Merkel reitera que não pretende concorrer a quinto mandato
5 de junho de 2020
Em entrevistas, chanceler federal nega rumores sobre reeleição surgidos após alta de sua popularidade na pandemia. Ao ser questionada sobre protestos nos EUA, ela diz que estilo de liderança de Trump é "controverso".
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Em entrevista às emissoras públicas ARD e ZDF nesta quinta-feira (04/06), a chanceler federal da Alemanha, Angela Merkel, voltou a negar a possibilidade de tentar se reeleger para um quinto mandato. Ela também falou sobre o pacote de estímulo econômico proposto por seu governo para atenuar o impacto da pandemia de covid-19, e sobre os protestos antirracismo nos EUA.
"Não, de verdade, não", disse a chanceler ao ser questionada se as boas avaliações em relação ao seu desempenho ao lidar com a crise gerada pelo coronavírus poderia fazê-la concorrer a um quinto mandato, após mais de 14 anos na chefia de governo. Sua atuação vem sendo bastante elogiada no país e no exterior, o que levou alguns a especular sobre sua permanência no cargo.
O Ministro do Interior, Horst Seehofer, com quem Merkel teve uma série de desentendimentos no passado recente, contribuiu para os rumores sobre a reeleição da líder alemã ao afirmar em entrevista ao jornal Bild am Sonntag que teria ouvido essa hipótese com frequência cada vez maior nos corredores do poder, mas a chanceler negou que isso venha a ocorrer. "O 'não' ainda permanece?", insistiram os entrevistadores. "Com total firmeza", respondeu.
Ao comentar sobre o pacote de estímulo econômico proposto por seu governo para lidar com as pesadas consequências da paralisação da economia nos últimos meses, ela se disse contrária à extensão da redução do Imposto sobre o Valor Agregado (IVA). Entre as várias medidas para impulsionar a economia do país está a redução temporária do IVA de 19% para 16% entre julho e dezembro.
O país não poderia arcar com uma extensão dessa redução, afirmou Merkel à emissora ARD ao ser questionada sobre um possível prolongamento em 2021, ano de eleições gerais no país. Ela disse não considerar essa possibilidade, uma vez que seu governo trabalha para que não haja um novo surto de disseminação exponencial da covid-19 no país. "Lidamos com isso de modo responsável", afirmou.
A taxa de mortalidade pelo coronavírus é relativamente baixa, se comparada com outros países europeus, como Reino Unido, Itália e França. Isso se atribui ao grande número de testes e de vagas nas UTIs, além de uma ampla aceitação das recomendações do governo e das autoridades de saúde por parte da população.
A chanceler federal, de 65 anos, assumiu o cargo em novembro de 2005. Em outubro de 2018 ela anunciou que não iria concorrer a um novo mandato, o que levou alguns a questionarem sua capacidade de governar. Ele enfrentou fortes críticas de alguns setores por sua atuação durante a crise dos refugiados de 2015 e, em alguns momentos, sua coalizão de governo pareceu estar à beira de um rompimento em razão de fortes desentendimentos entre os partidos.
Nos últimos meses, porém, o país parece ter se unido em torno de sua liderança em meio à crise gerada pelo coronavírus, e sua popularidade está em alta, segundo várias pesquisas de opinião. A pouco mais de um ano das eleições, a disputa para sua sucessão ainda está em aberto.
George Floyd e racismo
Merkel também foi questionada nesta quinta-feira sobre os protestos antirracismo que vêm ocorrendo nos Estados Unidos após a morte de George Floyd, um homem negro de 46 anos, durante uma ação policial. Ela respondeu evasivamente ao ser questionada se o presidente Donald Trump poderia ser responsabilizado pela violência policial e por fomentar o racismo no país.
"Acredito que seu estilo de liderança é controverso", afirmou ao responder a uma pergunta sobre o papel de Trump no aprofundamento da polarização em seu país. "Trabalho com os presidentes eleitos de todo o mundo e, é claro, que isso inclui o presidente americano. Espero que o país possa ser pacificado", disse, ao ser questionada se confia no colega em Washington.
Ela explicou que não comenta publicamente as questões que discute com Trump. "Posso apenas esperar que os americanos estejam aptos a trabalhar juntos", afirmou, se dizendo satisfeita com o fato de que muitos nos EUA estão contribuindo para esse objetivo. "Minhas pretensões para a política são que se tente unir as pessoas e reconciliá-las."
A chanceler, porém, não usou meias palavras ao qualificar o que chamou de "assassinato" de Floyd como um episódio racista. "O racismo é algo terrível", disse, acrescentando que confia no sistema democrático americano para lidar com essa situação difícil. Ela observou que o racismo sempre existiu, também na Alemanha.
De jovem cientista da Alemanha Oriental à primeira mulher a liderar uma das maiores potências do mundo: em 17 de julho, a chanceler federal completa 65 anos.
Foto: imago
Futuro brilhante
Quem diria que Angela Dorothea Kasner seria um dia a mulher mais poderosa do mundo? Dedicação, objetividade, discrição, pés no chão: são as qualidades que lhe transmitiu o lar protestante em Templin, no estado de Brandemburgo, na antiga Alemanha Oriental, embora ela tenha nascido em Hamburgo. O pai era pastor luterano, e a mãe ficava em casa, cuidando de "Angie" e de seus dois irmãos mais novos.
Foto: imago
Raízes polonesas
Os avós Greta e Ludwig Kazmierczak com o filho Horst, pai de Merkel. A família de origem polonesa mudou-se de Poznań (Posen, em alemão) para Berlim e, em 1930, trocou seu nome para Kasner. As raízes não alemãs da chanceler federal só foram divulgadas em 2013, causando um alvoroço temporário, sobretudo na Polônia. O sobrenome Merkel veio do primeiro marido, Ulrich Merkel, com quem se casou em 1977.
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Aluna aplicada
Esta foto foi tirada em 1973, num acampamento em Himmelfort, após Merkel concluir o curso secundário com uma média de 1,0 – nota máxima no sistema escolar alemão. Seus fortes eram russo e matemática. Durante a escola, foi filiada à associação juvenil socialista Juventude Alemã Livre (FDJ). Ela é a primeira chefe de governo da Alemanha crescida no regime comunista da Alemanha Oriental.
Foto: picture-alliance/dpa
Ciência em vez de rock 'n' roll
Na década de 70, Merkel estuda Física em Leipzig. Depois, trabalha no Instituto de Química da Academia de Ciências da República Democrática Alemã (RDA). Sua tese de doutorado é sobre reações de desintegração. Nesse período, conhece o primeiro marido. "Angela me chamou a atenção por ser amigável, aberta e natural", lembra Ulrich Merkel. Um dos prazeres dela é viajar – como nesta foto, em Praga.
Foto: picture-alliance/dpa
Apoio de Kohl
"Um dia, ela pegou suas coisas e se foi do quartinho em que vivíamos", conta o ex-marido. O banheiro era compartilhado com outros estudantes. "Ela levou a máquina de lavar, e eu fiquei com os móveis." Merkel passa a ser politicamente ativa, primeiro no movimento oposicionista Despertar Democrático, depois na União Democrata Cristã (CDU). Lá, conquista a confiança do chefe do partido, Helmut Kohl.
Foto: Reuters
Apesar dos ventos contrários
Merkel esforça-se para subir e, em 1990, torna-se deputada federal no Bundestag. O então premiê, Helmut Kohl, a nomeia ministra para Assuntos Femininos e Juvenis, embora a alemã-oriental não disponha de bons contatos na CDU e tenha pouca experiência. Quatro anos mais tarde, ela se torna ministra do Meio Ambiente, além de ser responsável pela segurança das usinas nucleares.
Foto: Reuters
Sem dó nem piedade
Em 1998, Merkel é nomeada secretária-geral da CDU, e, quatro anos depois, torna-se presidente do partido. No meio tempo, renegara publicamente seu padrinho político, Kohl, retirando-lhe todo apoio no contexto de um escândalo de doações partidárias. Em 2005, por fim, se elege chanceler federal, vencendo o social-democrata Gerhard Schröder. Sob a nova chefe, a CDU se torna um partido mais de centro.
Foto: Reuters
Motivos para rir
Merkel move-se sem problemas no mundo masculino da política. Encabeçando a locomotiva econômica europeia, ela dita o tom durante a crise financeira mundial e defende os interesses alemães. Críticos no país a acusam de excesso de manobras e estratégias e também carência de palavras claras – sobretudo quando o assunto é o escândalo de espionagem da NSA na Alemanha.
Foto: Reuters
Relação com Putin
Mesmo antes da crise da Crimeia, a relação entre Merkel e o presidente da Rússia, Vladimir Putin, não era tão amigável como a deste com o antigo chanceler federal Gerhard Schröder. Porém, Putin diz ter grande respeito por Merkel, e ambos conversam fluentemente tanto em alemão como em russo.
Foto: picture-alliance/AA/M. Gambarini
"Primeira dama"
Com a política mundial nas mãos de sua esposa, Joachim Sauer pode cumprir sem preocupações o papel de "primeira dama" da Alemanha. Merkel casou-se com seu segundo marido em 1989. Com fama de ser avesso às atenções públicas, Sauer é professor de Química e tem dois filhos do primeiro casamento.
Foto: Reuters/A. Gebert
Como a Casa Branca para os americanos...
... ou o Palácio do Eliseu para os franceses, assim está a residência no bairro berlinense de Mitte para o casal Merkel-Sauer. A chanceler federal não necessita de muita pompa. Os vizinhos a encontram regularmente no supermercado, pois ela não abre mão de fazer as compras, nem de cozinhar de vez em quando para o marido.
Foto: picture-alliance/dpa
Música erudita e futebol
Assim como na política, também no lazer ela parece atender a uma ampla gama de gostos, mostrando ser tanto amante da música erudita (sempre presente no Festival Wagner de Bayreuth), como do futebol. Na foto, Merkel com a seleção de Joachim Löw, campeã da Copa do Mundo de 2014.
Foto: Reuters
Crise dos refugiados
A abertura das fronteiras aos refugiados em 2015 foi uma medida que a chanceler federal alemã, Angela Merkel, bancou sozinha, politicamente. Não houve decisão da União Europeia, o Parlamento alemão não foi consultado, e muito menos a população do país.Isso lhe trouxe muitas críticas dentro do próprio partido e arranhou sua imagem junto à população.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Hoppe
Quebrando clichês
Uma mulher que cresceu na Alemanha Oriental, sem padrinhos políticos, que primeiro ascendeu à chefia do partido conservador e, depois, se tornou chanceler federal. E, desde então, já foi reeleita três vezes. Assim chega Merkel aos 65 anos. E a líder alemã já teve até uma peça de teatro dedicada a ela: "Mutti" (Mãezinha, como é apelidada no país), da autora Juli Zeh.
Foto: Reuters
Crises de tremor
Uma série de crises de tremedeira em público nas semanas anteriores fez com que Angela Merkel se decidisse a receber a premiê da Dinamarca sentada em 11 de julho último. Embora Merkel repetidamente tenha assegurado que goza da saúde necessária para continuar no cargo, desenvolveu-se na Alemanha um debate sobre a saúde da chefe de governo.