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Merkel visita Chemnitz pela primeira vez desde tumultos

17 de novembro de 2018

Três meses depois de protestos xenófobos, chanceler federal da Alemanha se reúne com moradores da cidade e diz que esperou melhor momento para visita e, assim, evitar novas tensões.

Em Chemnitz, Merkel participou de debate com moradores da cidade
Em Chemnitz, Merkel participou de debate com moradores da cidadeFoto: Reuters/K. Nietfeld

A chanceler federal da Alemanha, Angela Merkel, visitou nesta sexta-feira (16/11) Chemnitz pela primeira vez desde que violentos protestos da extrema direita abalaram a cidade do leste alemão há três meses. Ao se reunir com moradores, a líder alemã defendeu sua política de refugiados e pediu que cidadãos se manifestem contra a xenofobia.

No final de agosto, protestos contra estrangeiros atraíram milhares de pessoas, sendo grande parte apoiadores do partido Alternativa para a Alemanha (AfD) e do movimento Pegida (sigla em alemão para "Patriotas europeus contra a islamização do Ocidente"), a Chemnitz após um cidadão alemão ter sido morto durante uma briga na cidade. Dois requerentes de refúgio são suspeitos do crime. 

O fato de suspeitos pelo crime serem estrangeiros acirrou os ânimos na cidade e teriam levado extremistas a perseguirem e atacarem pessoas que aparentavam ser estrangeiras durante os protestos. 

Merkel, que foi muito criticada por ter aguardado três meses antes de visitar a cidade, inclusive pela prefeita de Chemnitz, Barbara Ludwig, disse que não pretendia que a sua visita suscitasse novas tensões.

"A prefeita disse que minha visita veio tarde demais... Depois da primeira vez que conversamos, me perguntei quando seria o melhor momento para vir e pensei que o melhor era esperar que a situação se acalmasse um pouco", destacou a chanceler num encontro com leitores do jornal local Chemnitzer Neue Presse.

Durante o evento, que durou quase duas horas, Merkel respondeu a perguntas dos leitores, muitas delas sobre a crise dos refugiados e a política migratória. "Há pessoas que estão preocupadas porque talvez haja muitos refugiados. Mas há também pessoas que têm preconceitos contra aqueles que simplesmente parecem diferentes", destacou a chanceler e pediu que a população se manifeste contra a xenofobia.

Ao ser questionada se o governo cometeu erros na gestão da crise migratória, Merkel afirmou que estes ocorreram antes de 2015, quando chegaram à Alemanha cerca de 1 milhão de refugiados. "Os erros foram cometidos antes de 2015, quando não nos preocupamos o suficiente para que os refugiados tivessem uma vida digna em seus países", especificou.

Merkel foi confrontada também com sua declaração daquele ano, quando disse que a Alemanha resolveria o desafio que representava o fluxo migratório da mesma forma que solucionou tantas crises no passado.

"Que tipo de chanceler eu teria sido se tivesse dito que não poderíamos superar o desafio? Além disso, depois de dizê-lo, não fiquei de braços cruzados, mas comecei a trabalhar pelo acordo com a Turquia, pelo pacto com a África e em muitas outras coisas", respondeu Merkel.

Desde então, segundo Merkel, ocorreram progressos tanto na redução da imigração ilegal como na integração dos refugiados. A chanceler, porém, advertiu que jamais será possível eliminar totalmente a imigração irregular.

Merkel ressaltou ainda a importância da solidariedade europeia frente à questão dos refugiados e reiterou que não se pode abandonar os países que têm fronteiras exteriores. "Não podemos dizer que, como estamos no centro da Europa, o problema não é nosso, mas da Itália ou da Espanha, temos que ajudar".

Outro tema do debate de Merkel com o público, de cerca de 120 pessoas, foi o fato de que muitos habitantes no leste da Alemanha se sentem como cidadão de "segunda classe", apesar da melhoria de sua situação econômica, o que contribuiu para a ascensão da AfD nessa parte do país. A chanceler, também originária da Alemanha Oriental, pediu que eles tenham "orgulho" de sua origem. 

Em frente ao prédio onde ocorria o debate, cerca de cem pessoas se reuniram para protestar contra Merkel. No grupo, havia vários extremistas de direita. A chanceler foi questionada se também estaria disposta a dialogar com os manifestantes. "Estou disposta a falar com todos os que quiserem falar comigo. Mas, infelizmente, há manifestações em que não se trata de falar com alguém, mas de não deixar os outros falar", respondeu.

Além do debate, Merkel se reuniu em Chemnitz com representantes da sociedade civil, autoridades e religiosos e visitou uma escola de basquete para conversar com jovens descendentes de migrantes.

CN/dpa/efe/lusa/ap

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