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Metano, o outro vilão das mudanças climáticas

Joey Grostern
15 de setembro de 2021

Com grande parte das preocupações sobre o clima centradas na redução do dióxido de carbono, menos atenção é dada a um outro gás de efeito estufa mais potente. E boa parte dessas emissões estão ligadas à agricultura.

Foto mostra grandes tubulações. Ao fundo, um rio. Na outra margem, uma cidade.
Tubulações malconservadas e com furos são uma grande fonte de escape de metanoFoto: Maria Tuxen Hedegaard/Energinet

Há um motivo pelo qual o dióxido de carbono se tornou o grande vilão da crise climática, levando em conta a quantidade desse gás que lançamos na atmosfera.

No entanto, nós não paramos no CO2. Não, nós adicionamos metano à mistura tóxica.

Embora o gás, também conhecido como CH4, tenha se tornado quase sinônimo de flatulência bovina, é muito mais do que isso. E não é tão engraçado quanto um "pum" - ou um arroto, que são os maiores vilões fisiológicos.

Cientistas estimam que, embora o metano seja responsável por apenas 3% das emissões desde 1750, ele está relacionado a até 23% do aquecimento histórico. Em outras palavras, o material é potente. Realmente potente.

Assim, uma única tonelada de metano causa, aproximadamente, o aquecimento equivalente a pelo menos 28 toneladas de CO2 ao longo de um século. E, apenas nas últimas duas décadas, aumentamos nossa produção de metano em 10%.

Reduzir a quantidade desse gás que vai para atmosfera pode ser uma arma na luta contra o aquecimento global. Na verdade, poderia evitar 0,3 grau Celsius de aquecimento até 2040, de acordo com um relatório recente do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (Pnuma).

Gases emitidos por bovinos, sobretudo os arrotos, são uma grande fonte de metanoFoto: Dirk Sattler/imago images

Tarefa complicada

Então por que não reduzimos as emissões? Não é tão simples assim. O metano não é apenas o gás natural que abastece usinas de energia e aquece casas, mas também o material que flui de aterros sanitários, arrozais, intestinos de ruminantes, pântanos e, em alguns casos, reservatórios hidrelétricos supostamente "verdes".

Ao todo, o mundo emite 570 milhões de toneladas de CH4 por ano. Nós, humanos, somos responsáveis ​​por 60% disso, com a medalha de ouro indo para a agricultura. O setor agrícola causa a mesma quantidade de aquecimento que 788 milhões de carros, o que representada mais da metade da frota mundial de 1,4 bilhão.

A prata vai para a indústria de combustíveis fósseis – e o setor de resíduos arrebata o bronze.

Indústria de combustíveis fósseis é uma das que mais libera gás metanoFoto: Costin Dinca/AFP/Getty Images

A infraestrutura de combustíveis fósseis é uma fonte importante e evitável de metano. Tubos de gás danificados e malconservados vazam o gás através de orifícios e remendos, levando ao que é comumente chamado de "emissões fugitivas". Se essa infraestrutura fosse mais bem conservada, o equivalente o lançamento de 1,83 bilhão de toneladas de CO2 poderia ser evitado. E mais: o gás natural economizado com o conserto dos vazamentos mais do que pagaria por essas adequações.

Maior dificuldade em ocultar falhas

As melhorias na infraestrutura que podem reduzir os vazamentos e rastreá-los estão se tornando mais fáceis graças às imagens de satélite que os detectam, tornando mais complicado para as empresas de combustíveis fósseis ocultar ou negar falhas em seus sistemas.

E, da mesma forma, a recuperação de metano incinerável de resíduos poderia ser incentivada financeiramente. Projetos de gás de aterro sanitário em todo o mundo já estão capturando metano para ser utilizado na queima para geração de energia. Nos EUA, 70% desses gases de aterro geram eletricidade.

Mas isso não é o ideal, pois produz dióxido de carbono, que, como já sabemos, é o grande vilão da crise climática.

Nos EUA, um poço coleta metano de resíduos em decomposição em um aterro sanitári, enquanto uma escavadeira nivela o lixoFoto: imagebroker/picture alliance

Alternativas para diminuir emissões

Embora possamos consertar tubulações danificadas, não podemos exatamente recondicionar o gado das fazendas, o que torna a redução da pegada de metano animal um pouco mais complicada.

Podemos reduzir o problema mudando com o que alimentamos o gado. Algo chamado FutureFeed, por exemplo, ajuda na redução do metano: é uma ração para gado que contém 3% de algas australianas, que comprovadamente reduzem as emissões em 80%. Apenas um pouco de verduras na dieta reduz os arrotos das vacas. Nada mal.

Uma opção mais fácil seria mudar o que nós comemos. Menos carne e laticínios equivalem a menos animais, que por sua vez representam menos gases sendo expelidos para a atmosfera. Cortar carne pode não ser a resposta para tudo, mas resolve alguns problemas.

Há, porém, outra questão: o permafrost, ou pergelissolo.

O que é pergelissolo

À medida que o Ártico aquece, áreas da Terra que ficaram congeladas durante muitos milênios estão começando a derreter. E, enquanto isso acontece, são revelados não apenas corpos de espécies de grandes felinos extintas há muito tempo, como também milhares de anos de metano e CO2.

Degelo do permafrost pode aumentar as emissões de metano não humano em 80%Foto: Thomas Opel

Parte dessa antiga paisagem de gelo, então, se transforma em novos pântanos, que liberam metano na atmosfera, ajudando a aumentar as temperaturas.

O degelo do pergelissolo pode aumentar as emissões de metano não humano em 80%. E isso, por sua vez, aumenta a probabilidade de secas, incêndios, inundações e outros eventos climáticos extremos em todo o mundo.

E onde estamos?

Em uma lacuna entre o que é necessário e o que realmente está sendo feito. O último relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, na sigla em inglês) revelou a rapidez com que precisamos cortar as emissões globais de gases de efeito estufa antes que as coisas piorem.

Embora seja impossível eliminar completamente as emissões de metano causadas pelo homem, cortá-las, ainda que um pouco, pode gerar tempo suficiente para desenvolver tecnologias verdes, como aviões e navios de baixo consumo de carbono.

Além do mais, o metano emitido no nível do solo forma ozônio, que pode prejudicar a saúde respiratória. De acordo com o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEP, na sigla em inglês), reduzir a produção de CH4 em 45% poderia prevenir 255.000 mortes prematuras por ano.

Como muitas questões climáticas e ambientais, os formuladores de políticas públicas são os únicos com o poder de implementar mudanças significativas e duradouras. Mas nós, como indivíduos, podemos dar nossa contribuição (gostemos ou não), cortando hambúrgueres e óleo de palma (no Brasil também conhecido como azeite de dendê) e voando menos, por exemplo.

Dar o nosso dinheiro às indústrias que poluem transmite a elas um "selo de aprovação” para continuarem com seus negócios normalmente. Mas isso, como já vimos, é o que o planeta não precisa.

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