Merkel: "Quanto mais pessoas vacinadas, mais livres seremos"
22 de julho de 2021
Em sua última coletiva como chanceler federal, Merkel faz apelo urgente para que alemães se vacinem e alerta contra agravamento da epidemia do coronavírus. Líder alemã também reconhece falhas na proteção climática.
Anúncio
Em sua tradicional coletiva de imprensa de verão, nesta quinta-feira (22/07), a chanceler federal alemã, Angela Merkel, fez um apelo urgente para que as pessoas se vacinem contra a covid-19 e alertou para uma piora da situação epidemiológica diante do aumento do número de infecções no país nos últimos dias.
"Quanto mais pessoas estiverem vacinadas, mais livres seremos novamente", disse a chanceler na coletiva, que provavelmente é também sua última, já que ela deixará o cargo após a eleição federal de setembro próximo.
"Somente juntos podemos superar a pandemia", disse Merkel, apelando para que as pessoas promovam ativamente as vacinas em seu ambiente privado e no trabalho.
Os que ainda hesitam em se vacinar deveriam pensar que "cada vacina é um pequeno passo para mais segurança para todos", disse. "Cada vacina conta."
Ela descreveu como "dramática" a duplicação dos números de incidência da covid-19 em 12 dias e pediu maior atenção às medidas de proteção, ou seja, uso de máscaras, manter distância, ventilação e também testes regulares.
Taxas de vacinação mais altas devem possibilitar lidar também com o aumento no número de novos casos. "Evitar que o sistema de saúde seja sobrecarregado continua sendo o princípio orientador de nossas ações", disse Merkel.
O Instituto Robert Koch (RKI), agência alemã para o controle e prevenção de doenças, informou nesta quinta-feira (22/07) que a taxa de incidência do coronavírus aumentou para 12,2 a cada 100 mil habitantes nos últimos sete dias. No dia anterior, o número era de 11,4. O último índice mais baixo foi atingido em 6 de julho, com 4,9 novos casos por 100 mil habitantes. O país registrou 1.890 novas infecções e 49 mortes por covid-19 nesta quinta.
Merkel destacou a responsabilidade social da imunização, afirmando que "ninguém está protegido para si só", mas também pelos outros. "A vacina não só protege você, mas também alguém que está perto de você, que é importante para você e que você ama", sublinhou.
Anúncio
Falhas na proteção climática
Falando sobre as recentes enchentes no país, Merkel prometeu um esforço conjunto para lidar com as consequências nas áreas afetadas.
"Vamos precisar de energia para reparar todos estes danos", disse a chefe de governo. A devastação causada pelos alagamentos foi terrível, disse ela, e lamentou a perda de 170 vidas. O objetivo agora, acrescentou, é financiar em conjunto os danos causados pelas inundações.
Merkel admitiu falhas na política de proteção climática. Considerando o objetivo de limitar o aquecimento global a 2 ºC, "não aconteceu o suficiente" durante seu mandato como chanceler federal, afirmou. Por isso, na opinião dela, o ritmo deve ser acelerado.
Ao mesmo tempo, Merkel enfatizou seu compromisso pessoal com a luta contra o aquecimento global. "Acredito ter dedicado muita energia à proteção do clima", disse ela, que é formada em Física e doutora em Química Quântica, e que foi ministra alemã do Meio Ambiente de 1994 a 1998.
"Estou suficientemente dotada de uma mente científica capaz de ver que as realidades objetivas exigem que não continuemos neste ritmo, mas devemos acelerar", salientou.
Ao mesmo tempo, Merkel disse haver uma grande resistência mundial à proteção eficiente do clima, por exemplo, na implementação do Protocolo de Kyoto de 1997. "Tive muitas decepções na época", assinalou Merkel.
Ela disse ter dedicado muita energia em sua vida política para "encontrar maiorias para que pudéssemos ao menos seguir o atual caminho". Na verdade, isto teria moldado "todo o seu trabalho político", acrescentou.
rw/lf (DPA, AFP, RKI)
Merkel, 15 anos como chefe de governo da Alemanha
Angela Merkel é chanceler federal desde 2005, já tendo liderado quatro governos desde então e enfrentado diversos desafios. Hoje ela é mais popular do que nunca. Veja alguns de seus momentos mais marcantes.
Adeus à "garota de Kohl"
O chanceler federal alemão Helmut Kohl costumava chamar Angela Merkel de "garota", paternalizando. Em 2001, há muito ela já havia saído de sua sombra, como líder da União Democrata Cristã (CDU), então na oposição. Mas a grande hora de Merkel só chegaria em 2005.
Foto: picture-alliance/dpa/A. Altwein
Vitória eleitoral apertada
Nas eleições parlamentares federais de 2005, foi muito apertada a vitória das legendas irmãs CDU e CSU sobre o Partido Social-Democrata do então chanceler federal Gerhard Schröder. Além disso , a CDU, com sua candidata Angela Merkel, teve os piores resultados desde 1949. Portanto as condições para a nova chefe de governo não eram as melhores. Mas ela faz progressos rápidos.
Foto: dpa
Nova chanceler federal
No fim, CDU e CSU uniram forças para formar uma grande coalizão. Schröder felicitou a mais nova chanceler federal, Angela Merkel, que seria a primeira mulher, a mais jovem em exercício, a primeira alemã do Leste e a primeira cientista, eleita para o cargo pelo Bundestag câmara baixa do [Parlamento alemão], em 22 de novembro de 2005.
Foto: picture-alliance/AP Photo/F. Reiss
Anfitriã descontraída
Merkel ganhou rapidamente autoconfiança. Na cúpula do G8 de 2007, ela recebeu os chefes de Estado e governo das sete nações industriais mais importantes e Rússia, no balneário báltico de Heiligendamm e brincou com o presidente dos EUA George Bush (esq.) e o presidente russo Vladimir Putin. Em termos geopolíticos, um mundo muito mais "perfeito" do que hoje em dia.
Foto: AP
Jogo de cores
As calças são geralmente escuras, mas baseados na cor do blazer, que varia, muitos creem poder dizer qual é o estado de ânimo de Angela Merkel, ou a mensagem que ela está tentando transmitir.
Foto: picture-alliance/AP Photo/M. Schreiber
Ah, esses garotões!
Política europeia no outono de 2008: Angela Merkel tem apenas um leve sorriso para dois machões do palco europeu: o presidente francês Nicolas Sarkozy (na frente) e o primeiro-ministro italiano Silvio Berlusconi. No entanto, é ela que, aqui no início da crise financeira, está subindo rapidamente para se tornar a indiscutível número um da União Europeia.
Foto: Getty Images/AFP/G. Cerles
Assistência ou dominação?
As dívidas de muitos países europeus estão aumentando cada vez mais, o euro está em perigo. Merkel concorda com uma ampla ajuda, mas exige em troca medidas de austeridade nos países afetados. E isso desperta memórias amargas, principalmente na Grécia: os jornais gregos traçam paralelos com a ocupação alemã durante a Segunda Guerra Mundial.
Foto: picture-alliance/dpa/O. Panagiotou
Oradora talentosa
Merkel é uma oradora apenas moderadamente talentosa, que não gosta de estar cercada pela multidão. Muitas vezes, é seca e não explica suficientemente sua política. Porém seu jeito sóbrio, pragmático e modesto conquista muitos. Caso contrário, ela não estaria hoje à frente de seu quarto governo.
Foto: picture-alliance/dpa/F. Gentsch
"Mutti"
Em algum momento ela passou a ser chamada de "Mutti" (mamãe). Não a "mãe", mas a "mamãe" da nação. É um pouco sarcástico, mas também afetuoso, talvez. E antiquado: hoje em dia, nenhuma criança alemã diz mais "Mutti". "Mamãe" cuida, e não é preciso ter medo dela. O outro lado da moeda é que com "mamãe" os filhos permanecem sempre crianças. Nem todo mundo gosta disso.
Foto: picture-alliance/dpa/U. Anspach
"Vamos conseguir"
Talvez nenhuma outra frase dela tenha polarizado tanto quanto "Vamos conseguir". Quando manteve as fronteiras abertas para refugiados e migrantes em 2015 e 2016, Merkel foi quase venerada como uma santa por alguns, mas severamente criticada por outros. A discordância na avaliação de sua política para refugiados continua até hoje.
Foto: Getty Images/S. Gallup
"Pessoa do Ano"
Em 2015, a revista americana "Time" elegeu Angela Merkel "Pessoa do Ano" e até mesmo "Premiê do Mundo Livre", por sua liderança em situações difíceis – da dívida nacional à crise dos refugiados.
Foto: picture-alliance/AP Photo/Time Magazine
Mulheres entre si
Ela é a primeira mulher na chefia de governo da Alemanha. Embora nunca tenha feito disso um grande tema de sua política, algumas mulheres tiveram uma carreira vertiginosa graças ao apoio de Merkel, seja Annegret Kramp-Karrenbauer (presidente da CDU e ministra da Defesa, à esq.), Ursula von der Leyen (presidente da Comissão Europeia) ou Julia Klöckner (ministra da Agricultura).
Foto: picture-alliance/M. Schreiber
Nada pessoal
Merkel é discreta: ela não faz observações políticas ou pessoais sobre chefes de Estado e de governo difíceis. No máximo, expressa opiniões muito vagas. Ao lidar com eles, o que a orienta é a razão de Estado.
Foto: picture-alliance/C. Hartmann
Sem qualquer vaidade
Ela sabe quando custa um litro de leite: mesmo após anos como chefe de governo de uma potência europeia, Angela Merkel não se tornou vaidosa. Em 2014, visitou um supermercado de Berlim com o primeiro-ministro da China, Li Keqiang. Mas também é vista fazendo compras sozinha – como uma dona de casa qualquer, por assim dizer.
Foto: picture alliance/dpa/L.Schulze
Losango enigmático
Não está muito claro de onde Merkel tirou sua famosa postura de mãos. Ela própria diz que o sinal no formato de um losango a ajuda a manter a parte superior do corpo ereta e que não há nenhuma mensagem oculta. Mesmo assim, os estrategistas da CDU usaram o sinal na campanha das eleições gerais de 2013, para transmitir confiança e calma.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Simon
Merkel na privacidade
Pouco se sabe sobre a vida privada de Merkel. Ela não revela muito a respeito, ou talvez o interesse público não seja particularmente grande. É sabido, por exemplo, que ela e o marido Joachim Sauer, físico como ela, passam todos os anos a Páscoa na ilha italiana de Ísquia. Ou passavam, pois em 2020 isso não foi possível.
Foto: picture-alliance/ANSA/R. Olimpio
E aí veio a covid-19
A pandemia mudou muitas coisas na Alemanha, não apenas os rituais de férias da chanceler federal. O jeito sério e objetivo de Merkel foi em parte criticado, mas sua gestão da pandemia também lhe conferiu novos recordes de popularidade.
Foto: Johanna Geron/Reuters
A hora da despedida
Em 2018, Angela Merkel anunciou que não voltaria a concorrer nas eleições federais do outono alemão de 2021, mas que pretendia permanecer no cargo até lá. Ela terá então governado por quase 16 anos, e apenas pouco menos do que Helmut Kohl, detentor do recorde na Chancelaria Federal.