MG determina suspensão de atividades da Vale em Brumadinho
26 de janeiro de 2019
Justiça mineira também bloqueia contas bancárias da Vale, responsabilizando-a pelo rompimento da barragem da Mina Córrego do Feijão, com mortos e mais de 300 desaparecidos.
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A Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável de Minas Gerais determinou a suspensão imediata de todas as atividades da mineradora Vale na região de Brumadinho, onde uma barragem se rompeu no início da tarde da sexta-feira (25/01).
Por meio de nota, o órgão informou ter também determinado a abertura imediata de um canal onde houve acúmulo de sedimentos que interrompem o fluxo natural do curso d'água. De acordo com o comunicado, foi determinado ainda o rebaixamento do nível do reservatório da barragem VI, que transbordou após o rompimento da barragem B1.
Segundo o portal Notícias.UOL, o Tribunal de Justiça de MG bloqueou 1 bilhão de reais das contas bancárias da Vale, responsabilizando-a pela tragédia da Mina Córrego do Feijão. A decisão determina, ainda, que a mineradora apresente relatório de amparo às vítimas. Já o Ibama aplicou uma multa à mineradora Vale no valor de 250 milhões de reais pelo rompimento da barragem, segundo o jornal Folha de S.Paulo.
Pelo menos nove pessoas morreram no desastre, e entre 300 e 350 estão desaparecidas, segundo o Corpo de Bombeiros.
Outra medida estabelecida pela Secretaria do Meio Ambiente de MG foi o monitoramento da qualidade da água no Rio Paraopeba, que abastece a região. Também haverá monitoramento, em tempo integral, das estruturas remanescentes da barragem, com comunicação imediata ao centro de comando e equipes que estiverem em campo.
A secretaria informou que a barragem B1 começou a operar em meados dos anos 70 e estava licenciada. Desde 2015, o local não recebia mais rejeitos. De acordo com o governo estadual, a Vale solicitou licença ambiental para desativar a estrutura e o documento foi aprovado pelo Conselho Estadual de Política Ambiental em dezembro de 2018, "seguindo todos ritos e procedimentos vigentes".
"O órgão não autorizou a disposição de rejeitos, mas a retirada de todo material depositado e posterior recuperação ambiental da área", destacou o comunicado. O volume de material disposto na barragem B1 era de aproximadamente 12 milhões de metros cúbicos de rejeito de minério de ferro.
A estrutura da barragem tinha área total de aproximadamente 27 hectares e 87 metros de altura. A competência para fiscalizar a segurança das barragens de mineração é da Agência Nacional de Mineração (ANM), conforme estabelecido na Política Nacional de Segurança de Barragens. Ainda segundo a legislação, a responsabilidade pela operação adequada desse tipo de estrutura é do empreendedor.
Em nota, a ANM informou que a barragem B1 era uma estrutura destinada à contenção de rejeitos, de porte médio e que não apresentava pendências documentais. Em termos de segurança operacional, o local estava classificado na categoria de risco baixo e de dano potencial associado alto – em função de perdas de vidas humanas e dos impactos econômicos sociais e ambientais.
Bolsonaro sobrevoa local do desastre
O presidente Jair Bolsonaro sobrevoou de helicóptero neste sábado a área atingida pelo rompimento da barragem da mineradora Vale e afirmou que o governo "cobrará justiça" diante da tragédia.
"Difícil ficar diante de todo esse cenário e não se emocionar. Faremos o que estiver ao nosso alcance para atender as vítimas, minimizar danos, apurar os fatos, cobrar justiça e prevenir novas tragédias como a de Mariana e Brumadinho, para o bem dos brasileiros e do meio ambiente", escreveu Bolsonaro no Twitter.
AV/JPS/ab/efe/ots
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Reconstrução de áreas atingidas por resíduos de mineração da Samarco após desastre ambiental mostra que ainda há muitos rejeitos no solo. Projetos incluem restabelecer comunidades, restauro e recuperação da natureza.
Foto: DW/N. Pontes
Como a lama deixou
Três anos depois da onda de rejeitos ter atingido o distrito de Paracatu de Baixo, a 35km do centro de Mariana, o que restou das construções continua com a marca da lama. Por ordem do Ministério Público, nada pode ser demolido. A comunidade decidirá o futuro do local. O projeto para o novo assentamento, que será construído num terreno a 3km da Paracatu original, foi aprovado pelos moradores.
Foto: DW/N. Pontes
Convivência diária com a tragédia
A casa que Roberto de Paula, 62 anos, construía em Paracatu de Baixo foi completamente destruída pelos rejeitos. O ajudante de caminhão passa os dias na casa do irmão, uma das poucas poupadas na catástrofe. Cadastrado como um dos atingidos, ele recebe auxílio da Samarco pela Fundação Renova, que aluga uma moradia temporária no centro de Mariana. 140 famílias de Paracatu de Baixo vivem o mesmo.
Foto: DW/N. Pontes
Novo Bento em construção
Desde que as obras do Novo Bento começaram, em agosto de 2018, seu Zezinho, como o líder comunitário é conhecido, visita o local diariamente. O reassentamento vai abrigar as 240 famílias que perderam tudo quando o distrito de Bento Rodrigues foi varrido do mapa pela lama. O terreno tem 375 hectares e fica 8km do centro de Mariana. A entrega do "Novo Bento" deve ocorrer até agosto de 2020.
Foto: DW/N. Pontes
Restauro detalhado
A Reserva Técnica, em Mariana, abriga 2352 peças salvas do desastre. Os objetos representam a memória histórica, cultural e artística das comunidades. Estavam nas capelas de São Bento e Nossa Senhora das Mercês (Bento Rodrigues), Santo Antônio (Paracatu de Baixo) e Nossa Senhora da Conceição (Gesteira, Barra Longa). O trabalho usa técnicas da arqueologia e é um dos 42 programas da Fundação Renova.
Foto: DW/N. Pontes
Alarmes em Gualaxo do Norte
Depois do colapso de Fundão, a onda de rejeitos percorreu 77km, passando por cursos como o do rio Gualaxo do Norte (foto) até alcançar o Doce. A água da chuva que cai no terreno carrega os rejeitos do ambiente para o rio, que muda de cor. Depois do desastre, 22 estações automáticas foram instaladas e enviam dados sobre a qualidade da água a cada hora. Alarmes também operam para nova emergência.
Foto: DW/N. Pontes
Limpando a lama
Aprovado há um ano, o Plano de Manejo de Rejeitos foi dividido em 17 trechos. Para o trecho 8 (foto), há duas propostas: remoção do rejeito por dragagem e tratamento da água, explica Pedro Ivo, engenheiro da Fundação Renova. Obras emergenciais nas margens tentam impedir que os resíduos que ficaram no solo cheguem ao rio. Há pontos do Gualaxo do Norte que acumulam até 3m de rejeitos no fundo.
Foto: DW/N. Pontes
Plantando sobre os rejeitos
No trecho 8, que inclui uma parte do terreno da Samarco, há um projeto-piloto de plantio sobre o rejeito. Sebastião Venâncio Martins, professor da Universidade Federal de Viçosa, mostra uma muda de ingá. O plantio requer covas de 40cm de profundidade, que acolhem a planta e um hidrogel, que acumula água e nutrientes. A floresta ao redor foi fundamental para as mudas vencerem os rejeitos no solo.
Foto: DW/N. Pontes
Pesca proibida
Arlei, de 45 anos, vive de favor num barco atracado em Aracruz (Espírito Santo) há alguns meses. A pesca até 20m de profundidade entre Barra Do Riacho (Aracruz) e Degredo (Linhares) segue proibida. Segundo Arlei, havia fartura de camarões na área. A Fundação Renova afirma que cadastrou, até agora, 7 mil famílias de pescadores e estuda meios para incluir pescadores sem registro profissional.
Foto: DW/N. Pontes
Monitoramento da vida marinha
O projeto de monitoramento da biodiversidade marinha começa a ser implantado próximo do terceiro aniversário da tragédia. Segundo Bruno Pimenta, coordenador responsável pela Fundação Renova, 24 instituições de pesquisa trabalharão integradas em projetos que vão monitorar desde a qualidade do pescado à população de baleias. A expectativa é que os primeiros resultados sejam divulgados em 2019.