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PolíticaMéxico

Mexicanos votam se querem que López Obrador conclua mandato

10 de abril de 2022

Presidente do México foi idealizador do primeiro referendo do tipo no país, que serve de teste de força para avançar em sua agenda. Oposição critica iniciativa e vê desperdício de verbas e manobra para tentar reeleição.

López Obrador mostra carteira de identidade
Como prometido, López Obrador anulou seu voto escrevendo "Vida longa a Zapata!" em sua cédulaFoto: Eduardo Verdugo/AP Photo/picture alliance

Os mexicanos puderam ir às urnas neste domingo (10/04) votar se o presidente Andrés Manuel López Obrador deveria permanecer no cargo, em um referendo inédito na história do país.

O presidente argumentou que o referendo, também conhecido como recall, seria vital para confirmar seu mandato democrático, mas a oposição viu o processo como uma dispendiosa distração dos problemas reais do país.

López Obrador, um esquerdista que governa o país desde dezembro de 2018, é o idealizador do primeiro recall no México, e tanto seus críticos quanto apoiadores esperam que ele vença facilmente.

O referendo alimentou a especulação de que poderia abrir a porta para a prorrogação dos limites do mandato presidencial, em um país onde o chefe de Estado é autorizado a servir apenas um único período de seis anos.

López Obrador nega querer prolongar seu mandato, mas usou o referendo para incendiar seus apoiadores e tentar atingir a oposição, da qual muitos líderes encorajaram os mexicanos a ignorar a votação, sob o argumento de que o processo seria um exercício de propaganda para o presidente.

Referendo como teste de força do presidente

As pesquisas de opinião sugerem que o comparecimento às urnas provavelmente ficará abaixo do limite de 40% necessário para tornar o resultado vinculante, embora López Obrador tenha dito que respeitará o resultado independentemente disso. Os resultados começarão a ser divulgados às 20h locais (3h do Brasil).

"A democracia tem que se tornar um hábito no México", afirmou o presidente a uma multidão depois que ele deixou a cabine de votação, "para que ninguém se esqueça que o povo é quem governa".

Como prometido, ele anulou seu voto escrevendo "Vida longa a Zapata!" em sua cédula, em homenagem ao herói revolucionário mexicano. Ele havia dito que não votaria em si mesmo, mas que era importante participar do processo.

O plebiscito também é um teste da força do presidente antes das eleições governamentais de junho. López Obrador não tem conseguido cumprir as promessas de campanha para reduzir a criminalidade e erguer a economia, e deixou investidores apreensivos ao tentar renegociar contratos assinados por governos passados e apertar o controle estatal sobre recursos naturais e energéticos.

Mas o lançamento bem-sucedido de programas de bem-estar social e seu esforço diário em apresentar uma narrativa política na qual ele é um defensor moralmente correto dos pobres contra uma elite rica e corrupta tem ajudado a fortalecer sua popularidade.

Muitos mexicanos consideram López Obrador como uma alternativa bem-vinda em relação aos líderes anteriores, muitas vezes vistos como distantes da população em geral, em uma sociedade que permanece altamente desigual.

"Quero que o presidente continue no poder", disse a dona de casa Guillermina Gomez, de 60 anos, após deixar uma cabine de votação no estado central de Tlaxcala.

Ela disse que os programas de bem-estar social permitiram que seus netos se matriculassem no ensino médio, algo que tinha sido impossível para seus próprios filhos devido à escassa renda de sua casa. "Graças a ele, recebemos benefícios que ninguém mais nos deu", afirmou.

Em pesquisa, dois terços apoiaram continuidade do mandato

Com um custo de milhões de dólares e muito divulgado na capital, o referendo perguntou aos mexicanos se o mandato de López Obrador deve ser revogado "devido à perda de confiança", ou se ele deve concluir seu mandato, como previsto, em 30 de setembro de 2024.

Dois terços dos mexicanos entrevistados em uma pesquisa realizada pelo jornal El Financiero no início deste mês disseram que queriam que o presidente permanecesse no cargo. Um terço queria que ele saísse do cargo.

"Quero que o presidente conclua seu governo", disse Andrea Miranda, uma padeira da Cidade do México que votou em López Obrador em 2018. "É a primeira vez que temos a oportunidade de decidir sobre isso. Você tem que tirar proveito disso."

Já Laura Gonzales, uma professora aposentada, considerou o referendo "um exercício inútil, dinheiro jogado fora".

López Obrador usou referendos para aplicar políticas controversas, e provocou o cancelamento da obra de um aeroporto parcialmente construído na Cidade do México antes mesmo de tomar posse, com uma votação na qual apenas uma pequena fração da população participou.

Ele foi eleito com uma larga vantagem em 2018, quando recebeu mais de 30 milhões de votos, a maior de toda a história mexicana. Quanto mais perto o comparecimento ao referendo estiver desse número, mais bem-sucedido ele será considerado, afirmam analistas. Cerca de 93 milhões de mexicanos estavam aptos a votar neste domingo.

bl (Reuters, AFP)

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