Merkel recebe prêmio da Unesco por acolhida a refugiados
8 de fevereiro de 2023
Ex-chanceler foi homenageada pela "coragem e liderança" ao receber 1,2 milhão de pessoas na Alemanha no auge da crise migratória de 2015 e 2016.
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A ex-chanceler federal da Alemanha Angela Merkel recebeu nesta quarta-feira (08/02) o Prêmio da Paz da Unesco por sua decisão de acolher mais de 1,2 milhão de refugiados no auge da crise migratória, em 2015 e 2016, apesar da resistência interna e da oposição de alguns países europeus.
Os organizadores do prêmio disseram que Merkel demonstrou coragem política ao permitir que seu pais recebesse pessoas que fugiam de conflitos na Síria, Iraque, Afeganistão e Eritreia.
O presidente do júri, o vencedor do Nobel da Paz Denis Mukwege, elogiou a ex-chanceler por abrir as portas da Alemanha "ao mesmo tempo em que muitos outros países eram tomados pelo medo".
Merkel "demonstrou à opinião pública e aos tomadores de decisão que precisamos não apenas defender nossos próprios direitos, mas também os de outros em tempos de crise, e que cada sociedade precisa mais do que nunca respeitar e proteger os direitos humanos sem qualquer forma de discriminação", afirmou Mukwege.
"Enaltecemos sua humanidade, seu espírito de solidariedade, seu aguçado senso de ética e sua liderança inspiradora", acrescentou.
O Prêmio da Paz Felix Houphouet-Boigny – que honra a memória do primeiro presidente eleito da Costa do Marfim após a independência da França, em 1960 – foi entregue a Merkel na capital marfinense Yamussucro pela secretária-geral da Unesco, Audrey Azoulay.
Ela elogiou a coragem da ex-líder alemã "enquanto outros queriam lacrar a Europa". O presidente do Senegal e da União Africana, Macky Sall, qualificou Merkel com uma "extraordinária estadista e humanista".
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"Diálogo é a arma dos fortes", diz Merkel
A democrata-cristã que governou a Alemanha por 16 anos vem se mantendo longe dos holofotes após transmitir o cargo para seu sucessor, o social-democrata Olaf Scholz, em dezembro de 2021.
Em seu discurso na cerimônia de entrega do prêmio, a ex-chanceler destacou que há cada vez mais conflitosocorrendo ao redor do globo e lançou um apelo por soluções pacíficas. "O diálogo é a arma dos fortes, não dos fracos", afirmou, antes de dedicar a premiação aos voluntários que trabalharam durante o auge da crise migratória para ajudar no acolhimento aos refugiados.
"Pensávamos que os tempos de guerra na Europa haviam passado", afirmou. "Mas, desde 24 de fevereiro do ano passado, quando teve início a cruel agressão da Rússia na Ucrânia, chegamos à triste conclusão de que não é este o caso. Isso sacudiu a Europa até as suas raízes."
O Prêmio Félix Houphouët-Boigny é entregue anualmente desde 1991 a indivíduos e organizações que se dedicam a promover, pesquisar ou garantir a paz. Os primeiros vencedores foram os ex-líderes da África do Sul Nelson Mandela e Frederik de Klerk, responsáveis pela abolição do regime segregacionista apartheid.
O último vencedor foi o primeiro-ministro da Etiópia, Abiy Ahmed, em 2019, pelo acordo de paz com o país vizinho, Eritreia, embora ele tenha levado o país a um guerra civil no ano seguinte. Em 2020 e 2021 o prêmio não foi entregue em razão da pandemia de covid-19.
rc//bl (DPA, AP)
Os 16 anos da era Merkel em imagens
A longeva chefia de governo de Angela Merkel deixou o cargo em 2021. Reveja alguns momentos que marcaram os quatro mandatos da chanceler federal.
Foto: Georg Wendt/dpa/picture alliance
O primeiro juramento
Em 22 de novembro de 2005, Angela Merkel prestou juramento perante o então presidente do Bundestag, Nortbert Lammert, como a primeira mulher e a primeira representante do leste alemão a se tornar chanceler federal. Àquela altura, ninguém podia prever que ela permaneceria na chefia de governo por 16 anos.
Foto: picture-alliance/dpa/G. Bergmann
O cachorro de Putin
Esta imagem ficará na memória: Merkel se mostrou inabalável durante uma visita ao presidente russo, Vladimir Putin, em 2007 - até mesmo quando o cachorro dele apareceu. Houve quem interpretasse a presença do animal como uma provocação: é fato conhecido que Merkel tem medo de cães desde que foi mordida certa vez.
Foto: Imago/ITAR-TASS
Selfie com a chanceler federal
A selfie de Merkel com o jovem refugiado Anas Modamani, da Síria, rodou o mundo. Quando a chanceler federal visitou o abrigo em que Modamani se encontrava, em Berlim, ele inicialmente não sabia quem ela era. A foto acabou se tornando um símbolo da famosa frase de Merkel "Nós vamos conseguir", proferida no contexto da crise migratória de 2015.
Foto: Getty Images/S. Gallup
Registro diplomático
O governo Merkel é marcado sobretudo por uma série de difíceis encontros políticos - como este da foto, durante a cúpula do G7 de 2018, no Canadá. A imagem ocupou manchetes em todo o mundo. Será que Merkel estava explicando ao então presidente dos EUA, Donald Trump, como as coisas devem ser feitas?
Foto: Reuters/Bundesregierung/J. Denzel
Experiência com personalidades difíceis
Durante uma visita aos EUA em 2017, Merkel ficou visivelmente irritada com o recém-empossado presidente Trump. O encontro gerou especulações: será que o líder americano realmente se recusou a apertar a mão da chanceler federal alemã diante das câmeras? Posteriormente, apesar de todo o o burburinho, Merkel falou numa "troca boa e aberta" com o republicano.
Foto: Reuters/J. Ernst
Uma questão de estilo
Não apenas a política de Merkel, mas também suas roupas foram objeto de discussão: durante uma visita à ópera em Oslo, ela usou um vestido decotado - e assim provocou discussões que chegaram até o nível da coletiva de imprensa do governo federal. Mas, no geral, Merkel optou principalmente por vestir blazers e calças.
Foto: picture-alliance/ dpa
Caminhadas nas horas vagas
Pouco se sabe sobre a vida privada de Merkel - exceto, por exemplo, sobre seu gosto por caminhadas, muitas vezes ao lado do marido, Joachim Sauer, na ilha italiana de Ischia. Uma vez ela revelou que as caminhadas a permitiam se desconectar do trabalho.
Foto: picture-alliance/ANSA/R. Olimpio
Viva o futebol!
Normalmente transmitindo uma imagem bastante tranquila, Merkel mostrou diversas vezes um lado diferente quando se tratava de futebol, como neste momento registrado durante a Copa do Mundo de 2014, no Brasil, em que ela comemora um gol da seleção nacional. Uma confidente próxima revelou há alguns anos que particularmente o Bayern de Munique agradava à chanceler federal.
Foto: imago/ActionPictures
Um gesto simbólico
O típico gesto de Merkel - um losango feito com as mãos diante da barriga - tornou-se marca registrada da líder alemã. O losango não foi apenas usado na campanha eleitoral de 2013, mas também transformado em emoji. Quem sentir falta do gesto talvez possa matar as saudades com Olaf Scholz: na campanha eleitoral de 2021, o candidato social-democrata a chanceler federal também adotou o losango.
Foto: REUTERS
Olha o passarinho
Merkel como nunca se viu: às vésperas das eleições federais de 26 de setembro de 2021, quando eleitores foram às urnas para selar o fim da era Merkel, a chanceler federal visitou o Parque de Aves Marlow, no estado alemão de Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental. Fotos divertidas da chefe de governo na companhia de passarinhos logo viralizaram, transmitindo uma imagem descontraída da líder alemã.
Foto: Georg Wendt/dpa/picture alliance
Lembrança inusitada
Com blazer vermelho, colar e o típico gesto de losango, este ursinho de pelúcia fabricado pela empresa familiar Hermann homenageia Merkel. Os 500 exemplares do bichinho logo se esgotaram, mas um deles ainda deverá ser presenteado a chanceler federal que em breve deixará o cargo.