Merkel rompe silêncio e condena invasão russa da Ucrânia
2 de junho de 2022
Em seu primeiro discurso público em seis meses, ex-chanceler federal repudia guerra de agressão contra Ucrânia e diz apoiar a atuação do atual governo alemão e do Ocidente em relação a Moscou.
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A ex-chanceler federal alemã Angela Merkel rompeu nesta quarta-feira (01/06) seu silêncio e classificou o ataque russo contra a Ucrânia como "uma violação flagrante" do direito internacional e uma "ruptura profunda" na história da Europa depois da Segunda Guerra Mundial.
Em seu primeiro discurso público em seis meses, Merkel, que tem se mostrado relutante em se manifestar publicamente, expressou sua solidariedade à Ucrânia, afirmando que o país "foi atacado e invadido pela Rússia" e que apoia seu "direito à autodefesa".
Apoio ao atual governo
Merkel disse apoiar também os esforços empreendidos pelo atual governo alemão, liderado por Olaf Scholz, assim como o papel da União Europeia, dos Estados Unidos e aliados da Otan, do G7 e também da ONU, "para garantir que se pare esta bárbara guerra de agressão da Rússia".
As declarações de Merkel foram feitas diante de 200 convidados em um evento de despedida realizado em Berlim para o líder sindical Reiner Hoffmann, que recentemente deixou o cargo de presidente da influente Confederação Alemã de Sindicatos (DGB).
Merkel acrescentou que as consequências da guerra serão "de longo alcance", especialmente para o povo ucraniano, mas também para o continente.
Solidariedade é "raio de esperança"
Além disso, ela enfatizou os abusos de direitos humanos perpetrados contra civis em território ucraniano. "Bucha é a representação desse horror", disse.
Em cidades como Bucha e Irpin, atrocidades cometidas vieram à tona após a retirada das tropas russas. As fotos de cidadãos assassinados e relatos de estupros chocaram o mundo. O Tribunal Penal Internacional (TPI), sediado em Haia, na Holanda, enviou investigadores à Ucrânia para investigar supostos crimes de guerra.
Por fim, Merkel afirmou que há "um pequeno raio de esperança" nessa "tristeza infinita", devido ao enorme apoio aos ucranianos que muitos países vizinhos, como Polônia e Moldávia, demonstraram. "Jamais devemos considerar paz e liberdade como garantidas", concluiu a ex-chanceler.
Na próxima semana, em 7 de junho, Merkel deverá fazer um novo discurso político, quando participará de uma mesa redonda em Berlim. Na ocasião, é esperado que a ex-chanceler se expresse mais detalhadamente sobre a Rússia e as relações da Alemanha com o presidente russo, Vladimir Putin, abordando possíveis erros de julgamento durante seus anos como chefe de governo.
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Próprios erros
Até agora, Merkel não comentou seus próprios erros. Outros ex-políticos de alto escalão, como o atual presidente alemão, Frank-Walter Steinmeier – por anos ministro do Exterior de Merkel –, admitiram publicamente sua responsabilidade sobre a política alemã em relação a Moscou. "Eu estava errado", disse Steinmeier publicamente.
Seu ex-ministro do Exterior, o social-democrata Sigmar Gabriel, também reconheceu falhas na política alemã de reconciliação com a Rússia praticada na gestão passada.
Merkel foi repetidamente criticada pelos Estados Unidos e outros países por apoiar o gasoduto Nord Stream 2, projetado para entregar gás russo diretamente para a Alemanha. O sucessor de Merkel, Olaf Scholz, engavetou o projeto após a invasão russa.
Ela também enfatizava a necessidade de continuar conversas com o presidente russo, Vladimir Putin, mesmo após a anexação da Crimeia e do conflito no leste da Ucrânia que levou a sanções ocidentais.
Embora Merkel tenha feito uma breve declaração logo após a invasão da Rússia em fevereiro, dizendo que não havia justificativa para a flagrante violação do direito internacional, seu silêncio desde então vinha provocando surpresa.
Enfrentando críticas de que a Alemanha está fazendo muito pouco para ajudar a Ucrânia, Scholz disse na quarta-feira que a Alemanha vai fornecer ao país o sistema de defesa aérea Iris-T.
Na noite de quarta-feira, a comissão parlamentar do orçamento abriu caminho para que os planejados 100 bilhões de euros de reforço para as Forças Armadas da Alemanha recebam o aval do Parlamento nesta sexta-feira.
md/ek (DPA, Reuters)
Os 16 anos da era Merkel em imagens
A longeva chefia de governo de Angela Merkel deixou o cargo em 2021. Reveja alguns momentos que marcaram os quatro mandatos da chanceler federal.
Foto: Georg Wendt/dpa/picture alliance
O primeiro juramento
Em 22 de novembro de 2005, Angela Merkel prestou juramento perante o então presidente do Bundestag, Nortbert Lammert, como a primeira mulher e a primeira representante do leste alemão a se tornar chanceler federal. Àquela altura, ninguém podia prever que ela permaneceria na chefia de governo por 16 anos.
Foto: picture-alliance/dpa/G. Bergmann
O cachorro de Putin
Esta imagem ficará na memória: Merkel se mostrou inabalável durante uma visita ao presidente russo, Vladimir Putin, em 2007 - até mesmo quando o cachorro dele apareceu. Houve quem interpretasse a presença do animal como uma provocação: é fato conhecido que Merkel tem medo de cães desde que foi mordida certa vez.
Foto: Imago/ITAR-TASS
Selfie com a chanceler federal
A selfie de Merkel com o jovem refugiado Anas Modamani, da Síria, rodou o mundo. Quando a chanceler federal visitou o abrigo em que Modamani se encontrava, em Berlim, ele inicialmente não sabia quem ela era. A foto acabou se tornando um símbolo da famosa frase de Merkel "Nós vamos conseguir", proferida no contexto da crise migratória de 2015.
Foto: Getty Images/S. Gallup
Registro diplomático
O governo Merkel é marcado sobretudo por uma série de difíceis encontros políticos - como este da foto, durante a cúpula do G7 de 2018, no Canadá. A imagem ocupou manchetes em todo o mundo. Será que Merkel estava explicando ao então presidente dos EUA, Donald Trump, como as coisas devem ser feitas?
Foto: Reuters/Bundesregierung/J. Denzel
Experiência com personalidades difíceis
Durante uma visita aos EUA em 2017, Merkel ficou visivelmente irritada com o recém-empossado presidente Trump. O encontro gerou especulações: será que o líder americano realmente se recusou a apertar a mão da chanceler federal alemã diante das câmeras? Posteriormente, apesar de todo o o burburinho, Merkel falou numa "troca boa e aberta" com o republicano.
Foto: Reuters/J. Ernst
Uma questão de estilo
Não apenas a política de Merkel, mas também suas roupas foram objeto de discussão: durante uma visita à ópera em Oslo, ela usou um vestido decotado - e assim provocou discussões que chegaram até o nível da coletiva de imprensa do governo federal. Mas, no geral, Merkel optou principalmente por vestir blazers e calças.
Foto: picture-alliance/ dpa
Caminhadas nas horas vagas
Pouco se sabe sobre a vida privada de Merkel - exceto, por exemplo, sobre seu gosto por caminhadas, muitas vezes ao lado do marido, Joachim Sauer, na ilha italiana de Ischia. Uma vez ela revelou que as caminhadas a permitiam se desconectar do trabalho.
Foto: picture-alliance/ANSA/R. Olimpio
Viva o futebol!
Normalmente transmitindo uma imagem bastante tranquila, Merkel mostrou diversas vezes um lado diferente quando se tratava de futebol, como neste momento registrado durante a Copa do Mundo de 2014, no Brasil, em que ela comemora um gol da seleção nacional. Uma confidente próxima revelou há alguns anos que particularmente o Bayern de Munique agradava à chanceler federal.
Foto: imago/ActionPictures
Um gesto simbólico
O típico gesto de Merkel - um losango feito com as mãos diante da barriga - tornou-se marca registrada da líder alemã. O losango não foi apenas usado na campanha eleitoral de 2013, mas também transformado em emoji. Quem sentir falta do gesto talvez possa matar as saudades com Olaf Scholz: na campanha eleitoral de 2021, o candidato social-democrata a chanceler federal também adotou o losango.
Foto: REUTERS
Olha o passarinho
Merkel como nunca se viu: às vésperas das eleições federais de 26 de setembro de 2021, quando eleitores foram às urnas para selar o fim da era Merkel, a chanceler federal visitou o Parque de Aves Marlow, no estado alemão de Mecklemburgo-Pomerânia Ocidental. Fotos divertidas da chefe de governo na companhia de passarinhos logo viralizaram, transmitindo uma imagem descontraída da líder alemã.
Foto: Georg Wendt/dpa/picture alliance
Lembrança inusitada
Com blazer vermelho, colar e o típico gesto de losango, este ursinho de pelúcia fabricado pela empresa familiar Hermann homenageia Merkel. Os 500 exemplares do bichinho logo se esgotaram, mas um deles ainda deverá ser presenteado a chanceler federal que em breve deixará o cargo.