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Merkel tenta mais uma vez salvar novo mandato

Jefferson Chase fc
13 de dezembro de 2017

Sob pressão três meses após eleição, chanceler alemã joga última cartada para evitar nova votação e continuar no poder. Desafio agora é convencer seus atuais parceiros de coalizão, os social-democratas.

Merkel (esq.), seu aliado bávaro Horst Seehofer e Martin Schulz durante as reuniões em Berlim
Merkel (esq.), seu aliado bávaro Horst Seehofer e Martin Schulz durante as reuniões em BerlimFoto: picture-alliance/dpa/K. Nietfeld

Angela Merkel iniciou nesta quarta-feira (13/12) mais uma tentativa de salvar seu próximo mandato como chanceler federal. Desta vez, ela busca convencer seus atuais parceiros de coalizão, os social-democratas, a abrirem negociações formais para seguirem governando com ela. Quase três meses após a eleição, a Alemanha ainda não tem um novo governo.

No poder há 12 anos, Merkel e seu partido, a União Democrata Cristã (CDU), estão enfraquecidos, após perderem terreno para os populistas de direita na eleição de setembro e depois do fracasso na negociação de uma tríplice aliança, com verdes e liberais, em novembro. Por isso, a chanceler deposita toda a sua esperança no SPD para evitar novas eleições.

O SPD, do ex-presidente do Parlamento Europeu Martin Schulz, prometeu ir para a oposição depois do revés na eleição – o partido obteve apenas 20% dos votos –  e só abrandou sua postura, concordando em se reunir com Merkel, devido à pressão do presidente alemão, Frank-Walter Steinmeier, um correligionário, que quer evitar que a Alemanha, pela primeira vez na história, tenha que voltar às urnas novamente.

"Certamente não foi uma boa ideia descartar tão cedo a entrada em outra grande coalizão", opina o cientista político Lothar Probst, da Universidade de Bremen. "Mas, naturalmente, o SPD ainda sente as dores de ter fechado duas grandes coalizões em nove anos, e muitos membros da base – e não só dela – sentem que outra representaria um prejuízo."

O especialista em negociações Wolfgang Bosch faz propaganda dele mesmo como alguém que auxilia pessoas a superar "sentimentos de desamparo diante de parceiros dominadores" – uma frase que poderia descrever com precisão os social-democratas neste momento. Ele dá alguns conselhos para Schulz e seus colegas de partido.

"Eu os encorajaria a começar as conversações sem muitas noções pré-concebidas e a se libertar de suas dúvidas após quatro anos de uma grande coalizão", comenta Bosch. "Eles deveriam começar a negociar com confiança e força interior, e dizer: 'Nós somos o SPD – e existimos há 150 anos'."

Segundo Bosch é preciso dissipar as dúvidas antes que as negociações comecem. Em particular, diz, parece que Schulz levou para o lado pessoal sua derrota para Merkel nas eleições de setembro. Se os dois não trabalharem em conjunto, não há chance de se alcançar uma grande coalizão. E, mesmo que o façam, qualquer acordo demandará muito tempo para ser fechado.

Uma distinção muito alemã

Uma faceta incomum das negociações de coalizão na Alemanha é a distinção clara que os políticos costumam fazer entre "sondagens" e "negociações formais". Em suma, é a maneira de partidos rivais facilitarem o caminho para negociações realmente árduas.

"Sempre que é difícil formar um governo, eles tentam antecipadamente sondar se têm o suficiente em comum antes mesmo de começar a negociar", explica Probst.

Espera-se que as sondagens durem, ao menos, até a primeira metade de janeiro. Se as partes chegarem a um acordo geral, haverá uma pequena pausa, na qual a base do SPD deverá autorizar o início das negociações formais. Se isso acontecer, espera-se que o compromisso seja alcançado, apesar de o acordo final de coalizão demorar até maio para ser formalizado.

Schulz tem se esforçado para sugerir que, nesta fase, os resultados das negociações estão "abertos" – o que significa que elas podem falhar. Esse foi o caso da primeira tentativa de Merkel de formar a chamada "coalizão Jamaica" – em alusão à semelhança entre as cores das legendas CDU, FDP e Verde, e a bandeira do país caribenho – em outubro e novembro.

Erros de negociação

Um dos objetivos das conversações atuais é evitar a repetição dos erros das anteriores. Merkel negociou três governos no passado, incluindo duas grandes coalizões com o SPD. Mas isso não impediu que as coisas não dessem certo para formar um novo governo desta vez. Bosch acredita que as negociações para formar uma "coalizão Jamaica" sofreram "erros básicos de negociação".

"Eles começaram com um grupo grande demais – 50 pessoas de quatro partidos, o que foi insensato", opina Bosch. "Isso não poderia funcionar. Se os grupos negociadores são muito grandes, especialmente quando pessoas ambiciosas, como políticos, estão envolvidas, alguém sempre se sente desfavorecido e tuíta algo que magoa as outras legendas."

Isso é o que essencialmente aconteceu em novembro, quando o líder do FDP, Christian Lindner, decidiu que não estava recebendo concessões suficientes e tirou rapidamente seu partido das negociações. Não havia nada que Merkel, apesar de sua conhecida flexibilidade na política, poderia fazer.

"Ou sou um mediador aberto aos interesses de todos os envolvidos, ou lidero uma equipe de negociação, mas não os dois", explica Bosch. "Talvez teria sido uma boa ideia chamar um especialista em negociações externas para mediador em algum momento das sondagens."

Juntos ou separados?

O objetivo atual de Merkel é alcançar compromissos com o SPD. Analistas identificaram três áreas principais de discórdia: o desejo do SPD de um seguro-saúde estatal obrigatório para todos, a visão de Schulz da União Europeia como "Estados Unidos da Europa" e a insistência de seu partido para que familiares de refugiados possam se juntar aos parentes na Alemanha.

Quando indagado sobre os potenciais pontos polêmicos, Probst destaca as questões de equidade social como o seguro-saúde. Na véspera das conversações de Schulz com Merkel, alguns partidários do SPD sugeriram a ideia de uma "coalizão de cooperação" limitada que abrange apenas certos objetivos comuns básicos, ao mesmo tempo em que permite espaço para desacordos em outros temas. Probst, porém, acredita que isso seria difícil de implementar.

"Merkel não quer isso", ressalta Probst. "Especialmente na situação atual com tantas crises na Europa, ela deseja um governo estável. A menos que haja grandes mudanças, ela não concordará com essa ideia – ou, pelo menos, vai combatê-la durante o maior tempo possível."

A boa notícia para os defensores de uma grande coalizão é que, embora existam diferenças, as legendas CDU/CSU e SPD mostraram que conseguiram trabalhar juntas no passado. Na verdade, eles continuam cooperando neste momento – são parceiros de coalizão e seguirão assim, interinamente, até que o novo governo seja formado.

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