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Angela Merkel, pragmatismo e habilidade política

Volker Wagener (sv)9 de setembro de 2013

Há oito anos no poder, chanceler federal alemã tem trajetória marcada pela firmeza e destreza para inicialmente colocar os problemas de lado e, no fim, aliar-se à maioria. Estilo lhe rendeu tanto apreço quanto desprezo.

Foto: picture-alliance/dpa

Quando em junho passado, durante visita a São Petersburgo, Vladimir Putin tentou tirar-lhe o direito de discursar na abertura de um evento sobre a Segunda Guerra Mundial, Angela Merkel não pensou duas vezes: ameaçou antecipar sua volta para casa.

O discurso seria sobre a chamada "arte de botim" – objetos levados da Alemanha por soldados russos durante a guerra. Um caso aparentemente isolado, mas que ilustra seu estilo à frente do governo. Merkel não governa em tempos fáceis, porém poucas vezes perdeu a firmeza. Como fez com Putin, ela deixou vários outros políticos em xeque-mate em seus oito anos no poder.

Silêncio e observação

Com relação ao escândalo de espionagem americano, Merkel demonstrou outras qualidades. O caso foi um acidente previsível para a chefe de governo, tanto do ponto de vista de política interna, quanto externa. Exatamente os Estados Unidos, aliados tão próximos da Alemanha, espionaram com todas as artimanhas os alemães – e com a ajuda de Berlim.

De início, Merkel calou-se. Depois, demonstrou indignação. "Ela ameniza todos os temas controversos", analisa o historiador Edgar Wolfrum. Para ele, a chanceler coloca os problemas de lado, para, no fim, aliar-se à maioria: uma habilidade política que lhe rende tanto apreço quanto desprezo.

Sua firmeza ela demonstra no âmbito europeu. Especialmente desde 2008, Merkel vem sendo convocada sobretudo para gerenciar momentos de crise. Diante de uma Grécia fragilizada, ela procurou salvar o euro. Em Atenas, como em quase todo o sul da Europa, ela não é vista com bons olhos, mas a aprovação internacional de sua política para o euro se sobrepõe a isso.

Merkel entre Durão Barroso, presidente da Comissão Europeia, e o presidente francês, François HollandeFoto: Reuters

Objetividade

É preciso conhecer as origens de Merkel para entender como ela se tornou o que é hoje. Nunca antes na história da Alemanha do pós-guerra uma figura política foi tão subestimada quanto ela, filha de pastor protestante nascida em Hamburgo, mas criada na antiga Alemanha Oriental.

Em suas primeiras aparições públicas, notava-se, além da aparência nada fotogênica, certa falta de objetividade, vista como deficiência. Merkel não tem perfil de missionária, mas é uma política pragmática.

"É claro que Angela Merkel não é uma pessoa de ideologias", define a jornalista Jacqueline Boysen, autora de uma biografia sobre a estadista, quando ela ainda não era chefe de governo. "Ela tem liberdade de tomar decisões somente com base em números, dados e fatos. Ela passa de longe por cima de ligações ideológicas ou dos programas do próprio partido."

O pragmatismo está, para ela, acima de tudo. Além disso, Merkel consegue revidar posições tomadas anteriormente. Depois do acidente nuclear em Fukushima, por exemplo, ela, que era uma defensora do uso da energia atômica, assumiu uma posição contrária. Isso não lhe trouxe nenhum dano. Pelo contrário: sua imagem de "filhinha de Helmut Kohl", o antigo chanceler federal, deu lugar para a "mãezona da Alemanha". Resumindo: ela tem tanto o partido quanto o governo nas mãos.

Angela Merkel com Helmut Kohl no ano de 2000Foto: picture-alliance/dpa

Cautela

Uma das razões para isso está em sua infância e juventude tranquilas, passadas na antiga Alemanha Oriental, um Estado de trabalhadores e agricultores. Angela Merkel nunca foi de oposição na RDA. Embora ela tenha enfrentado alguns problemas por causa da ligação religiosa da família, o Estado socialista, afirma Boysen, não deixou nela sequelas como em muitos dissidentes.

"Não tenho o que reclamar da minha infância", afirmou certa vez Merkel, em retrospectiva. Apesar de que, bem cedo, ela parece ter aprendido que é preciso ter cautela em relação aos outros. Neste sentido, ela foi uma cidadã-padrão da RDA: nem oportunista, nem renitente.

Merkel possui, além de tudo, a capacidade de ouvir. Quem a conheceu na juventude afirma que ela sempre teve grande capacidade de comunicação. E seu correligionário Kurt Lauk chega a ter problemas com a rapidez de compreensão da líder do partido. "Ela ouve, compreende, mas o retorno é incerto, pois seu feedback não é sempre claro", diz Lauk.

Ele chefia o Conselho de Economia da União Democrata Cristã (CDU), sendo com isso representante de uma ala forte do partido. O político defende determinados interesses que nem sempre são apoiados por Merkel sem que ela, ao mesmo tempo, leve também em consideração outras correntes dentro da facção.

Outra marca registrada de Merkel é reconhecer rapidamente os problemas, mas tomar decisões somente mais tarde. "Certamente não sou uma pessoa que decide a toque de caixa", disse certa vez sobre si mesma. "Compreendo os processos num desenrolar contínuo e me pergunto, no caso de muitas decisões, onde ele vai terminar."

Em 1990: visita a pescadores na costa do Mar BálticoFoto: ullstein bild/Ebner

A carreira

Merkel iniciou-se na política de maneira mais casual que planejada. Aos 35 anos, a então vice-porta-voz do último chefe de governo da RDA, Lothar de Maizière, recebeu dele a possibilidade de dar vazão a seu talento para organização e comunicação. Merkel havia se filiado pouco antes à CDU. Aplicada por natureza, ela começou a desenvolver ambições.

Durante o governo do chanceler federal Helmut Kohl, ela ocupou, em 1994, o posto de ministra do Meio Ambiente e Segurança de Reatores – uma pasta importante e adequada para alguém que havia concluído um doutorado em Física. Frente à questão controversa, tanto hoje quanto na época, sobre o que fazer com o lixo atômico radioativo, Merkel mostrava-se irredutível em defesa do uso da energia nuclear – postura mantida até o acidente em Fukushima.

Em 1992, quando ocupava o Ministério das Mulheres e da JuventudeFoto: picture alliance / dpa

Quando Helmut Kohl perdeu as eleições parlamentares em 1998, a CDU entrou em estado de choque. Mas Angela Merkel não. Foi aí que ela vislumbrou seu lugar na era pós-Kohl. Wolfgang Schäuble, que se tornou na época presidente do partido, convidou-a para o cargo de secretária-geral. "O que importa é virarmos manchete", era sua diretriz na nova função. E durante o escândalo financeiro envolvendo doações para o partido, cujos protagonistas foram sobretudo Kohl e Schäuble, ela conduziu a queda moral do antigo chefe de governo.

Em abril de 2000, Merkel foi eleita presidente da CDU e, nas eleições parlamentares de 2005, foi a principal candidata dos democrata-cristãos. Ela chegou ao posto de chanceler federal, mesmo que a única coalizão possível tenha sido com os rivais social-democratas.

Há 13 anos, Angela Merkel encabeça a CDU. E há oito anos ela governa a Alemanha, tendo jogado para escanteio literalmente todos os adversários políticos dentro do partido. Normalmente, ela age calada, deixando o barulho para os homens.

Rumo ao terceiro mandato?Foto: AFP/Getty Images
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