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Merkel se diz chocada com violência contra manifestantes na Turquia

17 de junho de 2013

Chanceler federal alemã diz estar "assustada" com a atuação "demasiado brutal" da polícia turca. Governo da Turquia ameaça convocar militares para reprimir protestos.

Foto: Reuters

A chanceler federal alemã, Angela Merkel, disse nesta segunda-feira (17/06) que estava chocada com a retirada à força de manifestantes contrários ao governo que estavam acampados no Parque Gezi, em Istambul, no dia anterior.

"Estou assustada, como muitos outros", disse Merkel sobre as imagens que viu da invasão da polícia ao local e à Praça Taksim, próxima ao Gezi. Os protestos começaram há duas semanas, contrários a um projeto de reurbanização do parque, onde deverá ser erigida uma réplica de uma caserna do Império Otomano, que serviria como centro comercial.

Depois que a polícia começou a retirar os manifestantes, os protestos se voltaram contra o governo do primeiro-ministro Recep Tayyip Erdogan.

Segundo Merkel, as ações da polícia turca têm sido "demasiado brutais" contra os manifestantes. "O que está acontecendo na Turquia não corresponde aos nossos ideais de liberdade de manifestação e de expressão", afirmou Merkel ao canal privado de televisão RTL, antes de deixar Berlim em direção à cúpula do G8 (grupo de países mais industrializados do mundo, mais a Rússia), na Irlanda do Norte.

Críticas tão duras são incomuns para a chanceler federal, que não respondeu a questões sobre as possíveis consequências nas negociações para a entrada da Turquia na União Europeia (UE).

Merkel ao lado de Erdogan durante visita à Turquia, em fevereiroFoto: Reuters

O comissário de Ampliação da UE, Stefan Füle, pediu em sua conta no microblog Twitter o abrandamento dos confrontos na Turquia e mais diálogo. O país, segundo Füle, precisa de diálogo e não de mais violência.

O chefe do partido conservador alemão CSU, Horst Seehofer, disse que a maneira como o governo turco lida com os protestos é um argumento forte contra a entrada da Turquia na UE. A adesão da Turquia à UE deverá ser discutida na próxima semana, durante reunião de ministros do Exterior do bloco.

Soldados contra manifestantes

Também nesta segunda-feira, o governo turco ameaçou usar o Exército contra os manifestantes. O vice-primeiro-ministro Bülent Arinc afirmou que "elementos das Forças Armadas" poderiam ser convocados em caso de urgência para acabar com os protestos. "A polícia está aí. Se não der conta, a polícia militar. E, se isso não for suficiente, as Forças Armadas turcas estão à disposição", declarou.

Erdogan fala a apoiadores do seu partido em IstambulFoto: Reuters

As manifestações continuaram no país nesta segunda-feira. Na capital Ancara, cerca de mil manifestantes e policiais ficaram frente a frente nas ruas. A polícia se posicionou para usar jatos d'água e exigiu que os manifestantes acabassem com o protesto. Depois de algumas horas, eles desistiram.

De acordo com o sindicato dos advogados, 600 pessoas teriam sido presas no domingo, tanto na capital quanto em Istambul, depois da invasão do parque Gezi. Só em Istambul, ao menos 441 pessoas estariam detidas.

Contra os protestos anunciados por vários sindicatos do país para esta segunda-feira, a polícia, que impediu vários manifestantes de ir à praça Taksim, em Istambul, no início da tarde, anunciou por alto-falantes que, "quem for à rua, terá que liberá-la. A polícia vai usar violência."

Já o ministro do Interior, Muammer Güler, afirmou diante de jornalistas que não seria permitida a realização de greves e paralisações e ameaçou punir severamente funcionários públicos e ativistas de internet – que serão perseguidos caso atuem como formadores de opinião e convoque passeatas pela rede social Facebook ou pelo Twitter. "As manifestações desses cinco sindicatos são ilegais. Como podemos permitir esses protestos?", disse Güler, citado pela agência de notícias estatal Anadolu. Na semana passada, houve várias prisões de ativistas de internet.

Na noite de domingo para segunda-feira, as forças de segurança usaram gás lacrimogêneo e jatos d'água contra os manifestantes contrários a Erdogan. Em Istambul, a polícia impediu dezenas de milhares de pessoas de irem à praça Taksim. Ativistas relataram que as autoridades também usaram jatos d'água contra um hospital próximo da praça, depois que manifestantes tinham fugido para lá.

Vice-primeiro-ministro Arinc ameaça com intervenção do ExércitoFoto: AFP/Getty Images

Pela primeira vez, apoiadores do primeiro-ministro Erdogan também teriam atacado manifestantes antigoverno. Ativistas da oposição disseram na internet que os civis que protestavam teriam sido agredidos por homens com cassetetes e facas, que teriam gritado palavras de ordem a favor do primeiro-ministro.

RK/dpa/rtr/afp