Conservadores querem tudo pronto em até duas semanas, mas SPD fala em renegociar alguns pontos do que já foi acertado. Unificação dos planos de saúde pode acabar decidindo se haverá novo governo Merkel.
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Pressa: essa é a palavra que sintetiza o início, nesta sexta-feira (26/01), em Berlim, das negociações entre conservadores e social-democratas para a reedição da chamada grande coalizão, quatro meses depois das eleições legislativas.
A Alemanha nunca ficou tanto tempo sem governo depois de uma eleição parlamentar. A chanceler federal Angela Merkel, líder da União Democrata Cristã (CDU), afirma que os cidadãos esperam agora que as negociações sejam bem-sucedidas – além de rápidas.
O presidente da União Social Cristã (CSU), Horst Seehofer, disse esperar que as negociações, que já foram precedidas de cinco dias de sondagens, estejam concluídas em duas semanas, até 11 de fevereiro. A CDU quer tudo pronto ainda antes: 4 de fevereiro.
O presidente do Partido Social-Democrata (SPD), Martin Schulz, também falou em negociações rápidas, mas acrescentou que elas devem ser construtivas. O SPD, afinal, quer incluir alterações no pré-acordo firmado com a CDU e CSU depois das sondagens.
Rigor vem antes da pressa
Os social-democratas querem mudanças nos planos de saúde, na migração de familiares de refugiados e na duração dos contratos de trabalho. A direção do partido foi pressionada para isso durante o congresso extraordinário de domingo passado, em Bonn, que decidiu a favor das negociações com a CDU e CSU – mas exigiu "correções".
O encontro mostrou que o SPD está dividido sobre a participação num novo governo Merkel. Para convencer a base, a cúpula partidária teve que prometer que vai se esforçar para obter uma série de alterações no pré-acordo firmado com os conservadores.
Por isso, o SPD precisa agora negociar – e não se mostrou, nesta sexta-feira, tão seguro em relação a prazos como a CDU e CSU, que desejam simplesmente manter o que já foi acertado. A vice-presidente socialista Malu Dreyer preferiu não falar em datas. "Vamos nos esforçar, mas o rigor é mais importante do que a pressa", disse.
Um dos pontos centrais são os planos de saúde. O SPD quer ao menos dar início a um processo que acabe com a divisão entre planos públicos e privados na Alemanha, em favor de um sistema público e unificado. Os conservadores são contra – mas já mostraram concordar com melhorias para quem tem planos públicos.
Nova votação no SPD
A questão dos planos de saúde pode acabar decidindo se haverá ou não um quarto governo de Merkel, alertaram membros do SPD nesta sexta-feira. "Se não avançarmos nada no fim da 'saúde de duas classes', não teremos nenhum chance junto aos nossos filiados", afirmou o deputado Karl Lauterbach à revista Der Spiegel.
Ao fim das negociações com os conservadores, o SPD irá submeter o acordo final à aprovação de todos os seus filiados. Só com o aval destes o partido entrará no governo. O processo de votação deverá durar outras três semanas, esticando ainda mais o início de um eventual novo governo.
Esta é a segunda tentativa de Merkel de formar uma coalizão, depois do fracasso das negociações com os liberais e os verdes, no fim de novembro. É também a última. Um novo fracasso deixará a chanceler em exercício com apenas duas opções: um governo de minoria ou aceitar novas eleições.
Por isso, a pressão sobre ela é grande, e analistas veem aí uma chance para o SPD conseguir novas concessões dos conservadores. Nesta sexta-feira, na sede da CDU em Berlim, os social-democratas receberam um sinal de que poderão ser bem-sucedidos nas suas exigências: Merkel se apresentou, para o início das negociações, nas cores vermelho e preto do SPD.
Merkel a caminho do quarto mandato
Quem poderia pensar? Vista como líder interina de seu partido após saída de Helmut Kohl, Merkel chefia a CDU desde 2000 e, há 11 anos, a Chancelaria Federal. Confira momentos de uma carreira que ainda não chegou ao fim.
Foto: Getty Images/C. Koall
Primeiro juramento
"Eu quero servir a Alemanha". A promessa foi feita por Angela Merkel no dia 22 de novembro de 2005, quando tomou posse como chanceler. Depois da vitória apertada nas eleições gerais, ela se tornou a primeira mulher e a primeira alemã da antiga parte oriental a ocupar o cargo. Merkel se tornou a chefe de governo, comandado pela grande coalizão formada entre os partidos CDU, CSU e SPD.
Foto: picture-alliance/dpa/G. Bergmann
Quem tem medo do cão de Putin?
Merkel é conhecida por sempre ser racional e se manter calma. O presidente da Rússia, Vladimir Putin, quis aparentemente testar os nervos da chanceler quando a recebeu na residência presidencial em Sochi, em 2007. Putin conseguiu revelar o ponto fraco de Merkel: ela tem medo de cães. Isso não impediu que o presidente russo deixasse o labrador Koni farejar os sapatos da chanceler.
Foto: picture-alliance/dpa/D. Astakhov
Resgate financeiro
Em situações de crise, Merkel age com frieza. Quando os mercados financeiros entraram em colapso em 2008 e ameaçaram prejudicar a economia alemã, a chanceler se empenhou na proteção do euro e na criação de fundos de resgate para as economias mais fracas do bloco europeu. Ela se destacou como eficiente gestora de crises, mas não escapou de receber críticas de países como Grécia e Espanha.
Foto: picture-alliance/epa/H. Villalobos
Caminho para o segundo mandato
Apesar do pior desempenho da aliança conservadora na história, Merkel venceu as eleições de 27 de setembro de 2009. Depois de se aliar ao Partido Social-Democrata (SPD), a chanceler estava pronta para iniciar o segundo mandato ao lado de outro parceiro, o Partido Liberal Democrático (FDP).
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Resposta rápida
Merkel que, como física, é conhecida por pensar de forma objetiva, não previu a catástrofe nuclear de Fukushima, no Japão. Defensora da política nuclear na Alemanha, Merkel mudou de posição em tempo recorde. A extensão do prazo de funcionamento das usinas foi suspenso e a Alemanha iniciou o processo de colocar fim ao uso da energia nuclear.
Foto: Getty Images/G. Bergmann
O homem ao seu lado
Quem o reconheceria? Quem conhece sua voz? Há dez anos, o marido de Merkel, Joachim Sauer, professor de Química da Universidade Humboldt, em Berlim, se mantém discreto. Eles estão casados desde 1998.
Foto: picture alliance/Infophoto
Amizade em crise
As escutas de comunicações de políticos alemães por parte da Agência de Segurança Nacional (NSA), dos Estados Unidos, abalaram as relações da Alemanha com a Casa Branca. Até o celular de Merkel foi alvo de espionagem. Uma frase da chanceler ficou famosa: "Não é aceitável que países amigos espiem uns aos outros".
Foto: Reuters/F. Bensch
O paciente grego
O clube de fãs de Merkel é extenso, mas na Grécia é provavelmente menor. A hostilidade contra a chanceler alemã nunca foi tão grande como em 2014, no auge da crise da dívida grega. A imagem de velha inimiga ressurgiu, mas Merkel se manteve firme em relação à política de austeridade que previu cortes e reformas a serem cumpridos por Atenas.
Foto: picture-alliance/epa/S. Pantzartzi
Emotiva, às vezes
Tipicamente reservada, Merkel quebrou os protocolos durante a final da Copa do Mundo de 2014 no Rio de Janeiro. A chanceler federal alemã celebrou a vitória da Alemanha sobre a Argentina ao lado do presidente alemão, Joachim Gauck. Ela estava no auge de sua popularidade, assim como a seleção vitoriosa.
Foto: imago/Action Pictures
"Nós podemos fazer isso!"
Para Merkel, o direito de asilo a refugiados não pode ser limitado. "Nós podemos fazer isso" se tornou o credo da chanceler sobre a política alemã de acolhida aos migrantes que fogem de guerras e perseguições. Se o país dará conta da enorme demanda, isso já é uma pergunta ainda em aberto.
Foto: picture-alliance/dpa/S. Hoppe
"E agora, Merkel?"
Sexta-feira 13 – um massacre em novembro. A França está em situação de emergência e Merkel ofereceu "toda a assistência" ao país vizinho. O medo do terrorismo se espalha. Não há dúvidas de que esse é o maior desafio de Merkel em dez anos no poder.
Foto: picture-alliance/dpa/B. von Jutrczenka
Barulho na coalizão
Foi o castigo máximo para a chanceler federal. No congresso da CSU, em novembro de 2015, Horst Seehofer a repreendeu. O líder da legenda-irmã do partido de Merkel na Baviera criticou que a política migratória da chefe alemã de governo fez com que o país perdesse o controle de suas próprias fronteiras. Uma humilhação que Merkel teve que suportar de pé e sem oportunidade de resposta.
Foto: picture-alliance/AP Photo/S. Hoppe
Será que ele não poderia ficar?
Seria um alívio para Merkel continuar a lidar com Obama. Mas, no início, ela era bastante cética quanto a ele. O monitoramento do celular da chanceler federal, no contexto do escândalo de espionagem da NSA, parecia abonar a sua postura reservada. Mas, agora, um parceiro previsível sai de cena e dá lugar a Donald Trump. O jornal "New York Times" já a chama de "defensora do Ocidente liberal".
Foto: Reuters/F. Bensch
Merkel mais uma vez
Finalmente, após meses de intensas especulações em torno de sua candidatura à reeleição, Merkel confirma a sua intenção de concorrer a um quarto mandato. Durante entrevista coletiva em 20/11, ela diz à liderança de seu partido, a União Democrata Cristã (CDU), estar preparada para chefiar a legenda na eleição parlamentar alemã, prevista para setembro ou outubro de 2017.