto não estiver claro que neste país não há tolerância zero para o racismo, ódio e aversão a outras pessoas, uma coexistência adequada não é possível".
Quanto ganha um deputado federal alemão? E a chanceler Angela Merkel e o presidente Steinmeier? Além do salário, parlamentares e autoridades governamentais alemães têm vários outros benefícios.
Foto: picture alliance/dpa/L.Schulze
Salário da chefe de governo
Além de um salário de 18,7 mil euros, a chanceler federal alemã, Angela Merkel, tem direito como membro do Parlamento à metade da "dieta" de um deputado federal, ou seja, 4,8 mil euros, como também a uma ajuda de custo livre de impostos de 3,3 mil euros e a outros benefícios. No total, sua remuneração chega a cerca de 28,8 mil euros mensais ou quase 345 mil euros (1,55 milhão de reais) anuais.
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Apartamento funcional
A chefe de governo também tem direito a uma residência completamente equipada. Na Chancelaria Federal (foto), no centro de Berlim, há um apartamento funcional no oitavo andar à sua disposição, mas Angela Merkel preferiu continuar vivendo em sua antiga moradia num prédio de quatro pavimentos onde mora com o esposo em frente à Ilha dos Museus, não muito longe do seu local de trabalho.
Foto: imago/IPON
Aviões governamentais
Um Airbus serve ao transporte aéreo da chanceler Angela Merkel e do presidente alemão, Frank-Walter Steinmeier. Depois que panes em antigos aviões da frota governamental de 14 aeronaves levaram Merkel a chegar atrasada ao G20 em Buenos Aires no final do ano passado, o governo em Berlim anunciou a compra de três novos A350-900. Planeja-se também uma aeronave reserva sempre à disposição.
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Stylist, guarda-costas e motorista
Obviamente Angela Merkel tem uma assessora que cuida de seu visual, como também uma chefe de gabinete que trata de sua agenda. Sua proteção é assegurada por uma equipe de 15 a 20 guarda-costas, que trabalham em turnos. O motorista da chefe de governo dirige um Audi A8 blindado. A frota da Chancelaria Federal abrange 20 carros, todos de marcas alemãs: Mercedes, BMW, Audi e Volkswagen.
Foto: Imago
"Dieta" de deputados
Na Alemanha, os 709 parlamentares em Berlim não recebem oficialmente um salário, mas um subsídio também chamado de "dieta". Atualmente, ela corresponde a 9.780 euros, mas é corrigida anualmente em 1° de julho, conforme o aumento do custo de vida. Neste ano, a "dieta" dos deputados federais alemães ultrapassará os 10 mil euros. Esse aumento também afetará as pensões dos parlamentares.
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Aposentadoria parlamentar
A cada ano no Bundestag, um deputado alemão tem direito a 2,5% de sua remuneração para sua aposentadoria, ou seja, mais de 251 euros em 2019. A taxa máxima de 67,5%, a ser paga a partir de 67 anos de idade, é alcançada após 27 anos de trabalho parlamentar. Junto a "dieta" e pensão, os parlamentares em Berlim também têm outros benefícios.
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Ajuda de custo e viagens de trem
Além de sua remuneração, cada parlamentar alemão recebe mensalmente uma quantia de 4.418 euros, livre de impostos e corrigida a cada 1° de janeiro. Ele serve para cobrir os custos incorridos no contexto do mandato político, como acomodação e refeições. Despesas de viagens oficiais são ressarcidas, e cada deputado tem direito a viajar gratuitamente de primeira classe em trens na Alemanha.
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Parentes às próprias custas
Os parlamentares também têm direito a atuais 21.536 euros mensais para despesa com funcionários. O dinheiro é pago diretamente aos empregados. Se o parlamentar empregar algum familiar, ele vai ter que pagá-lo do seu próprio bolso. O Parlamento também possui um serviço de motoristas que funciona dentro da cidade de Berlim e que pode ser requisitado pelos deputados caso necessitem.
Foto: picture alliance/Markus C. Hurek
Ajuda de reinserção
Os deputados também podem exercer atividades paralelas à sua função no Bundestag, como em conselhos de empresas. O ganho proveniente de tais atividades não é descontado de sua remuneração parlamentar. Para cada ano de mandato, o deputado tem direito ainda a uma chamada "ajuda transitória" para sua reinserção na antiga profissão equivalente a 9.541 euros mensais, pagos até 18 meses.
Foto: Imago/Westend61
Remuneração ministerial
Segundo a União dos Contribuintes da Alemanha (BdSt), os ministros alemães ganham pouco mais de 15 mil euros mensais, mais uma ajuda de custo. Há ainda uma quantia anual livre de impostos de cerca de 3,7 mil euros. Aqueles com mandato parlamentar (atualmente 10 de um total de 15 ministros) ainda recebem uma parcela de sua "dieta" que faz elevar seus salários a mais de 20 mil euros.
Foto: picture-alliance/dpa/M.Kappeler
Voos comerciais
Uma decisão tomada este ano em reação às panes com aviões governamentais estipula que, com exceção do ministro do Exterior, do ministro das Finanças e do ministro do Interior, os demais membros do gabinete deverão recorrer a aeronaves comerciais para seus compromissos oficiais no exterior. Mas todos os ministros têm direito a um carro oficial, que também pode servir para uso particular.
Foto: Fotolia/dell
Ajuda e pensão
Já após um dia no cargo, um ministro tem direito a quase 71 mil euros em ajuda transitória pós-mandato, que pode ascender a 213 mil euros dependendo do tempo que ficou na pasta. E quem foi ministro por ao menos dois anos pode esperar aposentadoria, que é de 28% do salário para quatro anos de mandato. A cada ano adicional, a pensão aumenta 2,4 % até um máximo de 11,3 mil euros.
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"O primeiro homem no Estado"
Na Alemanha, o presidente é o principal cargo estatal, não é à toa que ele é chamado de "o primeiro homem no Estado", mas sua função é, sobretudo, representativa. O chefe de Estado é antes de tudo uma autoridade moral e sua influência vai depender de sua personalidade. Segundo o escritório presidencial, ele recebe um salário de 236 mil euros anuais mais uma ajuda de custo anual de 78 mil euros.
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Casa, carro e avião
O presidente alemão vive em residência oficial, que hoje está abrigada na Villa Wurmbach no bairro berlinense de Dahlem após reforma do escritório presidencial no Palácio Bellevue (foto); é guiado em limusine blindada com a placa "0-1" e tem uso privilegiado da frota de aviões governamentais. Os benefícios a que têm direito após deixar o cargo foram, no entanto, revisados após recente polêmica.
Foto: picture-alliance/dpa/L. Schulze
Cortes de benefícios
A crítica se dirigia em primeira linha ao ex- presidente Christian Wulff (foto), que renunciou em 2012 após somente 20 meses no cargo, recebendo "soldo honorário" de mais de 200 mil euros anuais. Além de cortes no pessoal do escritório dos ex-presidentes, a partir deste ano, a pensão presidencial vai passar a ser descontada de ganhos provenientes de qualquer atividade que exercer após o mandato.